Porto Alegre, terça, 23 de abril de 2024
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Eleições 2022: Corrida ao Senado movimenta todo o cenário eleitoral do RS. Eleição presidencial, negociações nacionais, alteração de regras, atritos internos e trocas de partidos são alguns dos ingredientes que devem acirrar ainda mais a disputa; por Flavia Bemfica/Correio do Povo

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Foto: Agência Brasil
Repleta de nomes de peso, com definições atreladas a articulações nacionais, e com espaço para apenas um eleito em 2022, a disputa pelo Senado no RS no próximo ano promete ser tão acirrada quanto a corrida ao governo. A 16 meses das eleições gerais, já há pelo menos 10 cotados. Internamente, o número está longe de desanimar quem costura indicações. “Com tantos candidatos, são fortes as chances de você se eleger com 30% de votos, ou até um pouco menos”, resume um deles.
As lideranças partidárias e os próprios cotados sabem que nem todos estarão de fato na disputa, já que o pré-lançamento de nomes, na política, funciona como forma de impulsionar candidatos a outros cargos (são eleições gerais em 2022) e fortalecer posições dentro de alianças. Mas entendem que não há tempo a perder na movimentação para o ano que vem, porque ela faz parte de um jogo bem mais intrincado. Nele, há um grau de dependência de duas outras corridas – a da presidência da República e a do Palácio Piratini – como há décadas não acontecia.
Confira, a seguir, os principais nomes trabalhados e cenários projetados pelas lideranças partidárias das diferentes siglas.
Ana Amélia Lemos (PP): A secretária estadual de Relações Federativas pleiteia retornar ao Senado, mas enfrenta resistências na própria sigla e pode migrar para o PSDB. O desgaste com o PP vem desde 2018, quando foi vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência da República, contrariando os partidários que preferiam Jair Bolsonaro. As articulações nacionais espirraram no RS, onde o PP abriu mão da candidatura de Luis Carlos Heinze ao governo em favor de uma aliança com Eduardo Leite (PSDB), em nova vitória do grupo de Ana Amélia. Mas Alckmin fez menos de 5% dos votos, e foi Bolsonaro quem ganhou a eleição. No RS, Heinze sagrou-se senador com mais de dois milhões de votos. Agora, o PP planeja dar a vaga do Senado a um aliado em uma coalizão que tem Heinze pré-candidato ao Piratini. No PSDB, se Leite não conseguir viabilizar sua candidatura à presidência da República, Ana Amélia pode concorrer ao governo. A Câmara dos Deputados também não está descartada.
Beto Albuquerque (PSB): O PSB gaúcho ventila lançar Beto ao governo, mas, nos bastidores, ocorrem encaminhamentos paralelos. Sem mandato desde 2015, o ex-deputado viu sua influência no partido desidratar. E, após décadas de relação conturbada com o ex-aliado PT, não esconde o desconforto com as articulações nacionais do PSB para apoiar Lula para presidente em 2022. Descontente, chegou a conversar com o PSD. Agora, é assediado pelos pedetistas, que apontam como concreta a possibilidade de que migre para a sigla e dispute por ela o Senado. Já concorreu ao Senado em 2018 e, apesar de não se eleger, fez votação expressiva. Para dirigentes do PDT, a sintonia com Ciro Gomes facilita o entendimento. E uma chapa com Romildo Bolzan ao governo e Beto ao Senado estaria ‘na medida’ para equilibrar as preferências do eleitorado, já que Beto é colorado ferrenho.
Eduardo Leite (PSDB): O governador trabalha há meses no sentido de obter a indicação de seu partido para a disputa à presidência da República. De modo a ganhar musculatura em uma partida que tem, com pretensões idênticas, o governador de São Paulo, João Dória, vem costurando uma articulação local. Para ela, atraiu, por enquanto, parte significativa do MDB e siglas como o PSD e o Republicanos. As negociações ajudaram ainda a implodir o PTB, e uma parcela de ex-petebistas irá para o PSDB. O Senado, destacam interlocutores, é um Plano B que só se tornará opção caso Leite não consiga vencer a disputa interna em seu partido para a corrida presidencial. Há, entre tucanos, quem defenda também que concorra à reeleição, apesar de Leite seguir assegurando que esta possibilidade está completamente fora de questão. Para disputar qualquer cargo que não o de governador, precisa se afastar do posto seis meses antes das eleições.
Hamilton Mourão (PRTB): Preterido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na composição da chapa para sua tentativa de reeleição em 2022, o vice-presidente não descarta publicamente nem a possibilidade de disputar o Senado pelo RS e nem a de entrar em uma corrida pelo governo do Estado. A segunda alternativa, contudo, é vista como remota por lideranças de siglas como o PP e o DEM, que cortejam o general da reserva para 2022. O que avança no Estado são tratativas para que o PRTB integre a coalizão em torno da candidatura do senador Luis Carlos Heinze (PP) ao Piratini. Dentro dela, o nome de Mourão ganhou força para ocupar a vaga do Senado na chapa. Outra possibilidade é de que o partido feche com o DEM, caso a sigla de fato apresente candidato ao governo, e Mourão, da mesma forma, se apresente para o Senado. Há ainda um terceiro cenário, no qual ele optaria por não concorrer a qualquer cargo.
Jerônimo Goergen (PP): O deputado federal comunicou em fevereiro ao partido sua disposição de concorrer ao Senado. A pretensão, contudo, têm pouca chance de prosperar. O próprio parlamentar vem destacando que suas aspirações não serão obstáculo para qualquer outro ‘caminho’ que o partido opte em seguir. Entre deputados do PP, a posição de Goergen é considerada importante no sentido de que ele se mantenha como um dos nomes fortes da legenda em outra corrida de 2022, aquela pelas cadeiras da Câmara Federal. Para o Senado, o PP gaúcho prioriza no momento outros planos. Entabula tratativas com uma série de siglas, entre elas o DEM e o PRTB, de modo a conceder a vaga a um aliado e formar uma coalizão que estabeleça um palanque forte no RS para a tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), reforçando ainda mais o alinhamento já definido a partir da candidatura ao governo.
José Ivo Sartori (MDB): O ex-governador tem a ampla preferência dentro do MDB para concorrer ao Senado, e seu grupo trabalha neste sentido. Mas a aproximação de emedebistas com o PSDB embaralha o jogo. Eduardo Leite (PSDB) monta com uma fatia do MDB um cenário no qual ele disputa a presidência da República e apoia um candidato do MDB a sua sucessão no governo. Em troca, a sigla dá palanque no RS a sua candidatura nacional. Há pelo menos dois complicadores nas negociações: a vaga ao Senado e o fato de o grupo de Sartori ser expressamente contrário ao apoio a Leite. Grande parte dos emedebistas defende ainda que, mesmo no caso de coalizão com o PSDB, o MDB fique tanto com a vaga do governo como com a do Senado, cabendo ao PSDB o vice. Essa linha tira Ana Amélia da corrida. Ainda menos provável, segundo dirigentes estaduais, é o MDB ficar apenas com a vaga do Senado. Outra possibilidade em análise é o partido liderar uma coalizão sem o PSDB e garantir as duas vagas.
Lasier Martins (Podemos): Eleito em 2014 ao Senado pelo PDT, o jornalista na época obteve vitória sobre dois concorrentes fortes. O ex-governador Olívio Dutra (PT), com quem polarizou toda aquela eleição, e a quem venceu por uma diferença de pouco mais de 100 mil votos. E o ex-senador Pedro Simon (MDB), que tentava o quinto mandato. Ameaçado de expulsão após votar pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), Lasier deixou o PDT no final de 2016 e, na sequência, foi para o PSD. Em 2019, saiu do PSD e migrou para o Podemos. Agora, se prepara para enfrentar uma corrida ainda mais difícil. Colegas de diferentes legendas em Brasília apontam que ele dependerá em grande medida de sua própria imagem, já que enfrentará nomes e partidos ‘grandes’ e o Podemos, mesmo absorvendo ex-petebistas, ainda tem no RS uma estrutura bastante enxuta. Por isso, não está descartada a aliança com um partido que tenha candidato ao governo.
Manuela D’Ávila (PCdoB): A ex-deputada é cotada para o Senado, mas, em tratativas reservadas que envolvem os comandos nacionais do PCdoB, do PT e do PSB, a articulação que prospera é a de que dispute o governo após definições envolvendo PCdoB e PSB. O primeiro se empenha para tentar fazer passar na Câmara dos Deputados a criação de federações partidárias nacionais, mecanismo que permite sua sobrevivência e a de outros partidos ameaçados pela cláusula de barreira. Se as federações não vingarem, o caminho mais provável é o da fusão do PCdoB com o PSB. A união ajudaria a diminuir o peso do adjetivo ‘comunista’. Em ambos os cenários, o Senado funciona como uma espécie de cortina de fumaça na qual o objetivo de fato é lançar Manuela ao governo como representante do PCdoB e PSB, e em aliança com o PT. A postura do PSB gaúcho, contudo, tende a ser um complicador importante. Pelo menos desde 2014, a sigla no RS se alinha a administrações de centro-direita.
Onyx Lorenzoni (DEM): o Senado se tornou uma alternativa concreta para o ministro da Secretaria Geral da presidência da República dentro das articulações mantidas por PP, DEM e outras siglas. Ele trabalha desde 2018 por uma candidatura ao governo, mas a disputa das mesmas parcelas do eleitorado com Luis Carlos Heinze (PP) é apontada por negociadores do PP e do DEM como arriscada, e com maior prejuízo para Onyx. Na concorrência, também passaram a circular especulações de que, conforme o caminho a ser trilhado pelo DEM nacionalmente, o ministro pode acompanhar Bolsonaro para o partido a que este se filiar. No RS, por enquanto, a hipótese é vista como pouco provável. Mais força vem ganhando a articulação para uma coalizão com o PP e o PRTB. Se as negociações vingarem e houver muita pressão para entregar a vaga do Senado a Hamilton Mourão, o ministro poderá concorrer à reeleição para a Câmara dos Deputados.
Paulo Pimenta (PT): É o nome que desponta nas costuras internas do PT para a disputa ao Senado, embora assegure que
seu objetivo é ser candidato a mais um mandato na Câmara Federal. As costuras levam em conta toda a articulação nacional para fortalecer a candidatura de Lula à presidência da República, o que inclui o PT abrir mão de candidaturas aos governos estaduais em alguns importantes colégios eleitorais. A ideia que vem sendo gestada é lançar Pimenta ao Senado em um cenário no qual o PT se alia ao PCdoB e ao PSB nacionalmente e, no RS, apoia a candidatura de Manuela D’Ávila (PCdoB) ao governo. Em troca de deixar para um aliado a cabeça de chapa, a sigla pleitearia a vaga de vice e também a do Senado. Se o plano vingar, o partido quer indicar para vice de Manuela o deputado estadual Edegar Pretto. Que, hoje, o PT apresenta publicamente como seu pré-candidato já definido ao Piratini. De novo, o PSB vai ser um complicador importante e pode fazer naufragar a estratégia petista. (Correio do Povo)