O site do Correio do Povo informa que pouco antes de embarcar em direção a Porto Alegre, onde participa nesta quinta-feira da troca de liderança no Comando Militar do Sul, o presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista à Rádio Guaíba. Em sua fala, o chefe de Estado voltou a criticar o ato do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que decidiu suspender a nomeação e a posse de Alexandre Ramagem na direção-geral da Polícia Federal.
“Eu questionei o ministro do STF Alexandre de Moraes sobre a liminar que impediu o senhor Ramagem de tomar posse na Polícia Federal. O que eu cobrei dele? Que tome uma posição no tocante ao senhor Ramagem porque ele continua à frente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e a agência é tão importante quanto à Polícia Federal. É a mesma coisa que eu falar para você que pode ser sargento do Exército, mas não pode ser da Aeronáutica, por questões pessoais. Estou cobrando dele, até porque eu respeito a Constituição e vou fazer de tudo para que ela seja valorizada. Agora, outros ministros e outras autoridades precisam fazer a mesma coisa. Tudo tem limite. Esta decisão do senhor Alexandre de Moraes, não engoli ela no dia de ontem, é uma afronta à pessoa do presidente da República”, argumentou Bolsonaro.
O presidente ainda citou que o ministro da Suprema Corte levou em conta a questão da impessoalidade para impedir a nomeação do diretor-geral da PF. “O senhor Ramagem eu conheci no segundo turno da eleições, depois da troca de delegados e de comando da PF. O quadro do senhor Ramagem é especialíssimo, é o que a PF tem de melhor. É uma pessoa que conversava comigo, que tomava café comigo. Daí, o senhor Alexandre de Moraes alegou questões de familiaridade. Estou cobrando do ministro uma posição se o senhor Ramagem pode continuar na Abin ou não, se ele deve ir para uma quarentena, se isolar, já que ele não serve para trabalhar pela nação. Se ele não serve para ser diretor da PF, não serve para ser diretor da Abin. É uma questão de coerência, até para evitarmos uma crise institucional. Não serei um presidente refém de decisões monocráticas de quem quer que seja”, completou.
Ainda nessa quarta-feira, Bolsonaro garantiu que irá recorrer da suspensão da nomeação. A declaração do chefe de Estado acabou desautorizando a Advocacia Geral da União, que anteriormente havia afirmado que não iria apresentar recurso.
Pandemia
O presidente considerou que parte da imprensa usa suas declarações para fazer um carnaval em torno da pandemia do novo coronavírus. “Para 80% da população não vai ser nem uma gripezinha, não vai ser nada, não vai nem saber que teve. Os 15%, 20% restantes precisam tomar cuidado. Talvez eu tenha pego este vírus no passado e nem senti”, afirmou.
Ao falar do isolamento social, Bolsonaro reiterou que a medida partiu de governadores e prefeitos, além do STF. “Quem fez o isolamento horizontal foram governadores e prefeitos. Quem decidiu isso foi o Supremo Tribunal Federal. Então, com todo o respeito ao governador do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite) e aos senhores prefeitos, mas foram eles que decidiram. Se tem algo de errado, é preciso rever. Se acham que estão certos, continuem. Eu não posso fazer nada”, disse, comentando também que recursos foram “dados” para todos governadores e muitos prefeitos.
“Eu fiz a minha parte e não vou interferir em nada. Vocês acreditam nos números do Brasil? Tem prefeito, tem gente, que está potencializando o número de óbitos para justificar as medidas restritivas que eles tomaram”, argumentou.
Impeachment e o exame de Covid-19
Bolsonaro diz que não teme o impeachment, algo que tem sido comentado por alguns políticos do Congresso Nacional. “De jeito nenhum. O homem que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde. Que venha o impeachment um dia, mas que seja baseado em fatos. Um dos pedidos de impeachment foi elaborado na solicitação do meu exame de Covid-19. Isso é um absurdo. Não tem materialidade para isso, zero”, destacou.
Ao ser questionado sobre a divulgação do seu exame para o novo coronavírus, Bolsonaro comentou que há uma liminar em primeira instância. “Está na lei que se eu estiver acometido de uma doença grave, isso pertence a minha intimidade. Eu não tenho que mostrar para ninguém que estou com isso. Eu já falei que não estou com coronavírus, eu já fiz dois exames por livre e espontânea vontade. Isso pertence a minha intimidade. Mas mandei recorrer porque eu tenho este direito, assim como qualquer cidadão. Se, no final da linha, a Justiça determinar, eu vou divulgar”, acrescentou.
Nesta quinta-feira (30), se encerra o prazo concedido pela Justiça Federal à União para que fossem apresentados os exames para diagnóstico do novo coronavírus realizados pelo presidente. Na segunda-feira (27), por decisão da juíza Ana Lúcia Petri Betto, o jornal O Estado de S. Paulo conseguiu na Justiça o direito de obter os testes de Covid-19 feitos por Bolsonaro.
Bolsonaro fez o exame para o vírus duas vezes, em 12 e 17 de março, após voltar de missão oficial nos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. Nas duas ocasiões, o chefe do Executivo informou, via redes sociais, que testou negativo para a doença, mas não exibiu cópia dos resultados. Pelo menos 23 pessoas que acompanharam o presidente na visita aos Estados Unidos, incluindo auxiliares próximos, foram diagnosticadas posteriormente com a doença. (Correio do Povo)