Porto Alegre, domingo, 29 de setembro de 2024
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A, E, I, O, U... Obrigado, Professora Lola !!

Detalhes Notícia

 

A última vez que conversamos demoradamente foi no dia que lhe entreguei o convite para minha formatura. Lá se vão quase trinta anos, ela abriu um sorrisão e falou de quanto estava contente com a minha formatura. Disse que me ouvia na Rádio Gaúcha e se  sentia orgulhosa que mais um dos seus alunos se formasse. Com o sorriso característico falou da alegria de ter sido lembrada – como esquecer, quem me alfabetizou ? -, e seguiu desfiando lembranças do menino, filho da Ilda e do Romeu, que já falava alto e forte no primeiro ano do Grupo Escolar Visconde Mauá, em Butiá.

Acredito que ela recordou de toda turma, perguntou se eu sabia por onde andavam e falou de um modo cativante da saudade de ser professora. Enquanto ela falava lembro de ter viajado no tempo até aquele março de 1971. Minha mãe me arrumando para meu primeiro dia de aula: Guarda-pó branco, bermudas e meias. saímos de casa, percorremos os cerca de 250 metros até a Escola, me deparei com a escada que parecia tão grande – voltei lá adulto, não era tanto assim -, entramos no saguão, dobramos à esquerda no corredor e chegamos na sala. Fomos apresentados à professora, “juramos nos comportar”, as mães foram convidadas a se retirar, porta fechada e imediatamente lembro de ouvir vários colegas chorando. A porta foi reaberta, mães entraram acalmaram meus colegas, se despediram e mais uma vez o “cordão umbilical” foi cortado.

Ela não era nossa mãe e nem nossa “tia”, mas tínhamos acordado que ela era nossa responsável a partir dali e imediatamente uma relação de confiança e respeito se estabeleceu. Lembro que ao convida-la para a formatura, o olho  brilhava e me fazia lembrar desse primeiro dia que a vi em frente a uma lousa com um giz na mão, “A, E, I, O, U… Esse é o L juntando com as outras letrinhas formamos Lá, Lé, Li…”.  Voz alta, atenta, sabedora de seus deveres para nossa formação como cidadãos. Pronta para compartilhar seus conhecimentos e multiplicar os nossos. Ela tinha a consciência do significado daquela primeiro dia para todos nós e da responsabilidade de nos guiar por um novo e desafiador mundo, o do conhecimento.

Contou histórias engraçadas e outras nem tanto. Falou da tristeza da perda de contato com a maioria dos alunos, da tristeza ao tomar conhecimento da morte de ex-colegas de magistério e alunos que passaram pela sua sala de aula e da felicidade de ser informada do que acontecia de bom com seus pequenos. Dos que se formavam em cursos superiores ou casavam, tinham filhos e  formavam famílias. Humildemente revelou que também aprendia com nossas dúvidas, curiosidades e inquietações.

A cada 15 de outubro recordei dela e de tantas outras professoras e professores que foram importantes na minha formação. Como escrevi em minhas redes sociais há alguns dias, lamento não ter fotos deles para postar e agradecer. De qualquer forma, mesmo que tenhamos nos encontrado muito pouco nos últimos anos, todas vezes que estivemos frente a frente, ela me ouviu dizer obrigado.

Descansa em paz professora Lola… Gratidão eterna !!!