Porto Alegre, quarta, 02 de outubro de 2024
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A chaga da Lava Jato, por Nicolau da Rocha Cavalcanti/O Estado de São Paulo

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A operação não apenas não reduziu a impunidade e a imoralidade pública, como reproduziu e agravou sérios problemas nacionais

 

 

Talvez seja tempo de reconhecer, sem medo, o que a Operação Lava Jato foi de fato. Aviso: nunca é indolor admitir a nudez do rei.

A Lava Jato foi apresentada como um grande movimento de expurgo da corrupção nacional e de purificação da política brasileira. Repetiu-se incansavelmente a mensagem. Homens justos, sem ambições políticas, aplicavam agora a lei de forma isenta. Pela primeira vez, o País enfrentava de forma corajosa seu grande problema: a impunidade dos poderosos.

Esse discurso convenceu muitos, mas isso não o torna verdadeiro. A Lava Jato não apenas não reduziu a impunidade e a imoralidade pública, como reproduziu e agravou sérios problemas nacionais. Não exagero. Se você pensa que a lei é para todos, que os fins não justificam os meios e que o Estado não tem poder irrestrito sobre os indivíduos, é preciso advertir: a Lava Jato violentou todos esses princípios.

O problema da Lava Jato não se resume a alguns excessos. É anterior, muito mais profundo. Há uma compreensão absolutista e religiosa de poder: a ideia de que alguns homens foram ungidos para combater (talvez alguns prefiram autorizados a combater) toda e qualquer corrupção. Não haveria limites de competência. Não haveria revisão possível de suas ações. Não haveria senão uma reação honesta por parte da população: apoio incondicional a tão nobre missão.

De cara, a Lava Jato ignora a igualdade de todos perante a lei e reproduz um elemento típico da história nacional: a concepção de que alguns iluminados, os bacharéis, salvarão todos. Não pense que a Lava Jato, por muito falar em sociedade, tenha matriz democrática. Para a Lava Jato, o povo é massa de manobra. Sua única função é apoiar os atos da operação.

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