Uma sessão solene marcou a passagem, no Parlamento gaúcho, do Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira (20). Deputados se revezaram na tribuna para condenar o racismo e o preconceito, apontar as desigualdades que marcam a sociedade brasileira e defender a adoção de políticas públicas de reparação. A data foi instituída, oficialmente, em 2011 pela lei federal 12.519, de 10 de novembro. No entanto, sua idealização ocorreu 41 anos antes, em plena ditadura militar, e foi obra do poeta e professor gaúcho Oliveira Silveira e de um grupo de militantes negros do Rio Grande do Sul. A data escolhida foi o dia atribuído ao assassinato do líder negro Zumbi dos Palmares em 1695.
Da minha parte a alegria em ver entre as cinco personalidades, que se destacaram na promoção da igualdade e no combate ao racismo, recebendo o troféu Deputado Carlos Santos 2019, a maior porta-estandarte de todos os tempos, Onira Pereira Santos- para quem não sabe-, nora de Carlos Santos. Já escrevi no site que ela tem o nome eternizado nas avenidas e na memória carnavalesca do Rio Grande do Sul. Sinônimo de tradição, Onira fez da figura da porta-estandarte sua própria vida e firmou-a dentro do folclore do Estado.
Destaque carnavalesco predominantemente gaúcho, a porta-estandarte possui em sua dança passos e elementos artísticos específicos, o que fazem de sua performance algo único e fortemente identitário com as raízes foliãs do Sul. E toda essa particularidade artística foi moldada através das apresentações de Onira Pereira dentro do carnaval. A própria evolução da porta-estandarte (enquanto dança, vestimenta e postura) passa pelas mãos de Onira, que tornou-se referência no assunto.
Onira levou o folclore da portaestandarte para além fronteiras, sendo também a primeira porta-estandarte a desfilar na Marquês de Sapucaí, sambódromo do carnaval carioca. Icônica baluarte do carnaval do Rio Grande do Sul, foi homenageada por grandes nomes da música e também multipremiada. Falar sobre Onira Pereira não é apenas contar sua vida, mas sim, trazer a público uma importância história de identidade cultural.
O bispo emérito de Bagé Dom Gílio Felício foi um dos agraciados. Fundador do Movimento dos Agentes de Pastoral Negros da Igreja Católica, o sacerdote foi o primeiro negro a chegar ao episcopado em Salvador, onde criou a Pastoral Afro. Em 2003, foi designado para atuar no Rio Grande do Sul, estado onde que nasceu em 1949. Em 2007, passou a coordenar a Pastoral Afro-Brasileira, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Atualmente, é presidente da Pastoral Afro-brasileira e caribenha.
Lilian Cardoso, também agraciada, é a mulher negra com mais prêmios na história da declamação no tradicionalismo gaúcho. Formada em rádio pela Feplam, é conselheira estadual de Cultura e atriz com formação no Teatro Escola de Porto Alegre (TEPA). Dona de mais de 200 prêmios nacionais e internacionais, já recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha e, em várias edições, recebeu o prêmio Vitor Mateus Teixeira.
O policial da Brigada Militar Emmanoel Macedo foi o quarto agraciado com o troféu Deputado Carlos Santos 2019. Ele se notabilizou por ter enfrentado, em 17 de abril de 2018, um trio que assaltou um ônibus que fazia a rota Santana do Livramento – Porto Alegre. O soldado, que viajava no coletivo, rendeu os assaltantes, prestou socorro ao motorista, que foi atingido por uma bala, e escoltou o ônibus até um local seguro.
A militante contra o racismo e pela promoção da igualdade racial, comissária de polícia Ivonete Carvalho também recebeu o troféu. Atuou na articulação para a assinatura do convênio entre o governo do Estado e Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao então Ministério da Cultura, para o reconhecimento, demarcação e titulação de cinco áreas quilombolas no RS. Trabalhou para a aprovação da Lei 11.901, de 25/04/2003, que criou o Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra no Rio Grande do Sul (CODENE), e para a construção do Programa RS Rural, que garante assistência técnica e ações de inclusão produtiva e para famílias quilombolas.
Zumbi dos Palmares
O mestre Cica de Oyó Gercy Ribeiro de Mattos, Jorge Amaro de Souza Borges, Lya Ercilia de Bara Nação Oyó e o Movimento Negro Raízes receberam a Medalha Zumbi de Palmares 2019 pela atuação nas áreas cultural, política, religiosa e social, respectivamente. (Felipe Vieira com informações da Agência Assembleia)