O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entregou nesta quinta-feira (31) o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia 2018 a estudantes e pesquisadores dos países-membros ou associados ao bloco (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela). Esta edição recebeu 175 trabalhos de candidatos de noves países, e os vencedores foram do Brasil, do Uruguai e da Argentina, com estudos ligados à Indústria 4.0.
Um dos premiados foi o brasileiro Marcelo Zuffo, para quem o país precisa “sair da torre de marfim” e desenvolver ideias que “conversem” com as necessidades da sociedade.
“A ciência só tem valor se ela impacta a sociedade, em qualquer nível. Queremos revelar a possibilidade de fazer tecnologia localmente, gerando emprego, renda e riqueza”, disse Zuffo. Junto com uma equipe de pesquisadores na Universidade de São Paulo (USP), ele tem desenvolvido computadores de placa única utilizando software e hardware livres. Ou seja, tecnologias abertas à reprodução e distribuição.
“Se o Produto Interno Bruto da Internet das Coisas, este ano, é US$ 1 trilhão, a América Latina tem que ter um quinhão nessa parte. Como não temos no Brasil grandes empresas de tecnologia nesse setor, a única estratégia são tecnologias abertas e livres. É o que estamos fazendo”, afirmou o pesquisador.
O programa de Zuffo e sua equipe, batizado de Caninos Loucos, trabalha com a criação de três computadores, e o maior é um supercomputador. “É uma plataforma com 512 núcleos de processamento, 512 gigabytes de disco e 2 terabytes de disco rígido para aplicações em inteligência artificial. E tudo com tecnologias abertas”, explicou.
Segundo Zuffo, a meta é fabricar esses computadores, distribui-los e permitir a reprodução da tecnologia. O projeto teve apoio de empresas e também arrecadou verba por meio de campanhas de financiamento coletivo. O prêmio de US$ 10 mil recebido hoje será usado para financiar a produção de mais computadores.
“Muitos celulares usam software livre. Usam Android, e a Android tem o Kernel Linux. Foi assim que a indústria viabilizou esse tipo de plataforma. Se a gente quer viabilizar Internet das Coisas, a Indústria 4.0 nessa região do mundo, nós temos que apostar em tecnologias abertas”, enfatizou.
Integração com empresas
Outro premiado foi Thiago Ramires, que apresentou um projeto de aplicabilidade imediata. Ele desenvolveu um modelo de análise de plantações de cana-de-açúcar para identificar onde há ervas daninhas e, com isso, evitar a aplicação de herbicidas em cima da lavoura. O modelo desenvolvido por Ramires é baseado no mapeamento da plantação com o uso de um drone, que tira várias fotos. Com o uso de inteligência artificial, foi possível identificar os pontos exatos onde há erva daninha.
“Assim, conseguimos adaptar o drone para fazer pulverização local. Em vez de pulverizar o campo inteiro, [o drone] vai localmente, onde existe a invasão de erva daninha. E erva daninha você não consome. Então, o resto fica limpo, além de reduzir muito o custo”, explicou o ganhador do Prêmio Jovem Pesquisador.
A pesquisa de Ramires teve apoio da Raízen, uma gigante da produção de etanol, açúcar, combustíveis e bioenergia. A empresa já está aplicando em suas plantações o modelo desenvolvido por Ramires. Para ele, a pesquisa no Brasil ainda carece de integração entre empresas e pesquisadores.
“Essa pesquisa só foi possível porque uma empresa veio nos procurar. Então, a parte de financiamento ela custeou, e ela obteve o retorno do custo da pesquisa”, disse.
“O ponto chave é a integração. [Para iniciar uma] pesquisa você precisa de ter um problema. O problema quem tem é a empresa. A empresa leva a pesquisa para a universidade, a universidade resolve e, nessa troca, a gente pode até obter financiamento da própria empresa, em vez de pegar uma bolsa [de pesquisa], porque a própria empresa vai se beneficiar com isso”, completou.
Agência Brasil