Porto Alegre, quinta, 18 de abril de 2024
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Jazz perde seus últimos leões de ouro, por Julio Maria/O Estado de S.Paulo

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Com a morte do baterista Jimmy Cobb, o último remanescente do quinteto que gravou 'Kind of Blue', de Miles Davis, jazzistas e jazzófilos pensam como fica o gênero sem a turma de 1950. FOTO ERNESTO RODRIGUES/AE.

O baterista Jimmy Cobb morreu aos 91 anos preocupado com o que seria do jazz quando a geração dos garotos que não precisavam mais sequer ver uns aos outros para gravar algum tema pela internet começasse a dar seus frutos. Sua história era o exemplo do quanto era valioso estar ao lado das pessoas, desde o dia em que Miles Davis chegou ao estúdio para a primeira gravação de Kind of Blue sem nenhuma partitura, olhou para ele e disse: “Jimmy, você sabe o que fazer. Apenas faça parecer que está flutuando”. O tom da voz de Miles, mais do que a frase, já havia dito tudo.

Miles, o maior dos tempos Foto: TNYT

Cobb partiu no último dia 24 deixando mais do que a própria história. Além de ser o último remanescente dos homens que estiveram com Miles no 30th Street Studio, em Nova York, entre 2 de março e 22 de abril de 1959 para a gravação de um dos mais importantes álbuns de todos os tempos, ele era também um dos últimos expoentes ativos e robustos dos anos 1950, a época em que se extraiu ouro puro do jazz. Os outros acompanhantes de Miles, Cannonball Adderley no sax alto (exceto em Blue in Green); John Coltrane no sax tenor; Bill Evans ao piano (exceto em Freddie Freeloader); Wynton Kelly (piano em Freddie Freeloader) e Paul Chambers no baixo, todos já haviam partido. Assim como todos que lançaram obras-primas em 1959, o misterioso ano que desafia espiritualistas, materialistas, criacionistas e terraplanistas a explicar o que levou tantos álbuns a saírem ao mesmo tempo. O pianista Dave Brubeck, de Times Out; o baixista Charles Mingus, de Ah Um; o saxofonista Ornette Coleman, de The Shape of Jazz to Come; o baterista Art Blakey, de Moanin’, com o Jazz Messengers; o vibrafonista Cal Tjader, de Monterey Concerts, e muitos outros que podem chegar até o Brasil sem esforço quando lembramos que João Gilberto fez Chega de Saudade, o álbum, no mesmo ano apocalíptico ao contrário de 1959.

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