Nesta segunda-feira, mais uma vez, estive frente a frente com a Irmã Lucia, e de novo me emocionei. Ela não recorda do nosso primeiro encontro, em pleno corredor do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, quando nos acalentou após a perda de um amigo. Ele recebeu o melhor tratamento possível, e nós recebemos afeto, carinho, respeito e uma palavra amiga na voz suave dela, que há 57 anos ingressou na congregação das Missionárias de São Carlos Scalabrinianas.
Desta vez, pude conhecer mais sobre a trajetória da religiosa que percorre os corredores de diferentes instituições de saúde no Estado, alentando pessoas e, ao mesmo tempo, verificando como presidente tudo o que acontece na Associação Educadora São Carlos, mantenedora do Hospital Mãe de Deus e do Centro Clínico Mãe de Deus, de onde transmitimos ao vivo nesta segunda-feira, 7 de novembro, um programa especial para o Band News 2ª edição. A AESC, sediada em Caxias, representa a personalidade jurídica desse e de vários outros trabalhos, em obras nos campos da Saúde, Educação e Responsabilidade Social com o acolhimento aos migrantes.
Vocacionada para o ensino, desde muito jovem sonhou em fazer uma carreira como educadora. Na época, o único caminho passava pelo ingresso em colégios, internatos ou aspirantados, que foi a sua opção, porque desejava seguir o exemplo das religiosas que então coordenavam o Colégio São Carlos, em Caxias. “A juventude traz vida pra gente. A juventude é algo positivo”, resume a religiosa, ao recordar os anos letivos. Radicada em Porto Alegre, mora na capital gaúcha há 22 anos. Esteve 37 anos em sala de aula, antes de ser designada para cargos executivos de gestão em saúde. “O segredo é sair feliz de manhã cedo para cumprir com alegria aquilo que nos foi designado”, resume.
O Hospital Mãe de Deus foi a primeira grande obra entregue à sociedade pelas irmãs da congregação Scalabriniana. O Centro Clínico é referência em saúde, faz 25 anos. São 60 consultórios, mais de 30 especialidades médicas e 160 profissionais. O serviço é exemplo nacional em saúde, com foco no atendimento humanizado, e atenção à prevenção e tratamento de doenças. Para além da parte técnica e científica, que inclui a permanente qualificação das equipes, o complexo hospitalar destaca-se por um atendimento acolhedor (diferenciado para os pacientes, sem descuidar dos familiares).
Atualmente, na capital do Estado, também são responsáveis pelo Hospital Santa Ana e quatro Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), que atendem pelo SUS. No Litoral Norte, cuidam dos hospitais Santa Luzia, em Capão da Canoa, e Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres. Além disso, administram os três colégios da rede integrada: São Carlos, em Caxias do Sul; Nossa Senhora de Lourdes, em Farroupilha; e São Carlos, em Santa Vitória do Palmar.
A canonização no ano Scalabriniano
A Congregação dos Missionários de São Carlos, que tem nas irmãs missionárias uma de suas ramificações, foi criada pelo bispo da Diocese de Piacenza, na Itália, João Batista Scalabrini, em1887. As religiosas chegaram ao Rio Grande do Sul em 1915. Vieram com a finalidade de atender, inicialmente, aos migrantes de origem italiana. Em 1962, foi fundada a AESC, sediada em Caxias do Sul. 2022 é o ano em que celebram os 60 anos dessa trajetória.
A atenção ao migrante, causa originária da Congregação, segue guiando as Irmãs, que são responsáveis pelo Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), referência nacional em acolhida e integração de pessoas de outros países na serra gaúcha. “Estamos em Roraima, e no Acre para acolher aos venezuelanos. Acolhida, proteção, replanejamento das vidas dessas pessoas, mediação. Damos encaminhamento para trabalhos e moradia. Em Caxias, por exemplo, temos o Centro que atende em parceria com a Prefeitura e Polícia Federal”.
Ao mesmo tempo, em 2022, estão comemorando o 25º aniversário de beatificação de Dom João Batista Scalabrini, reconhecido pelo Papa João Paulo II como “Pai dos Migrantes”. Em 21 de maio, o Vaticano anunciou que Scalabrini seria proclamado santo. A solenidade de canonização aconteceu no mês passado.
“A sensibilidade do papa é muito grande, sempre olhando para os mais desfavorecidos, como os mais pobres e os que estão sem pátria. Estávamos festejando os 25 anos de beatificação e fomos surpreendidos com a canonização”, explicou irmã Lucia. Ao falar sobre o trabalho com os migrantes, destacou a presença da congregação nas fronteiras. “É reavivar o legado que ele nos deixou, que é cuidar bem dos migrantes”. Atualmente, as irmãs congregam pouco mais de 700 religiosas, distribuídas em missões espalhadas por 27 países.
Ciência e Espiritualidade
Lucia conheceu o Centro Clinico na planta. Enquanto era projetado, ela presidia a mantenedora do Mãe de Deus. “Eu tive a felicidade de ser a pessoa que inaugurou esse espaço. Ao longo dessa caminhada, a maior dificuldade sempre foi o desejo de crescer e ser maior, e não poder por falta de recursos. Me sinto muito feliz, pessoa privilegiada. Diante de mim, tenho todas as situações que poderiam acontecer num complexo hospitalar desse porte, mas estou rodeada por excelentes executivos. Gosto muito de trabalhar aqui, e vejo que a saúde é o ponto mais importante para o ser humano. Trabalhar em saúde é a melhor forma de entregar amor”.
Irmã Lucia diz que procura querer bem a todos, e entende que possui o dom de ser uma pessoa de presença acolhedora, com a capacidade de agregar, “porque ama com o coração”. Segundo ela, no hospital, também as equipes de assistência são orientadas a proceder dessa forma nos atendimentos. Irmãs, médicos e enfermagem trabalham juntos. “Ciência e espiritualidade trabalham juntas. Desenvolvemos um trabalho muito forte de humanização e espiritualidade, porque a espiritualidade faz parte da vida de cada um. Há um núcleo espiritual, digamos assim, impresso em nosso DNA. É o que move as pessoas, faz com que o ser humano busque seus sonhos, suas alternativas, algo que seja bom também para o outro. Nossa vida nos foi dada, também, para ser doada aos outros.”
Em um dos momentos da nossa conversa fizemos uma referência à palavra de Deus e ao vinho, por isso agradeço com o o meu melhor muito obrigado, aos profissionais da saúde que nasceram com o dom de tratar as pessoas, a João Batista Scalabrini, às irmãs Missionárias de São Carlos Scalabrinianas e brindo: Viva, Irmã Lucia e os seus !!.