Porto Alegre, quinta, 25 de abril de 2024
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Memorabília: O swing jazzístiscos da literatura de Cortázar; por Márcio Pinheiro*

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Julio Cortázar Foto: Arquivo pessoal
Quantos mundos cabem nos improvisos jazzístiscos da literatura de Cortázar? A melhor tradução de Julio Cortázar não se encontra na literatura e sim no jazz. Foi o jazz uma das principais inspirações presentes na obra do escritor, uma paixão que não apenas se materializava em belíssimos contos em homenagem a Clifford Brown, Louis Armstrong, Thelonious Monk e Charlie Parker como também se refletia na maneira dele escrever. “A escrita tem que ter uma noção de ritmo baseada na construção sintática, na pontuação e no desenvolvimento do período. Tem que ter swing”, resumiu ele numa entrevista nos anos 70.
O mesmo swing que o inspirou a escrever “O Perseguidor”, tendo como personagem central Johnny Carter, claramente baseado em Charlie Parker. “É um dos contos mais importantes deste século. É uma história que qualquer escritor gostaria de ter escrito e qualquer cineasta gostaria de transformar em filme”, diz Eric Nepomuceno, tradutor do texto em português. Antes de Eric, o conto havia sido traduzido pelo poeta Sebastião Uchoa Leite para a extinta revista Abre Alas. “Cortázar conhecia o jazz como poucos. Carlos Fuentes e Gabriel García Márquez contam versões emocionadas de uma viagem de trem que fizeram com ele. Em determinado momento, Fuentes resolveu perguntar porque um trio básico de jazz era sempre piano, contrabaixo e bateria e Cortázar falou durante horas sobre o jazz”, conta Eric.
A ligação de Cortázar com a música era muito forte – e não apenas com o jazz. Além das tentativas de tocar trompete, saxofone e tuba, Cortázar escreveu letras de tango e era um atento ouvinte de música brasileira. E até nestes momentos suas opiniões eram criativas e originais. Citou Gal Costa em um de seus contos, dizia que Tom Jobim era um mistério que merecia ser ouvido com recolhimento religioso e acreditava que Chico Buarque psicografava suas letras, pois não era possível alguém tão jovem ter tantas referências. “Quantos mundos cabem dentro de Chico Buarque?”, perguntava. E também defendia uma estranha teoria a respeito de Caetano Veloso e Maria Bethânia: tinha certeza que os dois eram a mesma pessoa.
*Márcio Pinheiro, jornalista, escritor,  publisher do AmaJazz e pai da Lina.