No dia 26 de maio de 2020, no auge dos ataques do “grupo dos 300” ao STF, sob liderança da ativista Sara Winter, e que marcaram os dias de maior tensão contra a democracia, com ameaças e xingamentos feitos aos magistrados da Suprema Corte, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), deu uma demonstração inequívoca de como funciona a máquina do ódio e perseguições a inimigos do presidente, coordenada pelo “gabinete do ódio”. O general chamou os integrantes dessa facção criminosa ao Palácio do Planalto, onde fica o GSI, e orientou a estratégia do movimento. A ordem era para que o grupo de amalucados deixasse de dirigir ofensas ao então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e também aos jornalistas que cobriam os atos em Brasília. O general recomendou ao grupo que direcionasse as agressões ao Supremo. O encontro durou uma hora, mas outras reuniões semelhantes aconteceram no Planalto. Heleno confirma que escalou o capitão de fragata Flávio Almeida, da comunicação social do GSI, para fazer ponte com o “grupo dos 300”.
Em depoimento à delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro (PF), no final de 2021, o general confirmou que se reuniu com as lideranças do grupo da extrema direita bolsonarista, embora tenha negado orientar a ação dos radicais. Mas o militar, principal ministro de Bolsonaro, e que foi ao depoimento na PF acompanhado por dois altos assessores, como seu chefe de gabinete, Ricardo Ibsen Pennaforte de Campos e major Gilvane Maria Leite da Frota, foi confrontado de pronto pela própria delegada que conduzia a investigação por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF e responsável por cinco inquéritos contra o ex-capitão e seus filhos, entre outros. A delegada surpreendeu o general com informações obtidas pelos investigadores no inquérito. “Informado neste ato que a Polícia Federal possui dados que indicam a existência de pessoas vinculadas diretamente à Presidência da República responsáveis por emanar diretrizes ou orientar ações virtuais concentradas, por múltiplos canais, inclusive com ataques à honra de desafetos ou pessoas que se opõem a atos do governo federal, indaga-se qual é o seu conhecido ou participação em relação a essa prática, respondeu que desconhece os dados mencionados”. Era óbvio que ele iria dizer que desconhecia a acusação grave que lhe estava sendo assacada naquele momento, partindo, de chofre, da encarregada direta do inquérito aberto para apurar quem comandou os atos antidemocráticos. O general é suspeito de “ter coordenado, estimulado, anuído, pessoalmente ou por intermédio de outra pessoa, as ações de descrédito ou ataque à honra de desafetos do presidente”, como consta no relatório da delegada. No ano passado, inclusive, Sara Winter confirmou com exclusividade à ISTOÉ que havia recebido orientações do general Heleno para que atacassem o STF durante a ação do acampamento do seu movimento, o “300 do Brasil”. O inquérito parcial da PF sobre os ataques à democracia foi concluído pela delegada Denisse Ribeiro no último dia 11 e resultou em um relatório de 47 páginas, ao qual ISTOÉ teve acesso, e que foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes exatamente no mesmo dia em que ela pediu afastamento do cargo para licença maternidade de seis meses. Em seu comunicado, ela pede que outros delegados sejam nomeados pelo magistrado para que as investigações tenham continuidade.
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