Porto Alegre, sábado, 20 de abril de 2024
img

Especialista alerta para risco de aumento de problemas de saúde mental no período pós-pandemia

Detalhes Notícia
No debate promovido pela comissão da Câmara que acompanha as ações de combate ao coronavírus, especialistas também manifestaram preocupação com a possibilidade do aumento de suicídios. Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

 

 

O período pós-pandemia de Covid-19 poderá levar ao aumento dos problemas de saúde mental da população e, consequentemente, do número de mortes por suicídio no País. O alerta é da diretora da Associação Brasileira de Estudo e Prevenção do Suicídio (Abeps), Soraya Carvalho. Ela participou nesta terça-feira (2), por videoconferência, de debate sobre o assunto promovido pela comissão especial da Câmara dos Deputados que acompanha o enfrentamento do novo coronavírus.

Segundo Carvalho, características da pandemia, como o isolamento social, o excesso de notícias sobre a doença – incluindo as falsas – a alta letalidade do vírus e a facilidade de contágio, reúnem elementos para provocar nas pessoas as três principais causas do suicídio: desespero, desamparo e desesperança. “O suicídio é um ato radical, uma resposta ao real, uma saída pra dor de existir. Quando a pessoa diz que não há mais esperança, o risco de suicídio é maior.”

“O Setembro Amarelo é importantíssimo. O governo acende as luzes do Cristo Redentor, do elevador Lacerda e está dizendo que o suicídio precisa ser tratado, mas precisa oferecer atendimento e tratamento”, disse ela, citando a campanha de prevenção ao suicídio no mês de setembro. Carvalho destacou os benefícios de atendimentos individuais, 24 horas por dia, com psicólogos e psiquiatras, online ou por telefone, como forma de avaliar riscos e prover o atendimento necessário, mas criticou a falta de um plano nacional para tratar do problema.

“Temos no mundo 1 milhão de mortes por ano, o que significa uma a cada 40 segundos”, disse. No Brasil, segundo ela, são 12 mil mortes por ano: 1 a cada 35 minutos. De acordo com Carvalho, entretanto, o dado mais alarmante vem de um estudo da Universidade federal de São Paulo: o suicídio no Brasil é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

Psiquiatra e psicanalista, Marcelo Veras questionou o que acontece com pessoas que vão atrás de um futuro e, de repente, desistem da vida. “Percebemos o fracasso da hiperconectividade. São exatamente os smartphones e as redes sociais que começaram a ser usados muito mais para se mostrar para o outro do que para comunicar. Isso criou uma rede de solitários que não sabem dialogar”, disse.

A deputada Leandre (PV-PR), que propôs o debate, disse que o isolamento social prolongado, embora necessário, pode levar a situações críticas. “Uma coisa é conviver com o tédio, outra é conviver em um lugar sem ter o que comer”, pontuou. Leandre considera fundamental o Ministério da Saúde treinar profissionais que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBS) para evitar discriminação e abordagens inadequadas. “Muitas secretarias de saúde dos municípios estão sendo demandadas por pessoas que estão tentando suicídio. Há muito mais ocorrências de tentativas do que anteriormente. As taxas já são assustadoras”, alertou.

Disque-Suicídio
Relatora do colegiado, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC) considerou alarmantes os números de suicídio do País e sugeriu a criação de um Disque-Suicídio nos moldes do que existe para denúncias de violência contra a mulher. Ela citou o exemplo de um programa desenvolvido pela secretária de Saúde de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, que oferece um serviço 24 horas por dia para ouvir pessoas com pensamentos suicidas.

Representando o Ministério da Saúde, Maria Teodoro admitiu que o déficit da rede de atenção psicossocial no Brasil é significativo. Segundo ela, existem hoje no País 2.749 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) – menos de um para cada município –, 753 serviços residências terapêuticas, 1822 leitos de saúde mental em hospital geral e 66 unidades de acolhimento.

Sobre os suicídios, ela disse que o governo federal ainda não tem dados de 2020. “Em, 2019, a média foi de mil suicídios por mês.” E comentou a intenção do governo federal de utilizar dados produzidos pelo comitê de prevenção ao suicídio criado em 2017 para criar um plano nacional, como previsto na Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, aprovada em 2019.

Maria Teodoro reconheceu que a pandemia poderá agravar a demanda por serviços de atenção à saúde mental e destacou entre as medidas efetivas cursos para capacitação de profissionais da atenção básica em saúde mental. “O curso ainda está disponível na plataforma na Unasus. São vídeos que abordam temas como ansiedade, depressão.” Ela destacou ainda campanhas como a Dê um Like na Vida, focada na prevenção ao suicídio entre jovens, e o Setembro Amarelo.

Agência Câmara de Notícias