Porto Alegre, sábado, 23 de novembro de 2024
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Turnê do filme 'A Música Natureza de Léa Freire' terá sessão especial de cinema, debate, oficina e show no Espaço 373

Detalhes Notícia
Filme "A Música Natureza de Léa Freire" retrata a genialidade musical da arranjadora e instrumentista brasileira - Foto: Caroline Bittencourt/Divulgação

 

 

 

A turnê do premiado documentário ‘A Música Natureza de Léa Freire’, de Lucas Weglinski, chega a Porto Alegre para um fim de semana inteiro de ações especiais com exibição de cinema, oficina e show. A sessão especial e gratuita, seguida de debate com Léa Freire e o diretor do filme, será realizada no Cinema Universitário no Campus da UFRGS, dia 8 de novembro (sexta-feira), às 19h. No mesmo dia, às 16h, a musicista ministra a oficina gratuita “Percepção para Improvisação”, no Espaço Figueira do Centro Cultural da UFRGS. E no dia 10 (domingo), às 19h30, Léa sobe ao palco do Espaço 373 com os músicos gaúchos Pedrinho Figueiredo (flauta), Leonardo Bittencourt (piano), André Mendonça (baixo) e Lucas Fê (bateria).

Desde a estreia em São Paulo, em julho deste ano, a compositora e o diretor têm viajado pelo país para lançar o longa numa dinâmica inovadora de turnê de cinema. A turnê já passou por cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Palmas, Manaus, Brasília, Campinas, Salvador, Belo Horizonte, São João Del Rei, Fortaleza e Recife.

Sempre que tentam traduzir o trabalho musical de Léa Freire, a comparam com homens. Ser referência feminina neste gênero ainda é mata fechada, na qual Léa e outras poucas mulheres abriram, e abrem, caminho munidas de seus instrumentos e sensibilidade.

Sua autenticidade se deve muito ao fato de ser livre, genuína e tocar seu tempo e seu lugar de forma única. A música é natural como um sexto sentido para a artista. Talvez herança do ouvido absoluto da mãe, que se dizia pianista amadora, confundindo a mente dos concertistas com suas despretensiosas e chocantes aparições de alta performance. Também de forma modesta e simples, Léa é ancestralmente deslumbrante. Escuta cores, vê harmonias, melodias e ritmos em paisagens partituras.

Léa Freire Foto: Caroline Bittencourt

Compositora e pianista extraordinária, aprendeu a tocar flauta sozinha, de ouvido, e, aos 18 anos, já dava aulas do instrumento no Centro Livre de Aprendizagem Musical, o CLAM, escola fundada pelo icônico Zimbo Trio em 1973. Neste mesmo ano, depois de guardar o dinheiro de shows e aulas para estudar em Boston, esbanjou a maior faculdade de música do mundo, a Berklee. Preferiu aprender o que ainda não conhecia, trocando a sala de aula pelas escadarias dos clubes de jazz, como o Village Vanguard, em Nova York.

Os Originais do Samba – em sua primeira e icônica formação, constituída por Bigode, Bidi, Chiquinho, Lelei, Mussum e Rubão – faziam silêncio total em suas animadas reuniões para ouvi-la com atenção, ao lado do parceiro musical Filó Machado. “Para tudo! Chegou o Filó e a Cinderela. Agora tem que educar os ouvidos com um pouco de clássico” dizia Almir Guineto, irmão de Chiquinho e figura sempre presente nos encontros da realeza do samba de São Paulo, no bar do Amorin, no porão da galeria shopping da Rua Augusta.

E em 1997, Léa criou o selo Maritaca, dedicado à música instrumental, que proporcionou importantes registros em estúdio de nomes lendários como Laércio de Freitas, Nenê, Silvia Góes, Nailor Proveta Azevedo (Banda Mantiqueira), Filó Machado, Arismar do Espírito Santo, Tatiana Parra, Edu Ribeiro, Erika Ribeiro e Vinicius Dorin.

Sua insurgência em ser independente, estar onde quer e criar o que deseja se reflete em sua assinatura musical que desprende a melodia do tempo e cria um ritmo inesperado. Uma artista de estilo único, diverso e inclassificável. “Para o erudito, sou popular. Para o popular, sou erudito. Para o choro, sou jazz. Para o jazz sou do choro”, analisa.

Também é discreta demais para se assumir diva. Usa o preconceito contra ele mesmo, estampado numa camiseta ilustrada por ela com os dizeres “Cuidado, velha maluca”. Uma inversão contra a misoginia que viveu a vida toda e que agora ganha requintes de etarismo. Homens músicos extraordinários não são malucos, são gênios. Não são velhos, são mestres. Pois que a mestra genial da música brasileira possa finalmente, após a exibição do documentário no Brasil, assumir seu posto e ser devidamente reconhecida em vida no seu país. E que nas ruas, quem sabe a gente veja pessoas ostentando camisetas “Toque como Léa Freire”.

Enquanto a ativista feminista bell hooks aborda o amor como ação, Léa Freire mostra que sensibilizar é revolucionário. “Fazendo música, a gente sensibiliza as pessoas, fazendo arte de uma forma geral. Ao invés de dessensibilizar, que é o que o poder quer, que você não sinta nada e seja uma ferramenta de fazer dinheiro. A arte tem essa função de lembrar você que você existe, que é íntegro, inteiro e completo em si”, reflete a artista.

A revolução pela sensibilização de Léa Freire incorpora esse conceito e o amplia ao investir na propagação da sensibilidade, por meio da música e de projetos sociais, desde que tocou em unidades de prisões juvenis (chamadas na época de FEBEM), entre 1974 e 1975, com Alaíde Costa e Filó Machado. Hoje, atua em universidades públicas, no projeto Guri e está constantemente envolvida com instituições que promovem educação musical para o desenvolvimento humano em todo Brasil. “Projetos sociais de formação musical promovem a ascensão social das famílias, criam novos públicos e inspiram pessoas mais sensíveis. Eu acho importante esteticamente, politicamente, musicalmente e eticamente.”, explica a compositora.

O documentário “A Música Natureza de Léa Freire” passou por dezenas de festivais em todo o mundo e já acumula doze prêmios: Prêmio SPCINE 2022, Melhor Documentário Los Angeles Brazilian Film Festival; Melhor Documentário New York Tri State Film Festival 2022; Melhor Música Roma International Film Festival 2023; Prêmio de Empoderamento Feminino Tokyo International Film Festival 2022; Melhor Produção Seoul International Film Festival 2022; Melhor Diretor de Documentário New Wave Munich International Film Festival 2022; Melhor Filme, Melhor Edição, Melhor Desenho de Som Sunworld Film Festival (India) 2022 e participações em festivais como Visions du Réel e San Francisco.

Ficha Técnica
Direção, fotografia, montagem, desenho de som e roteiro:
Lucas Weglinski Protagonistas: Léa Freire, Alaíde Costa, Amilton Godoy, Silvia Góes, Filó Machado, Arismar do Espírito Santo, Joana Queiroz, Erika Ribeiro, Tatiana Parra, Jane Lenoir, Keith Underwood, Orquestra Sinfônica da Unicamp, Orquestra Jovem Projeto Guri, Câmaranóva e Originais do Samba.
Fotografía: Louise Botkay e Joaquim Castro
Direção musical: Maestro Felipe Senna
Mixagem e masterização: Homero Lotito
Produtores: Carolina Kotscho e Clara Ramos
Produção executiva: Heloisa Jinzenji, Fernando Nogueira e Lucas Weglinski País: Brasil
Ano: 2022
Duração: 99 min
Produção: Agalma Filmes e Loma Filmes
Coprodução: SPCine
Distribuição: Descoloniza Filmes e SPCine

SERVIÇO:
08 de novembro | Sexta-feira | 16h
Oficina Percepção para Improvisação com Léa Freire
Onde:
Espaço Figueira do Centro Cultural da UFRGS
ENTRADA GRATUITA

08 de novembro | Sexta-feira | 19h
Sessão Especial (Filme + Debate)
Onde: Sala Redenção – Cinema Universitário no Campus da UFRGS
ENTRADA GRATUITA

10 de novembro | Domingo | 19h30
Show com Léa Freire e músicos convidados
Onde: Espaço 373 (Rua Comendador Coruja, 373 – Floresta)
Ingressos: R$50 a R$120 | R$ 25 para estudantes de música da UFRGS)
Ingressos antecipados: https://www.sympla.com.br/evento/lea-freire/2701119
Informações e reservas de mesas pelo WhatsApp: (51) 999 99 23 15