Em 2014, Dilma Rousseff enfrentava um nível considerável de rejeição em sua campanha à reeleição devido, entre outras coisas, à onda de protestos populares iniciada em junho de 2013. Sob orientação do marqueteiro João Santana, a então presidente — em vez de tentar reverter a sua imagem negativa com realizações e propostas — passou a desconstruir seus principais adversários, especialmente a ex-senadora Marina Silva, que chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto. A propaganda eleitoral do PT atribuiu a Marina um pacto com banqueiros para tirar a comida do prato dos brasileiros. Foi apenas uma das mentiras contadas. A estratégia deu certo, a rival perdeu apoio, Dilma foi reeleita, e o resto da história é conhecido. Desde então, a reprovação aos governantes e as campanhas baseadas em agressões e ódio só avançaram. O ápice desse processo será a sucessão presidencial de 2022, considerada desde já por políticos e especialistas “uma eleição de rejeição”, em que deve se sagrar vencedor não necessariamente quem apresentar as melhores propostas, mas quem for menos repudiado pelo eleitor.
A pouco menos de um ano da votação, o ambiente não é favorável aos postulantes ao Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro tem índices de rejeição acima de 60%. Seu ex-ministro Sergio Moro, que acaba de se filiar ao Podemos, lida com números parecidos. Os porcentuais de Lula são menores, na casa dos 40%, mas até agora ele não foi submetido à artilharia pesada dos concorrentes, o que certamente ocorrerá. Todos os três têm passivos conhecidos que ajudam a explicar a situação. No caso de Bolsonaro, a pandemia e a crise econômica. No de Moro, a parcialidade na condução da Operação Lava-Jato. No de Lula, os escândalos de corrupção dos governos petistas, com destaque para o petrolão, que rendeu ao ex-presidente 580 dias de prisão. Apesar desses problemas específicos na ficha de cada um, a rejeição não é restrita a eles e nem pontual. Pelo contrário, tornou-se estrutural. Mesmo pré-candidatos desconhecidos do grande público não recebem um voto de confiança do eleitorado. A taxa de rejeição ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é de expressivos 36%, com um índice de desconhecimento de 56%.
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