Porto Alegre, quarta, 27 de novembro de 2024
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RS: Conheça Malu Benitez, a patrona dos Festejos Farroupilhas

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Dona de uma voz potente, Malu não se faz ouvir apenas pelo seu canto. Ela é a quinta mulher a ocupar o posto de Patrona do Evento. Foto: Arquivo pessoal

Dona de uma voz potente, Maria Luiza Benitez não se faz ouvir apenas pelo seu canto. Sua trajetória também tem muito a dizer. Intérprete da música latino-americana, consagrada nos Festivais do Rio Grande do Sul, foi uma das precursoras do Movimento Nativista. Soma mais de 50 anos de carreira. Neste ano, em março, foi eleita patrona dos Festejos Farroupilhas, em votação da comissão do evento, que é presidida pela secretária adjunta de Estado da Cultura, Gabriella Meindrad. Desde que começou a ser feita essa escolha, em 2005, é a quinta mulher a representar os festejos. Antes dela, receberam o título: Nilza Lessa (2012), Elma Sant’Anna (2017), Alessandra Motta (2020) e Liliana Cardoso (2021).


Maria Luiza, mais conhecida como Malu, tem 71 anos. Neta de argentinos e filha de uruguaios, nasceu em Bagé. Foi lá que despertou sua paixão pelo jornalismo e se tornou a primeira repórter esportiva no RS. Mas foi em Porto Alegre que consolidou sua vida profissional na comunicação e na música.

Malu Foto: Arquivo Pessoal

A patrona dos Festejos Farroupilhas 2023 é formada em Direito e em História, com especialização em História do RS. É cantora, compositora, atriz, mestre de cerimônias, radialista e apresentadora de TV. Em 2008, foi agraciada com o troféu “Mulher Farroupilha”, instituído pelo governo do Estado por sua contribuição, através da música, para a arte e a cultura do RS. Em 2010, recebeu a medalha do “Mérito Farroupilha” – honraria máxima concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. No currículo, três edições do “Prêmio Press”, como locutora e apresentadora de notícias do ano.

Atualmente, concilia a agenda de shows com a rotina diária de locutora e apresentadora na Rádio Guaíba. Uma vez por semana, comanda o programa Fronteira Aberta, no estúdio do POA Streaming, no Shopping Total. À frente dos microfones também desenvolve um trabalho social, com a realização de campanhas, que informalmente ela chama de “Rede do Bem”. Em família, está entre dois Júlios – o marido, com quem é casada há 43 anos, e o filho, que tem 41. Na entrevista a seguir, conheça um pouco mais sobre a história de Malu Benitez.


Conte sobre o início da sua trajetória.

Trabalho em rádio desde 1969. Comecei em Bagé e sete anos depois me mudei para Porto Alegre. Apesar de estar na faculdade de Direito, eu queria muito ser jornalista. Em 1976, vim com a cara, a coragem, meus discos, meus livros e nada mais – além de 50 pila emprestados no bolso. Cheguei na rodoviária, tomei um banho e fui para a Rádio Gaúcha. Cheguei às 7h da manhã e até as 7h da noite fiquei esperando para fazer o teste. O diretor me chamou e disse assim ‘Vem aqui ô de Bagé, escreve aí uma crônica sobre Porto Alegre’. Fui contratada. Tempos depois, quando fazia o programa ‘A hora e a vez da mulher’, a Guaíba me ouviu e se interessou. Desde então estou na Guaíba.

E quando começou a apresentar programas na TV?

Eu tinha muita vontade de conhecer o Daudt (José Antônio Daudt). Fui até a TV Difusora, hoje Band, cheguei lá e me apresentei para ele. Nisso estava passando um diretor e perguntou se eu não queria fazer um teste para apresentadora. Passei e comecei a fazer o telejornal do meio-dia. Em 1980, fui para a TV Educativa, na época do governo Amaral de Souza. Comecei apresentando um programa chamado Invernada Gaúcha, com Darci Fagundes, que é o mais velho dos Fagundes. Os CTGs participavam e, no final do ano, dávamos uma premiação para os três primeiros lugares. A partir desse programa, amigos jornalistas e produtores resolveram criar o programa Galpão Crioulo, com o Nico Fagundes. Foram na minha casa ‘pedir uma mão’ e comecei a participar como madrinha do programa. No primeiro Galpão estou lá, com o meu filho com 3 meses de idade – hoje ele tem 41 anos.

Como era essa participação?

Eu participava como atriz. Não só cantava, como também criava personagens, como a costureira de campanha, a benzedeira… Fiz vários personagens no improviso. Chegava lá e perguntava ‘o que vamos fazer?’. Alguém contava uma história e a gente tinha que criar um texto em cima disso.

A senhora tinha alguma formação na área artística?

Dos 4 até os 15 anos eu fui guria interna. Primeiro em um internato de freiras, do qual eu fui expulsa, e depois em Santa Maria, no colégio Centenário, do qual também fui expulsa, porque eu era muito agitadora, as mulheres não me queriam lá porque eu agitava a tropa toda a fugir do colégio. Não era nada de mal, mas era agitadora. No colégio eu tinha várias atividades: estudava inglês, fazia teatro e cantava.

Antes a senhora falou do seu filho, ainda bebê, junto no estúdio. Como foi conciliar a vida profissional com a maternidade?

A minha vida sempre foi agitada, e com ele junto. Lembro que em 1981, grávida de sete meses e meio, percorri centenas de quilômetros, de micro-ônibus, para cantar na Califórnia de Uruguaiana. Depois que ele nasceu, muitas vezes ficava atrás do palco, dormindo dentro da caixa do violão ou em cima de um pelego. Uma vez eu estava apresentando um festival em Campo Bom e fiquei com um pouco de medo, porque o guri era danado e tinha um rio ali perto. Desesperada, no microfone, anunciei: ‘Menino Júlio Francisco Benitez Nascimento, sua mãe o aguarda nos bastidores’. A mãe, no caso, era eu! (risos). Na época ele tinha uns 5 anos de idade. Às vezes, ele até subia no palco para cantar em espanhol comigo. O pessoal adorava, achava maravilhoso. Mas foi só na infância, depois não seguiu carreira. Hoje ele mora no Rio de Janeiro.

Em paralelo aos festivais, seguiu no rádio e na TV?

Em rádio entrei em 1969 e estou até agora, com 71 anos. Então já são quase 54 anos. Atualmente, também tenho um programa que se chama Fronteira Aberta, no estúdio do POA Streaming no Shopping Total, ao vivo todas as quartas-feiras. Mas fica gravado nas redes sociais. É aberto a várias tendências musicais, mas principalmente à música gaúcha e à música latino-americana. O pessoal dos CTG’s, que não costuma ter muito espaço na televisão, tem mais uma oportunidade de se divulgar. Recentemente, por exemplo, recebi o CTG 35, que veio falar sobre a retomada das famosas penhas.

O que são penhas?

São noitadas nas quais se reúnem músicos, declamadores, pajadores. A gente passa a noite se apresentando, comendo, bebendo e trocando ideias. É como se fosse uma tertúlia, ‘é por aí que a lebre corre’. No final dos anos 1970 eu já participava de penhas no CTG 35. Já participei de penhas com Jayme Caetano Braun e com o Borghettão – pai do Borghettinho. O CTG 35 está voltando com isso e eu fiquei muito feliz. É muito bom porque traz o pessoal para dentro do CTG, principalmente aqueles que não se pilcham e não frequentam, mas que podem ir lá à vontade participar, porque gostam da cultura gaúcha.

Como recebeu o convite para ser a patrona dos Festejos Farroupilhas?

É um orgulho muito grande ser patrona dos festejos do Estado. Ainda mais por ter sido escolhida por unanimidade. Para mim, é como se fosse uma premiação, um troféu em reconhecimento ao meu trabalho, à minha estrada. Não sou uma frequentadora assídua de CTGs, mas sempre prestigiei. E sempre dei voz e espaço ao movimento, como estou dando agora, no programa Fronteira Aberta.

Mais uma vez, o evento dá protagonismo às mulheres.

Como mulher, me sinto muito honrada em receber esse título, pelo fato de que nós, mulheres, garantimos cada vez mais o nosso espaço. Em 1970, fui a primeira mulher repórter esportiva do Rio Grande do Sul. Quando entrava em campo, na minha terra, em Bagé, a discriminação era muito grande. Os homens não tinham o mínimo respeito. Não foi fácil, mas fiquei até que me aceitaram. Eu não gosto do separatismo. Não gosto de reunião só de mulheres nem de reunião só de homens. Para mim, os dois têm que caminhar juntos, na mesma direção. Fico feliz de o MTG já ter tido uma mulher como presidente (Gilda Galeazzi) e de os Festejos Farroupilhas já terem tido uma mulher negra como patrona (Liliana Cardoso).


Gostou do tema dos Festejos Farroupilhas deste ano, “Centenário da Revolução de 1923”?

Eu, que fiz pós-graduação em História do Rio Grande do Sul, estou achando maravilhoso o tema dos festejos deste ano. Lembro que nas comemorações dos 50 anos da Revolução, dois homens se encontraram em cima do palco: um disse ‘eu sou maragato’ e o outro disse ‘eu sou chimango’. Com os lenços, se cruzaram e disseram ‘nós somos o Rio Grande’. É isso que a gente quer, e assim é a mesma coisa em relação às mulheres. Que possamos nos dar as mãos e sermos parceiros.

Os patronos e patronesses dos Festejos Farroupilhas (*)

2005 Luiz Alberto de Menezes
2006 João Carlos D’Avila Paixão Cortes
2007 Antonio Augusto Fagundes
2008 Wilmar Winck de Souza
2009 Telmo de Lima Freitas
2010 Rodi Pedro Borghetti
2011 Alcy José de Vargas Cheuiche
2012 Nilza Lessa
2013 Nésio Correa – Gildinho dos Monarcas
2014 Benjamim Feltrim Netto
2015 Padre Amadeu Gomes Canellas
2016 Zeno Dias Chaves
2017 Elma Sant’Anna
2018 Renato Borghetti
2019 Cesar Oliveira
2020 Alessandra Motta
2021 Liliana Cardoso
2022 Adair de Freitas

(*) As escolhas começaram em 2005 | Fonte: site do MTG