Porto Alegre, quarta, 24 de abril de 2024
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A Voz do Piratini: Christian Jung, mestre de cerimônias do Palácio; por Stéfani Fontanive/Palácio Piratini

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Christian como mestre de cerimônias.

 

 

Os eventos realizados na sede do Executivo e a abertura e o encerramento do podcast Palácio Piratini: 100 anos de história têm algo em comum: uma voz. Ela apresenta o cerimonial do governo, mas também narra os ambientes do Palácio e avisa quando algo novo aparece nas redes sociais do Piratini. É forte, potente e única. E por trás dessa voz há um homem: Christian Jung, mestre de cerimônias do Palácio e locutor de grande parte dos conteúdos produzidos pelas redes sociais do Piratini.

A comunicação e o uso profissional da voz fazem parte da história familiar de Jung. Nascido e criado em Porto Alegre, no bairro Menino Deus, segue morando na casa de sua infância. Sua relação com a locução vem do berço: seu pai, Milton Ferretti Jung, foi um importante radialista e locutor. Trabalhou durante anos na rádio Guaíba, onde ficou conhecido como “a voz do Rio Grande”. “O ambiente dos estúdios, do microfone, era comum. Eu praticamente vivi minha infância na rádio Guaíba”, conta o mestre de cerimônias.

Seu pai era jornalista e seu irmão, Milton Ferretti Jung Júnior, também. Christian seguiu na comunicação, mas rumou para outro lado. Graduou-se em Publicidade e Propaganda na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Diz que sempre foi muito criativo, por isso decidiu pela publicidade. Na faculdade, sua voz já era reconhecida e fazia gravações publicitárias para seus colegas de graduação, mas não de forma profissional. Após a graduação, fundou e trabalhou em uma gráfica, atendendo a empresas de publicidade.

Quinze anos depois, estava cansado de trabalhar nas madrugadas e, ao mesmo tempo, as gráficas expressas se expandiam no mercado. Então decidiu trocar de carreira e investir em sua voz. Fez o curso de formação para locutores e obteve registro no Ministério do Trabalho. Por ter seu pai e seu irmão como referências, entende que isso pode ter ajudado, mas também prejudicado. “É bom porque abre algumas portas, mas, por outro lado, gera comparativos”, aponta.

“O avesso do que deveria ser a história”

Em 1999, surgiu a oportunidade de participar da seleção para uma área até então desconhecida para ele: cerimonial. Uma amiga comentou com Christian que o Piratini estava realizando testes para o cargo de mestre de cerimônias. Nunca havia trabalhado no ramo, mas tinha um fator que o destacava: a voz. Fez a entrevista e os representantes do governo gostaram dele. “Foi muito natural para mim a questão da locução e, evidentemente, fui me adaptando às outras questões do protocolo”, explica. Mas ele também viveu “o avesso do que deveria ser na história”: já iniciou trabalhando com a maior autoridade do Estado, enquanto o roteiro cotidiano do trabalho no cerimonial é iniciar em entidades particulares, passar por secretarias até chegar ao governo.

Ao ser contratado, começou a frequentar solenidades para entender o seu funcionamento. Em uma dessas visitas, teve seu batismo de fogo em um evento do Conselho de Desenvolvimento e Integração do Sul (Codesul), que engloba Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Após um dia inteiro de conversas e decisões, era divulgada a Carta de Porto Alegre, o documento oficial da reunião. Um dos responsáveis pelo evento deu a carta para Christian ler, até que um dos governadores perguntou se precisavam ouvi-la, considerando que trataram dela o dia inteiro. O então governador gaúcho, Olívio Dutra, disse: “É, companheiro, acho que não precisa ler”. E Christian ficou aliviado.

Hoje, 22 anos depois, relembra o momento e pensa que entrou sem nunca ter feito nada parecido, mas se encontrou e gostou tanto que, ao mesmo tempo, parecia que havia feito a vida inteira. “Faço isso todos os dias, o dia inteiro, e gosto muito. Sinto prazer no meu trabalho”, conta.

Christian relembra todos os ex-governadores com carinho: “Cada um tinha o seu jeito e aprendi a lidar com todos”. Alguns preferiam um roteiro mais regrado, outros, mais livres. Explica que o fundamental para se trabalhar no cerimonial não é apenas conhecer os protocolos e seu trabalho, mas também saber o que fazer quando algo não dá certo. Salienta que toda a cerimônia depende de uma equipe. Ele é a voz — e a presença — que está à frente, mas não operaciona nada sozinho.

E por falar em equipe, afirma que todos na sua são companheiros e têm uma ótima relação. O mestre de cerimônias sente muita gratidão por alguém em especial: o chefe do Cerimonial, Aristides Germani. “Não tenho apenas um chefe, tenho um amigo”, reconhece. Outro fator que faz com que goste de trabalhar no Palácio é o próprio ambiente.

“É um prédio icônico, quem tem a oportunidade de trabalhar diariamente num ambiente com essa estrutura arquitetônica, num ambiente tão bonito?”

Há um evento que ele considera o mais impactante: a solenidade de transmissão de cargo do governador. “Ela me sensibiliza pela felicidade que nós temos por quem está vindo e pela tristeza por quem sai, evidentemente, e pela expectativa que nós temos pela frente”, explica.

E nos 100 anos do Palácio Piratini, ele ganhou uma nova função: a narração de conteúdos. No tour virtual, disponível aqui no site, sua voz guia os visitantes pelos salões. Está presente também na abertura e no encerramento do podcast Palácio Piratini: 100 anos de História. Cada vez que uma nova coleção do acervo do Piratini é adicionada ao site, é sua voz que avisa. Até declamar Lusíadas para as redes sociais do Palácio, ele fez. Christian é uma das vozes do Centenário. “Esse trabalho vai ficar guardado na história e minha voz está ali, como registro”, afirma.

Em uma frase, ele resume a profissão e a dedicação nesses mais de 20 anos de Palácio e, também, a sua personalidade:

“Tudo relacionado a voz é apaixonante”.

 

(Stéfani Fontanive com edição de Vitor Necchi)