Porto Alegre, sexta, 22 de novembro de 2024
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Elis e Eu; por Zeca Kiechaloski*

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Muita já se disse sobre Elis Regina. Muita coisa já se escreveu sobre Elis Regina. Muito mesmo. Mas sempre ficava faltando alguma coisa, sempre me batia um certo desconforto em saber que pessoas íntimas dela iam ouvir, ler e ver estes depoimentos. Sempre ficava faltando alguma coisa. Não falta mais. Seu filho mais velho, João Marcelo Bôscoli, acabou com a curiosidade. Afinal, ninguém melhor do que ele para dizer coisas sobre sua mãe.

O livro é uma grande ( e bem escrita, por sinal ) declaração de amor. Quase uma carta. Um reencontro. João esparrama seu amor e admiração em todas as páginas. Sem nenhuma vergonha de se expor da forma mais aberta possível. Ali está um filho amoroso declarando sua paixão pela mãe que perdeu. Foram apenas 11 anos, 06 meses e 19 dias ( subtítulo do livro ) de convivência, mas que valeram por 22 anos, 12 meses e 38 dias. Ou mais. João mostra a ferida ainda aberta que é, e sempre será, a morte de Elis.

Nunca ninguém poderia imaginar o que este menino de onze anos passou depois do ocorrido. Ninguém. Rita Lee em seu belo prefácio afirma que se soubesse na época dos acontecimentos, teria pegado João Marcelo para criar. Acredito que ela não está sozinha nesta afirmação. Não sei porque, mas o sofrimento de um quase adolescente é sempre mais doído. É uma quase criança sofrendo como um quase adulto. Não dá para avaliar o que se passou na cabeça dele por muito tempo.

O primeiro capítulo é de uma dor imensa. Do tamanho do mundo. O mais triste é ele pensar quando viu ( escondido ) pela primeira vez a droga entrando nas entranhas de sua casa, que se ele tivesse tomado alguma atitude talvez o fim seria outro. Um complexo de culpa irreparável. O livro é um beijo partido. Um abraço desfeito. Um adeus não dado. Uma lágrima no meio da face, que não vai até o fim, porque não existe fim. Engole o choro e corre para ler.

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Zeca Kiechaloski, ator, amigo e fã de Elis*