Porto Alegre, quinta, 03 de outubro de 2024
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"Juros poderiam estar entre 10,5% e 11% ao ano", diz André Roncaglia, por Vicente Nunes/Correio Braziliense

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"Juros poderiam estar entre 10,5% e 11% ao ano", diz André Roncaglia, por Vicente Nunes/Correio Braziliense Professor da Unifesp afirma que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, age de forma política e, com isso, prejudica a economia ao não reconhecer que o país vive um acelerado processo de desinflação (crédito: Vicente Nunes/CB/D.A Press )

 

 

Voz cada vez mais influente nas discussões econômicas do país, o professor André Roncaglia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o Banco Central tem agido de forma política e, por isso, atrasado o processo de redução da taxa básica de juros (Selic), de 13,75% ao ano. Na avaliação dele, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que votou no candidato derrotado nas últimas eleições, tem manejado os indicadores econômicos de acordo com a conveniência dele para justificar o excesso de conservadorismo do Comitê de Política Monetária (Copom). “Na minha opinião, os juros poderiam estar, hoje, entre 10,5% e 11% anuais”, diz.

Roncaglia, que prevê crescimento econômico entre 2% e 2,5% neste ano, ressalta que ninguém espera um cavalo de pau na política monetária, de forma a minar a confiança no Banco Central. Para ele, no entanto, a autoridade monetária deveria se sensibilizar ante os mais frequentes indicadores, que apontam acelerado processo de desinflação no país. O Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI) de maio teve queda de 2,33%, a maior para o mês desde 1951, na era Vargas. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como parâmetro para as metas de inflação, subiu apenas 0,23% no mês passado, abaixo de todas as estimativas. “Os preços estão com deflação no atacado e isso está chegando aos consumidores”, ressalta.

Para o professor, se os juros estivessem em um patamar mais civilizado, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano teria sido muito superior ao avanço de 1,9% computado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele acrescenta que os investimentos de empresas e o consumo das famílias estão travados pela falta de um horizonte menos hostil e pelo elevado nível de endividamento. “A partir do momento em que os juros caírem, veremos produção e consumo mais fortes. Na minha visão, a principal restrição à atividade econômica hoje é, essencialmente, a taxa de juros, que está num patamar profundamente desalinhado com o que deveria estar internamente e, certamente, com o resto do mundo”, reforça.

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