Porto Alegre, quarta, 02 de outubro de 2024
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Análise: O mercado está nú; por *André Perfeito/Economista

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A bolsa brasileira bateu mais um recorde de pontos e se vê aqui e acolá analistas e economistas correndo para avisar que seguimos Nova York, como querendo minimizar eventuais efeitos domésticos na melhora do principal índice acionário brasileiro.

De fato a análise faz sentido, afinal qualquer pessoa que veja com o mínimo de serenidade os dados de mercado sabe que – no mais das vezes – a bolsa e dólar por aqui oscilam por motivos ultramarinos, sendo o destino local determinado pela conta erro dos investidores em Londres ou Nova York.

Mas se é verdade para a alta, não deixa de ser menos verdade para a queda e a Faria Lima foi tragada para dentro de uma retórica negativa que faz do negativo o positivo por paradoxal que possa parecer.

Me explico.

A boa notícia, mais do que nunca vi na minha vida, é que está ruim. Os gestores tem corrido comunicar aos clientes que esperam um ciclo de alta para a SELIC já na próxima reunião e usam como argumentos a deterioração das expectativas e da alta do dólar, mas ambas já não estão mais no radar.

Tudo o mais constante os EUA irão cortar suas taxas e a mera perspectiva de alta de juros por aqui irá fazer o dólar cair muito mais. As expectativas para os horizontes mais longos para o IPCA estão sob controle; a projeção para 2025 caiu e a de 26 e 27 estão estáveis.

Ora, neste cenário se de fato os juros subirem em setembro por aqui irá detonar no day after uma reversão ainda maior das expectativas, onde o dólar deve recuar, os juros longos caírem e a bolsa subir.

Tudo porque aqui está “muito ruim”.

Não costumo falar de bolsa, mas mantenho a perspectiva macroeconômica que é para comprar Brasil entre as empresas listadas, ou seja, ligadas ao consumo doméstico (que insiste em ficar em alta via Massa Salarial) ou sensíveis aos juros (que caem na parte longa por conta da maior “seriedade” do BCB).

O que me preocupa demais é que mais uma vez o mercado pode errar e querer empurrar o ônus para o BCB. Temos duas situações possíveis:

1-) o COPOM sobe a taxa SELIC (25 ou 50, tanto faz), sinaliza mais altas e o mercado vira a mão completamente no dia seguinte ignorando o que achava de véspera e apostando não mais em altas de juros, ou;

2-) o COPOM sobe por algumas reuniões a SELIC e assim derruba o dólar de vez forçando que se inicie cortes na sequência das altas.

Os dois cenários são muito ruins porque no limite irá machucar mais uma vez a indústria financeira que ficará sem saber para onde correr.

Algo me diz que no dia 18 de setembro não será nem um nem dois economistas que irão argumentar que mais juros não serão necessários, ignorando que são eles mesmo hoje que projetam mais altas.

*André Perfeito / Economista

O mercado entrou em transe e venho argumentando isso há algum tempo e a alta de juros que poderemos ver em setembro é a prova dos nove que o mercado está nú, mas qual o rei da fábula não serão nem um nem dois a elogiar as roupas coloridas que não estão lá.

Entramos nessa bizarra situação por um conjunto grande de fatores e não cabe aqui ficar apontando culpados. Só espero que essa alta desnecessária coloque um freio de arrumação no pessimismo generalizado. Não quero com isso dizer que tudo está bem, estamos no Brasil e sabemos que a lista de passivos é gigante, mas precificar o caos – e ainda empurrar isso para os outros – sem dúvida é um exagero.