Porto Alegre, terça, 24 de setembro de 2024
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Porto Alegre:Lipsen celebra dez anos como Gaiteiro do Brique neste domingo, 12 de março

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No domingo, 12 de março, o Gaiteiro se apresenta às 11h e 15h para celebrar essa década de arte e trocas no Brique. Foto: Inez Gelatti

 

O multiartista Lipsen comemora neste março uma data muito especial: uma década de arte de rua, especificamente, uma década como o Gaiteiro do Brique. O aniversário é no dia 10, mas a festa só poderia acontecer em um lugar: domingo, 12 de março, no Brique. Tudo começou um pouco antes, em setembro de 2012, quando se apresentou com seu acordeon pela primeira vez na rua, em Nova York, no Times Square. De volta ao Brasil, em março de 2013, foi com gaita e tudo para a Redenção. Formado em Teatro pela UFRGS, Lipsen já se apresentou nas ruas de Nova York, Paris, Berlim, Lisboa, Munique, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e até no programa Encontro com Fátima Bernardes.

Com apresentações que duram em torno de 1h30, o artista constrói uma performance que é mais que música, é conexão com o público: “o olho no olho foi um aprendizado que começou lá em Nova York sobre olhar para fora, olhar para as pessoas enquanto eu canto. Quando voltei a Porto Alegre e fui pro Brique senti um ambiente super acolhedor e passei a criar um show que era mais do que só música. Nos EUA a apresentação era de um músico de rua: eu ficava tocando e as pessoas passavam, filmavam um pouco, deixavam uma contribuição. Quando eu cheguei aqui, descobri que as pessoas queriam assistir o que tinha entre as canções. Comecei a criar piadinhas, contar histórias, introduzir uma música, essa coisa de parar para conversar, falar com o público. Eu crio uma dramaturgia com as pessoas ali, interessadas, inseridas dentro do show por essa janela que é o olhar. Elas estavam buscando isso, alguém falar com elas. O Brique ajudou a construir esse show. Acredito que isso vem muito de eu ser ator de teatro e ter unido as duas coisas na performance como ela é hoje”, revela.

Quando começou as apresentações na rua, o repertório era majoritariamente voltado a hits do momento, “bem chiclete – Lady Gaga, Adele, Anitta, pois causava muito estranhamento nas pessoas ao ouvir essas músicas tocadas no acordeon”. Com o passar do tempo a tracklist foi mudando e ficando recheada de hits dos anos 1980 – eu amo e as pessoas adoram quando toco músicas dos anos 80, tanto que brinco no show que as melhores coisas foram feitas nesta década, eu inclusive, sou de 1988”.

Lipsen Foto: Inês Gelatti

Por conta dessa vida multi, Lipsen trabalha com várias linguagens – o teatro, o audiovisual, a música, mas é na experiência como artista de rua que desenvolveu a arte do improviso. “Não tem escola nem faculdade que ensine o sexto sentido do artista de rua. Essa “cancha” de lidar com os imprevistos da rua é algo que nasce da experiência mesmo”, afirma. Segundo ele, há “3 Cs” que são elementos incontroláveis e que podem testar o talento do artista: criança, cachorro e cachaça. “Quando um dos Cs entra na roda, tudo pode ir por água abaixo, pode afastar o público e acabar com o show. Mas se o cara tiver jogo de cintura e for bom no improviso e no carisma, pode usar o inesperado para melhorar a apresentação”.

Ele conta que o tal sexto sentido do artista de rua também é sobre aprender a sentir as pessoas, se estão interessadas, o que pode render uma boa piada, o que não serve mais no repertório, “a hora de lembrar o público de contribuir no chapéu, tudo isso precisa de sensibilidade no “aqui e agora” que a gente tanto fala no teatro e está 100% presente na rua também”, revela.

Mas nem tudo é improviso no trabalho de quem faz arte na rua – há muita preparação antes da gaita começar a tocar, seja pela seleção do repertório, construção do roteiro do show e também os cuidados com a voz. “Eu me machucava muito no início, até pedir socorro para a fonoaudióloga Ligia Motta e aprender a aquecer, desaquecer, projetar a voz sem machucar… a Ligia ajudou muito, assim como outras professoras atrizes artistas de rua que foram dando pitacos”.

Lipsen não lembra quando o nome Gaiteiro do Brique surgiu exatamente, mas tem certeza que foi adotado pela tradicional feira dominical: “é muito bonita a relação de amizade e companheirismo com os artesãos expositores do Brique. Eu fui muito bem recebido desde o início, tenho a minha camiseta oficial, até um troféu com um mini gaiteiro eles me deram, pois entenderam que eu faço parte daquele ecossistema. O Brique realmente me acolheu de um jeito que outras praças e outras ruas não fizeram. O jeito que o show é, só acontece por ser no Brique, foi um match que funcionou e funciona até hoje. Vide o povo que junta na roda, o quanto eu e as pessoas voltamos pra casa felizes e quanto o chapéu volta pra casa cheio”.

No domingo, 12 de março, o Gaiteiro se apresenta às 11h e 15h para celebrar essa década de arte e trocas no Brique.