Porto Alegre, terça, 23 de abril de 2024
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OPINIÃO: POLEMISMO E SENSACIONALISMO NÃO RIMAM COM JORNALISMO; POR LUIZ ARTUR FERRARETTO*

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O título pode parecer equivocado. Afinal, por terminarem em “-ismo”, as três palavras formam o que se conhece como rima. Fique claro: rima pobre. Não precisa ter cursado Letras para saber disso. O polemismo e o sensacionalismo empobrecem o jornalismo não apenas na combinação em versos mal escritos. De fato, não têm relação com o que se pode considerar, baseado na ética ou na técnica da profissão, como jornalismo. Adequadamente construídas, notícias ou opiniões a respeito de um fato podem gerar polêmica ou causar sensação. No entanto, tais reações não devem ser o objetivo em si do jornalismo.

 

Em tempos de redes sociais, o polemismo busca cliques. Nas emissoras de rádio, por exemplo, seus adeptos brigam entre si, destratam o público e se sentem consagrados quando as fontes respondem a essas provocações. Pela infantilidade da prática, tudo fica reduzido a brigas típicas de escolares com desempenho péssimo dentro da sala de aula, mas cheios de valentia quando chegam ao pátio do colégio. Já o sensacionalismo reduz o ato de informar à fofoca – enveredando pela calúnia, difamação ou injúria – ou ao populismo – momento no qual o comunicador aparece como uma espécie de herói dos pobres e oprimidos, iludidos no processo.

 

 

Tais práticas geram audiência momentânea entre os que se deixam seduzir pela superficialidade. Lembram a onda de brindes, prática corrente nos grandes jornais nas décadas de 1990 e 2000. Nem fascículos, nem panelas salvaram essas publicações da crise atual. Quem salva o jornalismo é o investimento em jornalismo. Polemismo e sensacionalismo são paliativos populistas. Sem resguardo ético ou técnico, sobrevivem no centro de uma bolha. Chega um dia e – Ploft! – a bolha estoura.

 

 

Polemismo e sensacionalismo não podem ser considerados como estratégias válidas por quem é, na realidade, um bom jornalista. Há uma pergunta que, portanto, precisa ser respondida. Onde existe respaldo ético ou técnico para tais condutas? Não existe. Pelo menos, nos códigos em vigor nas democracias e nos conteúdos ensinados por professores sérios em cursos igualmente sérios e academicamente reconhecidos como tal.

 

 

Luiz Artur Ferraretto*Luiz Artur Ferraretto, Jornalista, Doutor em Comunicação e Professor da UFRGS