Em 2018, entrevistei Marina Silva como parte de uma série que conduzi com os presidenciáveis. Ainda que eu já tenha entrevistado inúmeros líderes no mundo todo, estava bastante empolgado para sentar e conversar com ela.
Apesar de algumas diferenças políticas, sempre vi Marina como uma das figuras mais extraordinárias e inspiradoras da política mundial. Como é que alguém poderia vê-la de outra forma?
Tendo enfrentado uma vasta gama de privações e dificuldades na infância, Marina, através da determinação e força de vontade, passou de adolescente analfabeta à acadêmica respeitada, ambientalista sofisticada e uma liderança política de projeção nacional cuja vida pública serve de exemplo de honestidade, dignidade e integridade.
Eu comecei a entrevista perguntando a respeito de um dos momentos marcantes da campanha de 2018: uma discussão dramática com o então candidato Jair Bolsonaro sobre a retórica “politicamente violenta” que ele utilizou no debate presidencial que acabara de ocorrer.
Em sua resposta, Marina afirmou ver a candidatura de Bolsonaro como perigosa, mas logo virou a chave e atribuiu culpa ao PT por inaugurar o que chamou de “uma visão política que valoriza mais a cultura do ódio e polarização do que o debate.”
Marina insistiu que o “gabinete de ódio” não surgiu com o Bolsonarismo, mas sim com o PT. Ela lembrou as eleições de 2014, quando o PT, assustado com seu crescimento rápido nas pesquisas, tentou destruir sua candidatura não através de críticas à sua visão política ou a seus projetos, mas por meio de “um processo violento” alimentado por “mentiras e ódios”, visando destruir o que ela, e qualquer pessoa, possui de mais sacrossanto: sua trajetória, sua história, sua biografia.
Ainda que eu compreendesse racionalmente seu argumento —vi em 2014 alguns dos ataques e mentiras preconceituosas contra ela—, havia parte de mim que estranhava o fato de Marina seguir insistindo nessa história tanto tempo depois
Hoje, entendo perfeitamente o sentimento dela. Nos últimos meses, vi esse mesmo setor do PT, a sua ala mais fanática e odienta, usar essas mesmas táticas de destruição pessoal para espalhar mentiras e tropos bem preconceituosos sobre meu marido, o deputado federal David Miranda (PDT-RJ), sobre nosso casamento e nossa família.
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