Sempre me causou estranheza o fato de os jornais raramente falarem sobre jornalismo. Quase todos assuntos são contemplados – dos mais relevantes aos mais fúteis, dos que merecem um tratamento profundo aos mais apressados – porém quase nunca o que acontece nas redações é tema de interesse público.
Confesso não saber onde esta decisão esbarra: se numa ordem não escrita (tampouco assumida) por parte dos patrões ou se na eterna mania do jornalista de se auto-desmerecer, um complexo de vira-lata que faz com que o profissional não se ache digno de virar pauta. Arriscando um palpite acredito ser uma combinação não assumida das duas hipóteses.
Também sempre achei que seria melhor para todos – jornalistas e leitores – se o que acontece no ambiente das redações fosse mais conhecido. Fiquei sabendo que ocorreu há pouco nova demissão em massa (os famosos “passaralhos”) – um capítulo maior do que já havia sendo feito em conta-gotas – que afeta a vida de centenas de pessoas (algumas nem ligadas ao jornalismo) e que sequer mereceu uma linha nos jornais.
Há ainda o caso mais curioso de colunistas, comentaristas – ou seja, estrelas da profissão e das empresas – que de uma hora para outra somem das páginas sem a necessária explicação.
O jornalismo atual é viver nessa selva. Uma vida com paixões e discussões, com conquistas e derrotas (pessoais e profissionais), com grandes gestos mas também com o que há de mais mesquinho no ser humano. Ou seja, com todos ingredientes que fazem parte de uma grande reportagem e que mostram como jornalistas às vezes também podem ser notícia.
Porém, a dor da gente não sai do jornal.
*Márcio Pinheiro, jornalista, escritor e publisher do AmaJazz