Durante a jornada, representantes da rede de proteção à criança e ao adolescente abordarão temas como a ruptura de laços afetivos, os desafios da parentalidade adotiva, a criação de novos vínculos e a vulnerabilidade das crianças diante da recente calamidade climática no estado. O evento também visa desmistificar o processo de adoção, frequentemente visto como complexo e demorado, segundo o Juiz-Corregedor Johnson.
A primeira palestrante da manhã foi a assistente social do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Ana Kelen Dalpiaz, que apresentou o tema “O Rompimento dos Vínculos Afetivos no Contexto de uma Maternidade Pública de Porto Alegre”. Ela compartilhou sua experiência no espaço materno-infantil do hospital: “Posso dizer que vivi os sentimentos mais intensos da minha vida, em que precisei tomar as decisões mais difíceis e tive os maiores aprendizados”, relatou. Através de infográficos, Ana Dalpiaz apresentou dados sobre encaminhamentos ao Juizado da Infância e Juventude (JIJ), medidas de proteção e casos de entrega responsável entre 2023 e 2024.
Ela exemplificou casos de mães que chegam ao hospital em situações delicadas envolvendo rompimento afetivo, muitas vezes ligadas à ausência de rede de apoio, sofrimento psíquico, ausência paterna e violência sexual. Esses fatores, segundo Dalpiaz, são determinantes para a decisão de entrega dos filhos para adoção, uma medida que, embora dolorosa, é vista por muitas mães como uma forma de garantir melhores condições de vida para suas crianças. A palestrante também abordou as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e frisou a importância do acolhimento humanizado nesses momentos críticos.
Em seguida, a psicóloga Cláudia Simone Silveira dos Santos, também do HCPA, discutiu os desafios emocionais enfrentados por mães em vulnerabilidade e reforçou a necessidade de acolhimento humanizado. “Não se trata de ‘gostar ou não gostar’ do bebê, mas da capacidade real de cuidar dele. Quando uma mulher decide entregar seu bebê, o processo envolve um caminho emocional e gestacional complexo”, explicou. Ela destacou a importância do papel da equipe de assistência social e psicológica no apoio às mães.
O Coordenador-Geral da Rede Unida e professor da UFRGS, Alcindo Antônio Ferla, seguiu com uma reflexão sobre a separação compulsória de mães e bebês, qualificando o problema como um desafio civilizatório. Ele apontou falhas na rede institucional, como a ausência de pré-natal e a falta de contato com os serviços de saúde, ressaltando que esses fatores agravam a situação.
Encerrando os debates da manhã, a psicóloga Ana Celina Albornoz, da Fundação de Proteção Especial, destacou a importância do vínculo entre mãe e bebê para o desenvolvimento emocional e psíquico da criança, além dos desafios causados por privações socioculturais. Ela reforçou a necessidade de integração entre os setores da rede de proteção para atuar em prol da infância e adolescência.
Também estiveram presentes na abertura a promotora de justiça Cristiane Corrales, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Educação, Infância e Juventude do Ministério Público Estadual, a defensora pública Paula Simões Dutra de Oliveira, dirigente do Núcleo de Defesa da Criança e do Adolescente da Defensoria Pública, o representante da OAB/RS, Carlos Kremer, e outras autoridades.
A jornada seguiu na parte da tarde e tem programação também nesta sexta, confira.