Porto Alegre, sábado, 12 de outubro de 2024
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RS: Tá na Mesa debateu estratégias para enfrentar cheias na região metropolitana. Especialistas na área elencaram os principais pontos críticos, falaram sobre a história das enchentes e detalharam as soluções técnicas

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Porto Alegre (RS), Aeroporto Salgado Filho (POA) alagado pelas enchentes que atingiram o estado. Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

 

 

 

Nesta quarta-feira (4), o Tá na Mesa da FEDERASUL reuniu dois especialistas para discutir um tema crucial para a região metropolitana de Porto Alegre: o enfrentamento das cheias. A reunião-almoço contou com a participação do engenheiro agrícola e doutor em manejo e conservação de solo e da água, Antoniony Winkler, e do doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, Fernando Dornelles. Ambos salientaram a necessidade que a catástrofe não esquecida.

Fernando, Rodrigo, Antoniony Winkler Foto: Sérgio Gonzalez 

Na abertura do evento, o presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, agradeceu aos convidados pela prontidão em falar na entidade e elogiou os recentes anúncios do governo federal para auxílio ao agro gaúcho. “É uma resposta pública extremamente benéfica, que evitará um êxodo rural”, explicou. 

No entanto, ele também ressaltou a necessidade de que o apoio governamental seja estendido à indústria e ao comércio, destacando que o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul depende de todos os setores produtivos. “Não podemos deixar nenhuma peça da engrenagem para trás”, afirmou. 

Pontos vulneráveis e soluções  

Antoniony Winkler iniciou a discussão do tema deste Tá na Mesa, abordando soluções técnicas para fortalecer o sistema de contenção, além da contínua abordagem do tema das enchentes na opinião pública para evitar o esquecimento do problema. O engenheiro agrícola destacou sete pontos críticos no sistema de contenção de cheias da região metropolitana, apontando soluções técnicas para cada um. Entre os problemas identificados estão as cabines de alvenaria e transformadores elétricos, que estão posicionados abaixo da cota de inundação, tornando-os vulneráveis em situações de cheia. 

Para mitigar esses riscos, Winkler sugeriu que as casas de bombas e os transformadores sejam levantados ou vedados, garantindo que permaneçam operacionais durante eventos de inundação. Além disso, ele ressaltou a necessidade de implementar geradores de energia movidos a diesel, já que a falta desse recurso deixa o sistema de bombas inoperante em casos de falta no fornecimento pela concessionária, como aconteceu em Porto Alegre. 

Outras vulnerabilidades incluem as cristas dos diques, que precisam de diagnóstico e recuperação, informa o especialista. Para os motores, a solução indicada foi substituí-los por motores de baixa polaridade, mais fáceis de encontrar e manter. Ele também sugeriu a substituição dos quadros de partida e por fim, a necessidade de substituir as antigas comportas “flap”, que estão corroídas ou ausentes, por modelos mais modernos e eficientes. 

Reconstruir melhor

O professor Fernando Dornelles iniciou apresentando um levantamento detalhado do que ocorreu durante as enchentes de maio, que atingiu 45 centímetros mais do que a histórica inundação de 1941, o que revelou falhas críticas no sistema de proteção, como a entrada de água através das casas de bombas e a falta de vedação adequada em comportas essenciais. “A importância de olhar para trás é evitar cometer os mesmos erros e reconstruir melhor”, afirmou.

 Dornelles destacou que o sistema de proteção de Porto Alegre, embora vital, não oferece uma garantia absoluta contra inundações. Ele defendeu a necessidade de manutenção constante e melhorias nas estruturas existentes para minimizar o risco de falhas futuras. “Precisamos estar cientes de que este sistema pode falhar e devemos trabalhar incessantemente para evitar que isso aconteça”, afirmou. 

Ele também defendeu a importância de políticas públicas voltadas para a habitação em áreas alagáveis e também um programa específico para enchentes. “Precisamos de um programa que exija que esses sistemas funcionem, como o plano de segurança de barragens, afirmou”. Como exemplo, Dornelles citou o exemplo de Paris, que possui um plano de contingência para a proteção do Museu do Louvre, localizado em uma área suscetível a inundações do Rio Sena.

Insegurança jurídica

Ainda na abertura do evento, o presidente da FEDERASUL criticou a atuação do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, especialmente no contexto do suspensão da rede social X (antigo Twitter), que “ameaça as liberdades individuais”. O presidente da FEDERASUL expressou preocupação com o clima de medo que ele percebe na sociedade, “onde as pessoas se sentem intimidadas”.

Para Rodrigo Sousa Costa, decisões como estas mexem com a confiança do mercado internacional. Ele defendeu o direito de crítica como um pilar essencial da democracia e enfatizou a necessidade de um debate livre e aberto para a correção das leis.