Porto Alegre, segunda, 14 de outubro de 2024
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Feira do Livro do Sistema Penal estimula contato de pessoas privadas de liberdade com a literatura

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Em formato híbrido, o evento contou com a participação de 27 unidades prisionais do Estado - Foto: Jürgen Mayrhofer/Ascom SSPS

 

 

Idealizada pela Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS) e pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), em parceria com a 69ª Feira do Livro de Porto Alegre, foi realizada na manhã desta quinta-feira (9/11), em formato híbrido, a terceira edição da Feira do Livro do Sistema Penal.

Voltado para pessoas privadas de liberdade, o evento busca potencializar o acesso à cultura, levando virtualmente para dentro das unidades prisionais escritores de renome estadual e nacional. Ao todo, 27 unidades prisionais do Estado e cerca de 160 pessoas privadas de liberdade acompanharam o evento.

Neste ano, a atividade contou com a palestra do escritor, publicitário e palestrante Alê Garcia, autor do livro Negros Gigantes – As personalidades que me fizeram chegar até aqui, entre outras obras. A abertura foi realizada no Memorial do Rio Grande do Sul, com as presenças do titular da SSPS, Luiz Henrique Viana, do presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, e da superintendente adjunta da Susepe, Deisy Vergara.

Viana destacou a importância da leitura para o tratamento penal, difundida entre as regiões do Estado por meio de projetos e parcerias ao longo de todo o ano. “Mais do que convidarmos as pessoas privadas de liberdade a embarcarem na leitura, nós as convidamos para se libertarem pela leitura. Tenho certeza que através dela é possível vivermos experiências que talvez não teríamos se não fosse por meio das palavras”, pontuou.

Para Deisy, é missão da Susepe a ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Ela entende que a educação é um dos pilares para que a ressocialização seja alcançada: “Entendemos que a leitura, além de abrir portas, é também uma forma de liberdade. Por isso, é importante a participação em eventos como a Feira do Livro. Que esse encontro seja uma mola propulsora para que outros projetos voltados para esse tema sejam desenvolvidos”, acrescentou.

Representando a organização da Feira do Livro de Porto Alegre, Ledur parabenizou as instituições envolvidas e o esforço empregado para desenvolver a ação para o público privado de liberdade.

Vivência com a literatura

O palestrante Alê Garcia apresentou sua trajetória desde a primeira escrita até o início do seu podcast e do seu canal em uma plataforma de streaming. Ele falou sobre a potência da literatura em sua própria vida e como busca contar histórias de pessoas negras e de sua cultura, visando ao empoderamento daqueles que se identificam com os personagens que ele cria.

Nascido no bairro Restinga, em Porto Alegre, Garcia apresentou um panorama histórico de como a população negra foi sendo isolada em regiões periféricas da cidade para que pudesse ser invisibilizada. Diante de tal cenário, a região foi sendo modificada pelas pessoas deslocadas, as quais tiveram que se reorganizar e redescobrir novos fazeres para que tivessem destaque.

“O Brasil é o 2° país com a maior população negra no mundo, mas é isso que a gente vê? A gente vê na mídia essa população sendo representada? Somos um público negro com alto poder de consumo, mas não vemos essas pessoas sendo representadas. Isso é muito danoso, porque cria estereótipos sociais. A gente faz com que brasileiros não se vejam na publicidade, na mídia e na televisão. E você não pode ser aquilo que você não pode ver. Então, eu decidi contar histórias de pessoas negras, que vão inspirar e ajudar a entender o mundo como ele é”, refletiu Garcia.

Ao final, os apenados que assistiam de forma remota nos estabelecimentos prisionais fizeram perguntas sobre preconceito, autores de referência, percurso do autor, educação sobre povos negros nas escolas e projetos para combater o racismo.