Porto Alegre, sexta, 20 de setembro de 2024
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A nova censura é privada, por Paulo Moura/ Revista Esmeril

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O cientista político Paulo G. M. de Moura disseca as múltiplas faces da censura digital que tomaram conta do território antes dominado pela mídia tradicional e mão pesada do estado totalitário

 

 

Na Roma Antiga, censurar era função de um detentor de cargo público. Sendo assim, o censor era um oficial responsável por garantir a “moralidade pública” e fiscalizar as finanças governamentais. A função de “garantia da moralidade” é a origem do sentido das palavras “censor” e “censura”.

Os termos se aplicam ao controle sobre meios informativos. Na interpretação tradicional do latim, censura seria a desaprovação e a remoção da circulação pública de informação ou de produções artísticas com objetivo de proteção dos interesses do Estado, de uma organização, grupo ou indivíduo. A censura presta-se à manutenção de status quo vigente, de modo a evitar mudanças no pensamento dominante que sustenta o poder de um determinado grupo social, prevenindo a disposição de mudança de estruturas de poder ou de padrões de comportamento social que sustentam esse poder.

Numa acepção mais ampla do que aquela aplicada à censura praticada pelo Estado, podemos encontrar a prática associada a centros de poder e influência, tais como certos grupos de interesses (ONGS e movimentos sociais, instituições religiosas, e recentemente corporações privadas de mídia) como forma de preservar a hegemonia de grupos dominantes ou servir de instrumento para a conquista de poder ou mais influência.

Limitar ou impedir o debate e o conflito de ideias e valores antagônicos aos dominantes na sociedade é outro método de censura praticado para além dos limites do controle do Estado.

Como se vê, a conceito antigo de censura evoluiu de uma situação em que se associava apenas à uma prática de Estado visando preservar o poder dominante, para um conceito mais amplo e sofisticado que implica em práticas associadas a diversos grupos sociais como instrumento de luta por hegemonia cultural, que é o que sustenta o poder de fato sobre as sociedades.

A era digital proporcionou um novo ciclo evolutivo na forma como se pratica a censura. O bullying politicamente correto sobre as opiniões divergentes em círculos sociais de convivência e na mídia, por exemplo, está entre as novas formas de censura.

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