Porto Alegre, domingo, 10 de novembro de 2024
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Morre José Paulo de Andrade. O Rádio perde um Professor e os ouvintes um defensor contra os poderosos; por Felipe Vieira

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José Paulo de Andrade trabalhou 60 anos no Rádio, 57 dele na Bandeirantes.

 

 

Perdemos hoje um dos grandes do Rádio Brasileiro. José Paulo de Andrade é um profissional que merece a adjetivação de professor, foi mestre de várias gerações. Um exemplo de profissional dedicado principalmente ao rádio – 60 anos de profissão, desses, 57 de Rádio Bandeirantes/SP, com longa participação também na Band TV. A primeira vez que ouvi José Paulo de Andrade foi na década de 1970, via Ondas Curtas. Sim, Ondas Curtas! A gente tinha um rádio em casa, e eu queria ouvir além da Guaíba, Gaúcha, Difusora, Caiçara e mais tarde a minha querida Sobral. Mexe para lá, mexe para cá no dial, e encontrava alguém falando de longe: Buenos Aires, Montevidéu, Rio de Janeiro, Recife, São Paulo… Um dia, explode no meu ouvido o vozeirão do José Paulo de Andrade. Foi admiração “à primeira ouvida”. Voz potente e dedicada ao ouvinte.

Há algum tempo digo que todos nós temos “patrões”, mas quem manda na gente é o ouvinte. Se eles não gostarem do que dissermos e da forma como dissermos, perdemos o sentido da profissão que é informar, mas, principalmente trabalhar por uma sociedade melhor. José Paulo também tinha esse entendimento. Ele teve forma, conteúdo e respeito aos “chefes” dele. Acordava São Paulo e boa parte do País, com seu “Pulo do Gato”, com muita prestação de serviço. Depois, voltava com o Jornal Gente sendo contundente com os poderosos.

Eu não o conheci pessoalmente, participei algumas vezes do “Jornal Gente/SP” na época em que era o âncora do mesmo programa em Porto Alegre. Na primeira vez que participei, tive a mesma sensação das vezes que conversei ou encontrei figuras como Glênio Reis, Mendes Ribeiro, Flávio Alcaraz Gomes, Jayme Copstein, Amir Domingues, Bira Valdez… eu estava mesmo que a distância, “em frente” a um grande radialista. José Paulo está no meu Panteão dos grandes. Recentemente, participei de uma conversa com ele no BandNews TV. Tinha avisado o Eduardo Castro e o Marcelo D’Angelo, para que se preparassem, porque eu podia me emocionar, afinal de contas, o José Paulo era meu ídolo. Ele entra no ar e faz uma referência sobre a minha chegada ao BandNews TV e não termos nos encontrado “ainda” nos corredores da Band, tive que segurar a emoção.

Infelizmente, nossos encontros aconteceram apenas “no ar”, não pude trocar cumprimentos, abraços e principalmente ser aluno do José Paulo. Mas são tantos os ensinamentos que ele me transmitiu como ouvinte e telespectador, que a sensação é da perda de um grande amigo. José Paulo partiu hoje, mas fica o exemplo para mim e várias gerações de jornalistas de um profissional totalmente dedicado ao seu patrão: o ouvinte.