Foi com alegria e orgulho que recebi um exemplar da obra sobre os 40 anos de carreira do Juliano Javoski. O livro, assinado por nosso amigo em comum, Chico Luiz, traz um apanhado de depoimentos que reconstroem a caminhada desse artista consagrado na música tradicionalista gaúcha. Eu tive o prazer de conviver com ambos na minha juventude, em rodas de violão entre amigos, ouvindo canções de Chico e Juliano, antes da consagração. Com o tempo, a vida fez com que não estivéssemos mais tão próximos, mas eu continuei acompanhando de longe a carreira do Juliano, hoje um dos mais respeitados e multipremiados músicos do nosso Cone Sul.
A leitura me trouxe à memória alguns momentos importantes da juventude, quando acompanhei de perto o movimento tradicionalista, inclusive como jornalista, reportando festivais pelas rádios Sobral e Gaúcha, onde precisei carregar o peso de atuar junto a homens consagrados no meio do rádio especializado em música, craques como Glênio Reis, Paulo Diniz e Bagre Fagundes. Além de amigo, Chico Luiz (Francisco Carlos Souza Luiz) é filósofo e um entusiasta da música regionalista, começou a participar de festivais em 1982. Tem quase cem músicas gravadas por outros artistas e dois discos autorais, sendo um deles em parceria com Juliano Javoski e Miruca Dorneles.
No livro “Vida e obra, 40 anos de trajetória de Juliano Javoski”, lançado ano passado pela editora Virtua, de Caxias do Sul, Chico descortina a vida do retratado ao longo de 156 páginas. São depoimentos de amigos, parceiros, conhecedores dos assuntos e da companheira do biografado, Nara Lúcia Carvalho da Costa, além do próprio Juliano, que narra “causos” marcantes e engraçados. No texto estão destacadas as características marcantes do homenageado, considerado hoje um dos mais importantes “chamamanceiros” da atualidade: simpatia, carisma e simplicidade.
O Chamamé, gênero musical em que se tornou especialista, para além do ritmo, também é um estilo de vida, atestam os adeptos. Juliano, inclusive, estudou o idioma Guarani, que pratica em suas viagens ao Paraguai, um dos grandes “polos do chamamé”, juntamente com a Argentina. Javoski é um artista que não ficou estagnado. Além de ritmos como a milonga, o chamamé e a vaneira, pesquisou a origem do próprio chamamé e publicou um livro a respeito. “Caraí Chamamé Rezo Dança” foi lançado em 2019, mas consumiu oito longos anos de trabalho e pesquisas. Também por isso, podemos dizer que é imensa a contribuição cultural do Juliano para o movimento tradicionalista.
Juliano de Souza Javoski é natural de São Jerônimo (1955). Criado pelos avós maternos em Butiá, onde o conheci. Pai de dois filhos, Juliana e Juliano Júnior, por um período manteve concomitantes as atividades profissional e musical. Foi bancário e securitário. Trabalhou em banco, seguradora e corretora de valores por 24 anos, até que finalmente passou a viver como músico, compositor e intérprete.
Se iniciou nas antigas tertúlias do CTG 35, em Porto Alegre nos anos 1980, e logo já estava se aventurando em festivais. Até o momento, são 40 anos de carreira e a incrível marca de 400 músicas registradas. Não é pouca coisa! Juliano trabalha à moda artesão, lapida as melodias em seus mínimos detalhes. Entre as muitas histórias que constam no livro, uma delas fala sobre a 21ª Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, quando concorreu com a música “Sem resposta”. Letra do grande Apparício Silva Rillo e música de sua autoria.
Lembranças, episódios específicos, depoimentos e registros históricos foram bem dosados ao longo da publicação, que narra com precisão a inserção do Juliano há 25 anos no universo “Chamamezero”, atuando em grandes eventos do gênero na Argentina, tocando para plateias com mais de 20 mil pessoas. E ninguém melhor do que o Chico para escrever sobre ele. Além de primos, são parceiros e amigos, equivalentes a “irmãos”.
Chico Luiz, também compositor, nasceu na minha querida Butiá. Aos 67 anos, mora em Santa Cruz do Sul e escreve com a autoridade de quem conhece o retratado há 53 anos. Juntos produziram composições como De Tropa, Tempo e Saudade, Canto da Minha Gente, Tributo… trabalhos que estiveram nos palcos, em festivais e que ouço para rememorar os amigos e as ótimas lembranças da nossa convivência.
A história do Juliano merecia registro em livro para ficar eternizada. E ninguém melhor do que o Chico Luiz para escrevê-la.