Porto Alegre, sexta, 19 de abril de 2024
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Como as rádios de notícias gaúchas estão atuando no período de pandemia? Coletiva.net conversou com representantes de cinco emissoras: Guaíba, Gaúcha, Band, Pampa e ABC

Detalhes Notícia
Rádios seguem sendo importantes ferramentas de informação durante a pandemia - Reprodução

As rádios, neste período de pandemia, seguem atuando para levar informações precisas para os seus ouvintes, sendo uma importante ferramenta de orientação sobre o novo coronavírus e de combate às fake news. Com o distanciamento social, as emissoras tiveram que, em um curto espaço de tempo, se adaptar e encontrar a melhor maneira de seguir noticiando, enquanto adotavam medidas protetivas para os seus colaboradores, como o home office.

Coletiva.net conversou com representantes de cinco emissoras gaúchas, para entender melhor como foi a mudança promovida por algumas rádios de notícias. Nando Gross, gerente geral da Guaíba; Andressa Xavier, editora-chefe da Gaúcha; Leonardo Meneghetti, diretor geral da Band RS; Marjana Vargas, diretora de Conteúdo da Rede Pampa; e João Paulo Gusmão, o JP, coordenador de Jornalismo da ABC.

Em convergência, todos os porta-vozes das emissoras destacaram que o home office foi adotado pelos colaboradores e que as medidas de distanciamento social e de higiene estão sendo seguidas à risca. Além disso, os profissionais ressaltaram a importância do rádio neste período e, também, mostraram-se otimistas com o futuro do meio de comunicação no pós-pandemia.

Confira as respostas (em ordem de envio):

Qual é a importância do rádio durante a pandemia?

Nando: Sempre em épocas de crise as pessoas buscam o maior número possível de informação e o rádio é o veículo disponível a qualquer hora e em qualquer lugar, além de ser o mais barato, porque uma rádio news como a Guaíba você ouve o dia todo sem custo algum, diferente de uma TV a cabo focada em notícias, ou nos próprios sites que na sua maioria estão cobrando conteúdo. Na TV a cabo, pela primeira vez a Globo News liderou a audiência, algo que antes era do Sportv à noite e Discovery Kids durante o dia. Isso mostra o quanto as pessoas estão buscando informação. Uma pena que o rádio não tenha uma pesquisa científica confiável, com apuração online como acontece na TV. A pesquisa realizada pelo Ibope em rádio é antiga e tem mais a ver com lembrança de marca do que propriamente audiência. Hoje, é bem mais confiável medir a audiência pelo acesso ao site, aplicativos e redes sociais. Esses são números que podem ser vistos na hora. Esses dados nos mostram que a audiência da Guaíba aumentou consideravelmente durante este período de pandemia, mostrando que as pessoas estão cada vez mais querendo consumir informação.

Andressa: Mais do que nunca, o rádio é companhia. Ele permite que o ouvinte siga suas atividades ao mesmo tempo em que está se informando. No caso da Gaúcha, com programação news e esporte, a conversa entre os apresentadores, as grandes entrevistas, os jogos de futebol relembrados… tudo isso forma uma programação viva. Temos buscado o equilíbrio entre o hard news e a leveza. O factual tem sido muito forte e pesado e, por isso mesmo, é necessário contemplar papos mais leves, informativos, que nos permitam respirar em meio à pandemia. A essência da Gaúcha sempre será informar com qualidade, com apuração, com visões diferentes e proporcionando o debate.

Meneghetti: A capacidade de informações que o rádio consegue realizar, num curto espaço de tempo, torna o veículo um dos grandes aliados da sociedade numa época como esta, de pandemia. Para as autoridades, também é uma forma de comunicação muito rápida e necessária para se comunicar. O rádio tem funcionado como um fórum de debate, esclarecimentos, informação, e prestação de serviços.

Marjana: Em um momento de pandemia mundial e de uma consequente crise econômica, sem precedentes, o rádio possibilita a instantaneidade da transmissão das informações aos ouvintes, agilizando procedimentos e processos, como campanhas de vacinação ou disponibilidades de leitos para internação nos casos graves. As emissoras podem ser acessadas de forma gratuita e o aparelho de rádio tem um valor muito acessível, sem falar na possibilidade de se ouvir rádio pelo celular, com ou sem utilização de serviço de dados, via internet.

JP: Fundamental em todo o processo. No começo, nos primeiros casos, as pessoas compartilhavam informações de que tal cidade tinha um morto ou algum caso confirmado. As pessoas nos ligavam, mandavam mensagem no WhatsApp, questionado se realmente tínhamos a informação. Como estamos falando de vidas, de informações sobre uma pandemia mundial, todo cuidado é pouco. E noto o cuidado que, pelo menos no início, as pessoas tiveram de procurar e dar credibilidade nas informações. Temos esse cuidado diário.

Como a equipe está atuando durante este período de distanciamento social?

Nando: Maioria da equipe está em home office. Trabalhamos com número limitado de profissionais na redação. No estúdio, no máximo, ficam duas pessoas, sempre respeitando as regras de distanciamento. E todo o resto, máscaras, muito álcool gel e sem aglomeração. Neste período, também, estão proibidas visitas e entrevistas ao vivo na emissora.

Andressa: Espalhamos dezenas de ‘estúdios’, à medida que os jornalistas, na maioria, estão atuando de suas casas. Uma parte da operação precisa estar na empresa, como os produtores e a equipe técnica, que garantem a operação. Os repórteres que circulam nas ruas também tomam todos os cuidados.

Meneghetti: Usamos as ferramentas de tecnologia, e aplicativos, para gravar programas e entrevistas. Aprendemos rapidamente a utilizar estes recursos que hoje são indispensáveis. Penso que a atual geração de jornalistas sairá fortalecida com este aprendizado e com uma necessidade emergencial de fazer jornalismo de forma diferente.

Marjana: No caso da Rádio Pampa, grande parte dos comunicadores está em regime de teletrabalho. Para os que ficam no estúdio, todas as normas recomendadas estão sendo aplicadas, como o distanciamento, a higienização constante das estações de trabalho e dos equipamentos utilizados. No caso da Rádio Grenal, que reúne mais participantes durante os programas de debate, parte deles participa remotamente e estamos utilizando simultaneamente dois estúdios diferentes para manter o distanciamento entre os debatedores. Já na Rádio Caiçara, além de todos os procedimentos já listados, também foram instaladas divisórias de acrílico entre os locutores.

JP: Nos primeiros dois meses, ficamos só com um operador e um locutor no estúdio, e com distância recomendada. Os demais ficaram em casa, com equipamentos, e apresentavam remotamente os seus programas. Assim, mantivemos a grade de programação. Hoje, as pessoas do grupo de risco seguem de casa, mas seguimos com os cuidados de distanciamento nas salas e estúdio da emissora.

De que forma a emissora se adequou na questão técnica para enfrentar este cenário, uma vez que o áudio tem que ser nítido para a compreensão do público?

Nando: Nossos equipamentos estão espalhados pelos diversos home office, mas o que não ajuda é a internet que nossas operadoras fornecem. No geral, estamos nos saindo bem, mas tem dias bem ruins tecnicamente, mas há uma compreensão dos nossos ouvintes na medida em que todos estão vendo a realidade dos mais diferentes setores e a sua própria realidade. Mas temos um serviço de internet no Brasil que precisa melhorar muito. No mais, o trabalho está sendo feito, com entrevistas e reportagens acontecendo normalmente.

Andressa: Os equipamentos que já usávamos para a reportagem nas ruas têm som com qualidade de estúdio. No começo da pandemia, levamos esses aparelhos às casas dos repórteres, produtores, editores e apresentadores. Foi uma maratona da nossa equipe técnica para garantir, em poucos dias, que os programas da Gaúcha pudessem ser feitos diretamente da casa das pessoas.

Meneghetti: A tecnologia é um grande aliado em momentos como este. Há aplicativos e recursos técnicos de fácil acesso para que consigamos realizar nossas transmissões. Nossa prioridade sempre foi preservar a saúde de nossos profissionais. Cortamos entrevistas em estúdio, colocamos em home office todos profissionais que entendemos integram ou se aproximam de grupos de risco. Nos adaptamos, o que foi uma necessidade com esta mudança, e temos um aprendizado diário com esta pandemia.

Marjana: Para o trabalho remoto, a equipe técnica da Rede Pampa se desdobrou em cuidados e criatividade: entre as novidades tecnológicas possíveis de utilização, foi preciso escolher algo que não necessitasse de manuseio por parte dos comunicadores e que mantivesse a emissão das locuções com a qualidade que os ouvintes estão acostumados a encontrar nas emissoras da Rede Pampa. Já alguns probleminhas foram resolvidos com muita criatividade, mas estes segredinhos nós não vamos contar, não! O que posso dizer é que nossas equipes técnica e de informática estão de parabéns.

JP: Realizamos a montagem de estúdios adaptados na casa de todos os comunicadores. Não tivemos um grande perda de qualidade no som. Com um bom equipamento e uma boa internet, esse processo fica mais fácil. E, para nós, o resultado foi ótimo.

Como boa parte dos profissionais têm que atuar de casa, em comparação com os outros meios de comunicação, para o rádio, é mais difícil ou mais fácil atuar neste cenário?

Nando: Se compararmos com a TV, é mais fácil para nós. É terrível entender o que os repórteres na TV estão falando com as máscaras e para realizar entrevista tem que ser bem combinado antes, porque é preciso higienizar microfones e tem todo o problema de aproximação. Com certeza a dificuldade na TV é maior, mas se compararmos com internet ou jornal, acho que temos mais dificuldades, especialmente pelas exigências técnicas.

Andressa: Todos precisaram se adaptar. Não sei para qual meio está mais fácil ou mais difícil, mas a pandemia não deu escolha. É preciso entender que o vírus, embora dificulte a vida de maneira geral, acelerou processos e nos deu oportunidade de criar novas formas de fazer. Claro que é mais difícil manter a comunicação interna quando não estamos nos vendo, quando não basta um olhar ou um alô no meio da redação. É preciso ter muita organização e disciplina para que todas as peças se encaixem. Nossa equipe hoje entrega conteúdo para as diferentes plataformas, com as necessidades de cada uma, e todas mudaram de alguma maneira.

Meneghetti: O prejuízo que existe é compensado pela preservação da saúde dos profissionais. É claro que um programa de debates, por exemplo, sofre prejuízos. Mas o ouvinte, que também está encarando uma rotina diferente na sua vida, tem sensibilidade para isso.

Marjana: É mais fácil organizar a estrutura de rádio do que televisão. Como se sabe, a transmissão de imagens consome uma quantidade de dados de internet muito maior e consequentemente pode falhar mais, dependendo de uma série de fatores. As modernas tecnologias de transmissão de áudio nos permitem maior liberdade e segurança.

JP: Pensei que seria mais difícil. Vai muito da habilidade de cada comunicador. Temos a sorte de contar com profissionais que por conta da correria do dia a dia durante o ano dentro de uma rádio foram para casa e tiraram de letra o processo.

Na questão de prevenção, como a rádio está atuando com seus colaboradores?

Nando: Então, como disse anteriormente, a maioria da equipe está em home office. Trabalhamos com número limitado de profissionais na redação e, no estúdio, no máximo, ficam duas pessoas sempre respeitando as regras de distanciamento. Alguns tem medo de sair de casa e estamos respeitando isso.

Andressa: O primeiro grande passo foi a decisão de mandar o máximo possível de gente para teletrabalho, garantindo o cuidado para quem fica em casa, mas muito para os que precisam ficar na empresa garantindo o andamento do trabalho da rádio. Para os que estão na sede, máscaras, álcool e nada de contato com colegas. Todas as orientações das autoridades de saúde estão sendo seguidas.

Meneghetti: Prevenção: tomamos todas as medidas para diminuir riscos. Entrevistas apenas por Skype ou outros aplicativos, profissionais do grupo de risco ou próximos no sistema home office, sanitização permanente de nossas instalações, usos de máscara em nosso prédio, álcool em gel espalhado pelos corredores, reuniões, inclusive internas, por aplicativos, restringimos a zero visitas no prédio.

Marjana: A maior parte dos comunicadores das rádios está atuando em regime de teletrabalho. As equipes de limpeza da Rede Pampa foram reforçadas. As espumas normalmente usadas para proteger os microfones foram eliminadas durante a pandemia para que os técnicos possam proceder a higienização dos equipamentos constantemente. Equipamentos adicionais de anteparo foram instalados, possibilitando ainda mais individualização dos locutores. Os colaboradores foram e são orientados constantemente a proceder às medidas de higiene, como a forma mais correta de lavar as mãos, utilização do álcool gel, o uso de máscaras, entre outros protocolos.

JP: Máscaras, distância, duas pessoas por sala, reuniões com pequenos grupos em salas grandes.

Como enxerga o futuro do rádio na pós-pandemia?

Nando: Está nas mãos dos proprietários dos veículos e o que eles pretendem para o seu veículo no futuro. Todos sabem que o faturamento despencou, a crise financeira é grande, mas a audiência aumentou. Além disso, há crise em todos os setores, o segredo é saber fazer os cortes necessários, mas sempre preservar aquilo que é determinante para a produção de um produto de qualidade. Se você não tem um produto bom para vender, não vai se recuperar depois. A dupla Gre-Nal se viu obrigada a realizar demissões, mas não demitiu seus jogadores, porque eles são a essência do clube. No jornalismo é a mesma coisa, é preciso saber cortar, mas jamais inviabilizar a possibilidade de realizar um trabalho de qualidade. A não ser que a decisão seja a de diminuir de tamanho para sempre, o que pode ser também uma estratégia, mas que jamais será aceita pelo mercado gaúcho para emissoras do porte de uma Guaíba ou Gaúcha. Dessas duas, o mercado sempre espera espírito de liderança e presença forte nos principais acontecimentos do Rio Grande do Sul. É importante que fique claro que a pandemia quebrou financeiramente as emissoras, mas a audiência cresceu, portanto, o rádio enquanto veículo de comunicação, está mais forte ainda, apesar do coronavírus.

Andressa: Enxergo o rádio forte, assim como o digital. É nessas horas, aliás, que o meio rádio cresce em relevância. É a forma mais instantânea de se informar, ao mesmo tempo que há uma companhia do outro lado. Tanto o ouvinte abrindo sua casa para o radialista, como também sendo companhia pra gente. Este é um momento de ajuda mútua, de estar perto, ainda que por um aparelho ou pelo app, e de reforçar essa parceria.

Meneghetti: O aprendizado é diário. Tenho reiterado a nossos comunicadores que o momento exige harmonia e tranquilidade, inclusive na hora da crítica. Uma pandemia impacta em todos os segmentos da sociedade. Então um veículo de comunicação precisa ter equilíbrio em suas análises. É uma fase diferente para toda esta geração. Devemos ter capacidade de adaptação e serenidade e seriedade na condução de programas. Os veículos de comunicação passaram a funcionar também, além do viés informativo, como forma de entretenimento de uma sociedade que está mais em casa do que na rua. Mas a informação seguirá sendo a prioridade, inclusive depois da pandemia.

Marjana: Cada vez mais fortalecido e vital como veículo de comunicação, seja na emissão de notícias, dos esportes ou de entretenimento. O rádio mostrou, mais uma vez, a capacidade imediata de levar informação ao público com toda a agilidade que esta mídia permite. A Rádio Pampa tem muito orgulho do produto que está levando ao ar, nas 24 horas do dia, reforçando o slogan ‘A Rádio das Notícias’. Além de informar, transmitimos ao vivo e na íntegra as coletivas das autoridades, possibilitando ao ouvinte formar a sua própria opinião a respeito de tantos temas polêmicos que estamos vivenciando, além dos relativos à pandemia. E os índices nos evidenciam, mensalmente, o crescimento da audiência e da credibilidade deste trabalho.

JP: Muito diferente. Não só a rádio, mas todas as profissões. Os profissionais de rádio aprenderam muitas coisas por conta do isolamento, com pessoas de microfone se envolvendo mais com a parte técnica. Penso que o profissional de rádio será ainda mais completo depois da pandemia. O momento exigiu adaptação a novas funções e, ao mesmo tempo, naturalidade no ar, mesmo com adversidades fora de um estúdio (profissionais que apresentaram programas de casa, sem operador do lado, sem muita produção no entorno, etc). Essa necessidade de momento vai fazer que o mercado esteja cada vez mais disputado e com uma excelente qualidade de profissionais.

 

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