Porto Alegre, quarta, 27 de novembro de 2024
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Parabéns, Porto Alegre! Capital gaúcha ganha Mario Sergio Cortella como seu mais novo cidadão; por Felipe Vieira

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Nasceu hoje, já com 68 anos de idade e 50 de Porto Alegre, o mais novo cidadão da Capital gaúcha. O filósofo, escritor e conferencista e ‘gente boa’ Mario Sergio Cortella, recebeu o título na Câmara de Vereadores no início da noite. Natural de Londrina, o educador, professor universitário, autor de vários livros e coautor de outros tantos, ‘habitué’ de programas de rádio e tevê, articulista em jornais de grande circulação e peregrino da palavra que leva o seu vasto reportório a plateias, redes sociais e o Youtube, onde mantém um canal e perfis ativos foi finalmente homenageado pela cidade que tanto gosta e onde viveu um de seus poetas preferidos, Mario Quintana.

Há alguns dias, na BandNews FM Porto Alegre, tive a oportunidade de conversar novamente com meu amigo e guru. Durante o bate-papo, Cortella revelou que esteve em Porto Alegre, pela primeira vez, faz 50 anos. Em 1972, último ano do colegial embarcou em uma aventura com amigos, rodando de Jipe, veio desde Londrina até Santa Vitória do Palmar, passando pela reserva do Taim. A caminho, fizeram a parada estratégica em Porto Alegre, que o encantou e onde ele incontáveis vezes retornou nas últimas cinco décadas. Na volta ao Paraná, a conclusão do curso, o cursinho pré-vestibular, a opção pela Filosofia e em meio a tudo isso, as questões religiosas falaram alto e ele decide entrar nos Carmelitas Descalços. Entre os anos de 1973 e 1975, viveu a vida monástica num convento da Ordem Religiosa.  Graduado em 1975, fez mestrado e doutorado em Educação e abandonou a perspectiva eclesiástica e seguiu a carreira acadêmica. Orientado por Paulo Freire, aquele que muitos atacam e quase ninguém leu e que Cortella seguidamente recorda em suas falas, ” Paulo Freire não estudou em Harvard, mas Harvard tanto estudou Freire que o transformou em Cátedra.”  O Papa Francisco diz que, “Deus chama-nos a fazer parte da Igreja e, depois dum certo amadurecimento nela, dá-nos uma vocação específica.”, no caso de Cortella ser um cidadão do mundo.

A bem da verdade, pela dimensão de Cortella, homem e obra, não seria piegas eu carregar em adjetivações e salamaleques. A vida de Mario Sergio renderia uma saga em três volumes, no mínimo. Torcedor do Santos, casado com Claudia, a esposa que torce para o Palmeiras e viajou com ele para receber o prêmio na Câmara Municipal de Porto Alegre. Além de Quintana, é leitor da obra de Moacyr Scliar, Luis Fernando e Erico Verissimo, cujo livro “Incidente em Antares” o atraiu em especial, em função da proposta sobrenatural no realismo fantástico da obra, que ele define como “esotérica” pela discussão que propõe de forma subliminar, remetendo à Filosofia. Leitor literalmente voraz, contabiliza a leitura de mais de 10 mil livros desde as primeiras leituras aos 8 anos, quando encantou-se com a literatura, durante resguardo em função de uma Hepatite viral. Acamado por três meses, começou a ler gibis, histórias infanto-juvenis e Monteiro Lobato (aquele que hoje muitos querem cancelar). Na sequência, descobriu Dostoiévski, Cervantes,  Eça de Queirós… Música? Adora! Pisciano, nascido no dia 5 de março, mesma data em que Heitor Villa-Lobos, Cortella recorda que costumava ouvir, pelas ondas do rádio em Londrina, as músicas de  Vítor Mateus Teixeira, o imortal Teixeirinha e ao longo da vida virou fã do ‘agora conterrâneo’ Lupicínio Rodrigues.

Cortella e Claudia

Em Porto Alegre, nesse domingo repetiu a visita que faz sempre à Casa de Cultura Mario Quintana – quando a agenda permite – pela primeira vez ao lado de Claudia, dali seguiram para o Embarcadero, onde contemplaram o pôr-do-sol no Guaíba. O mais novo Cidadão de Porto Alegre, não dirige e não possui carteira de motorista; é daqueles homens que sabe que se vai longe caminhando, e com certeza em suas passadas está presente Antonio Machado, “caminante, no hay camino  se hace camino al andar”.  Em um trecho de nossa conversa radiofônica, sobre a internet e o fato de que qualquer pessoa pode amplificar conteúdos, com boas ou más intenções, Cortella citou uma frase do psicanalista, filósofo humanista e sociólogo alemão, Erich Fromm: “Liberdade não significa licença”. E exemplificou: “o fato de eu poder beber e dirigir, não significa que tenho autorização para fazer o proibido, apesar da liberdade de tomar a decisão”.

Cortella me ensina a cada nova entrevista e encontro e lá se vão mais de 20 anos, quando fomos apresentados pelo nosso amigo Vitinho Faccioni, na década de 1990. Desde então foram dezenas de encontros onde eu estava na plateia aplaudindo, ou no palco mediando e não importa o lugar aprendendo. Não tenho dúvida em afirmar que os melhores encontros foram em torno da mesa. Por sinal, há uns dez anos Cortella esteve em Porto Alegre e recebeu uma garrafa de vinho nobre italiano presenteada por um amigo. Como ele viaja e não costuma carregar muita coisa, faltou espaço em sua bagagem para acomodar o “mimo”, daí que eu sou até hoje o fiel depositário. Já estivemos juntos em ‘asados’ na minha casa, mas achamos que vinhos ‘gaúchos e gauchos’ combinam melhor com carnes, não bebemos e ele não levou a garrafa. Hoje estou em São Paulo e, por causa da pandemia e dos cuidados que ele teve, mantendo-se resguardado, ainda não pudemos nos encontrar para eu devolver o vinho, ou degustarmos juntos, comendo carne de costela e cordeiro,  brindando a vida e filosofando. Porque não importa a hora e local, não existe nada melhor que uma boa prosa com o mais novo Cidadão Porto-Alegrense.