Porto Alegre, quinta, 18 de abril de 2024
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Memorabília: Eartha Kitt, Mulher-Gato ou segundo a Orson Welles a 'mulher mais excitante do mundo'; por Márcio Pinheiro*.

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Das três atrizes que encarnaram a Mulher-Gato em Batman (as outras duas eram Lee Meriwether e Julie Newmar), Eartha Kitt era a mais versátil, de carreira mais sólida e relevante. Era ainda de uma beleza estonteante, uma explosão de charme e sensualidade, a “mulher mais excitante do mundo”, como definiu Orson Welles.
Os dois haviam trabalhado juntos em 1950, num dos primeiros papéis de fôlego da menina nascida em janeiro de 1927 numa plantação de algodão,na Carolina do Sul, que nunca soube direito quem eram os pais – a versão mais aceita é a de que Eartha seria filha de uma negra que havia sido estuprada por um branco, filho do fazendeiro dono da casa onde ela vivia.
A carreira artística começou no início dos anos 40, com Eartha já morando em Nova York e se apresentando como cantora e dançarina em cabarés e casas noturnas. Em 1950, ela ficaria próxima de Orson Welles, com quem trabalharia em montagens teatrais, e, logo a seguir, chegaria ao cinema com o musical St. Louis Blues, ao lado de Ella Fitzgerald, Mahalia Jackson e Nat King Cole.
Nos anos 60, Eartha teria destaque também por seu engajamento político, militando ao lado de ativistas negros e de críticos à guerra do Vietnã. Sua posição radical entraria em choque com os diretores dos estúdios e, durante um bom tempo, ela ficou sem atuar. A chance de aparecer em Batman – ao lado de outros nomes consagrados como Cesar Romero, Burgess Meredith e Victor Buono – deu novo impulso a sua carreira. E ela também deu uma nova dimensão à Mulher-Gato, fazendo do personagem alguém mais agressivo e sensual.
Sobre algumas polêmicas surgidas na época envolvendo questões racistas, Eartha não deixou que a discussão fosse adiante. “Nunca ouvi nada a respeito. Cheguei ao estúdio e me deram o papel. Afinal de contas, uma gata não tem raça, religião ou cor”, disse ela numa entrevista.
A partir da década seguinte, Eartha manteria intensa atividade artística, trabalhando em peças, musicais, shows, filmes e telefilmes, diminuindo o ritmo apenas no começo deste século. Já com alguns sinais de doença, Eartha se retirou dos palcos, mudando-se para uma fazenda no interior de Connecticut. Manteria até o fim da vida o engajamento em causas políticas e humanitárias. Morreu, vítima de câncer no cólon, no Natal de 2008, aos 81 anos.
*Márcio Pinheiro, jornalista, escritor,  publisher do AmaJazz e pai da Lina.