Porto Alegre, sábado, 16 de novembro de 2024
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Moro deixa governo e coloca Bolsonaro em maus lençóis. Ex-ministro diz que presidente quer troca na PF para ter acesso a relatórios de inteligência; por Felipe Vieira

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"Isso geraria um abalo de credibilidade. Não minha, mas minha também, e do governo. Geraria desorganização. Não aconteceu durante a Lava Jato, a despeito dos problemas de corrupção dos governos anteriores.". Foto: Agência Brasil

O ministro da Justiça, Sérgio Moro deixou o governo com um discurso que mais parecia as sentenças que proferiu nos 22 anos de magistratura. Durante 40 minutos ele foi duro e mostrou que não teve a autonomia prometida pelo presidente Jair Bolsonaro, quando convidado para o cargo. Deixou claro que depois de assumir a pasta não teve condições plenas de cumprir o projeto desenhado para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, “Não me senti confortável. Tenho que preservar minha biografia e o compromisso que assumi inicialmente com o próprio presidente que seríamos firmes. Um pressuposto para isso é que nós temos que garantir o respeito à Lei e à autonomia da PF contra interferências políticas.”

Nas próximas horas, novos pedidos de impeachment devem ser criados contra o presidente Bolsonaro. Já existem mais de vinte represados nas gavetas de Rodrigo Maia, pela maneira como tem se comportado nos últimos dias, ganha força a possibilidade de Maia tramitar na casa um desses pedidos antigos ou esperar um novo com apoio de entidades da sociedade civil como OAB e ABI. Ao deixar o governo em meio a Pandemia da Covid-19 e se distanciar da postura do presidente no combate ao Coronavírus, ele mostra divergências e explica o silêncio dos últimos dias. Moro deixou claro que o compromisso com o passado de juiz federal, não permite a ele pensar na hipótese de diminuir a  autonomia da Polícia Federal nas investigações sobre Fake News envolvendo inclusive os filhos do presidente.

A verdade é que Moro colocou uma “bomba” embaixo da cadeira de quem sentar no Ministério e na Superintendência da Polícia Federal, “Foi ventilado um delegado que passou mais tempo no Congresso do que na PF. Foi sugerido o atual diretor da Abin. O grande problema é que não é tanto quem colocar, mas por que trocar e permitir a interferência política na PF.”. Em outro momento o ex-ministro deixou claro o risco de crime de responsabilidade em função da possibilidade de interferência política nas investigações, “O presidente disse que queria alguém do contato pessoal dele, para ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência. Não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de investigação. Imagine se na Lava Jato ministros e presidentes ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações.”. Em vários momentos, o ex-ministro deixou claro que Bolsonaro terá que dar muitas explicações e fez referências aos governos petistas que mesmo sob investigação da Polícia Federal, nos escândalos de corrupção nunca interferiu na insituição, “Isso geraria um abalo de credibilidade. Não minha, mas minha também, e do governo. Geraria desorganização. Não aconteceu durante a Lava Jato, a despeito dos problemas de corrupção dos governos anteriores.”

No final do pronunciamento, sem direito a perguntas pelos jornalistas Moro deixou aberta a possibilidade de uma candidatura no futuro, já que ele deve manter a popularidade. Como ficou de fora do noticiário nos últimos dias, ele não carregará o desgaste que já atinge Bolsonaro. “Abandonei os 22 anos de magistratura. É um caminho sem volta, mas quando assumi (o cargo), sabia dos riscos. Vou descansar um pouco. Nesses 22 anos, tive muito trabalho. Não tive descanso durante a Lava Jata e no cargo de ministro. Vou procurar um emprego. Não enriqueci no serviço público. Quero dizer que independentemente de onde eu esteja, sempre vou estar à disposição do País para ajudar.”