Porto Alegre, sábado, 27 de julho de 2024
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@frente_brazucra : Conheça a advogada que ajudou a fundar um grupo para resgatar brasileiros na Ucrânia; por Felipe Vieira

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Desde o início na Guerra da Ucrânia, um grupo idealizado por Clara Magalhães Martins e amigos brasileiros já resgatou mais de 120 pessoas. Ao todo, até o momento, 1,4 mil voluntários estão engajados nas ações humanitárias do Frente Brazucra.  Formada em Direito, a paulistana, de 31 anos, mestre em Direito Internacional, cursa MBA em Leipzig, cidade que mora na Alemanha e, onde logo nos primeiros dias do conflito, ofereceu a sua casa aos refugiados.

Quando conversamos pela Band News TV, estava em algum lugar da Polônia dentro do carro, onde passa a maior parte do tempo atualmente, inclusive dormindo no veículo, desde que deixou a cidade onde reside. Clara já transportou sete brasileiros, um nigeriano e uma ucraniana. Outros membros do grupo fazem a mesma coisa, acessando a cada dia uma fronteira diferente. “O núcleo central é formado por dez pessoas com formações variadas, cada um é responsável por uma área diferente”, explicou.

Clara começou oferecendo o apartamento a quem saísse da Ucrânia e conseguisse chegar. Logo, viu que o problema das pessoas era sair, daí montou uma logística para fazer o trabalho humanitário. Eles levam mantimentos e o grupo já tem mais de 1,4 mil pessoas voluntárias, reunidas em pouco mais de uma semana, majoritariamente brasileiros e alguns portugueses. Além da nacionalidade brasileira, já retiraram três iraquianos e receberam solicitações para a extração de canadenses, indianos e pessoas de outras nacionalidades.

O perfil criado no Instagram, BrazUcra (@frente_brazucra), possui mais de 20 mil seguidores e vai crescendo. Eles também abriram uma conta no Telegram. “As coisas foram se encaminhando sozinhas, ninguém se conhecia, sequer havia trabalhado junto anteriormente. É incrível como esse grupo trabalha por um propósito maior”, explicou Clara, que já entrou em contato com os governos colombiano, argentino e de outros países, mas ainda não recebeu um retorno do Itamaraty que, segundo ela, utiliza as informações do grupo para organizar as ações do governo brasileiro junto aos que precisam sair do país conflagrado, cerca de 500 pessoas.

Os voluntários reunidos em torno do BrazUcra auxiliam com rotas de fuga, abrigos e o que mais puderem. No Instagram, realizam vaquinhas e rifas para obter ajuda financeira e conseguir obter alimentos, medicamentos, gasolina e itens de primeira necessidade. Por meio das redes sociais, muitas pessoas têm entrado em contato para pedir ajuda aos familiares que tentam sair da zona de guerra. “Já entrei pela Hungria e Polônia, onde é a fronteira mais complicada de sair”, exemplificou Clara.

Ela relatou, e nem poderia ser diferente, que não tem facilidade para entrar na Ucrânia pelos países do Leste Europeu. Uma vez dentro do território ucraniano, após identificar-se como voluntária brasileira, logo é reconhecida como ajuda humanitária e o trânsito torna-se mais simplificado, inclusive para cruzar nos postos militares. Houve um momento da entrevista em que Clara revelou ter ouvido, dito por muitos ucranianos com quem teve contato, que eles já esperavam o conflito. “Faz oito anos que a gente vinha esperando esse dia chegar, disseram a mim”.

O futebolista potiguar Edson Fernando, 23 anos, foi um dos resgatados pelo grupo, no último dia do mês de fevereiro, levado para a Hungria, na pequena cidade de Záhony, apenas 4,2 mil habitantes. Nas redes sociais, o atleta relatou as dificuldades que passou, junto a dois amigos, nas cinco tentativas fracassadas que fizeram para tentar atravessar a fronteira ucraniana. Eles só conseguiram, após receber auxílio do grupo formado por Clara. Ao entrar na Hungria, Edson escreveu: “Nem parece que é verdade. Fica aqui a torcida para as pessoas que não conseguiram sair da Ucrânia, que possam sair o mais rápido possível. Oremos pela paz na Ucrânia”.