Porto Alegre, quarta, 02 de outubro de 2024
img

Editorial: Os acenos de Lula para o agronegócio/O Estado de São Paulo

Detalhes Notícia
Lula tem razão: sem o Estado, o agro não teria o tamanho que tem. Mas sem o agro o Estado não teria a força que tem. É preciso valorizar tal parceria, sem distorcer os papéis de cada um Pablo Jacob/Agência O Globo

 

 

Após um semestre marcado por atritos entre o governo e o agronegócio, o presidente Lula da Silva fez um bem-vindo gesto de conciliação. Em discurso na Bahia Farm Show, Lula buscou aparar arestas e manifestou a intenção de construir pontes. A questão é até que ponto passará do discurso à prática.

Recentemente, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, evocou um Lula magoado e incompreendido. “Ele me pergunta por que (os empresários do agronegócio) não gostam dele”. O enquadramento no plano afetivo já sugere uma estratégia recorrente de Lula e seu partido: tratar divergências políticas como preconceito de classe. A questão é por que os grandes produtores rurais não concordam com Lula. E aí não faltam razões.

Muito além do incômodo com invectivas palanqueiras, como alusões a ruralistas como vilões ambientais ou “fascistas”, há conflitos reais no campo político, a começar pelo desmembramento quase esquizofrênico da pasta da Agricultura em um Ministério da Agricultura e outro do Desenvolvimento Agrário. Em abril, enquanto o MST promovia uma série de invasões, incluindo de uma fazenda da Embrapa, o governo o prestigiava com cargos no Incra e reuniões em ministérios. Na China, Lula fez questão de levar a tiracolo o chefão do MST, João Pedro Stédile.

Lula classificou como “polêmica maluca” a suposta rivalidade entre o pequeno produtor e o agronegócio. Assim é. Seria bom, portanto, que o próprio Lula parasse de instigá-la. “É preciso parar de construir rivalidade onde ela não existe”, disse Lula. Uma das mais presentes no imaginário petista é a rivalidade entre o Estado e o livre mercado. Na Bahia, Lula lembrou que, “se não é o Estado colocar dinheiro, muitas vezes o agronegócio não estaria do tamanho que está”.

Leia mais em O Estado de Sâo Paulo