Para quem acha que os problemas do RS terminaram há quase cinco meses após as enchentes, cinco deputados federais gaúchos argumentam que não. Nesta quarta-feira (2), o Tá na Mesa, promovido pela FEDERASUL, trouxe ao debate os desafios enfrentados pelo estado do Rio Grande do Sul na reconstrução após a tragédia climática.
Intitulado “RS: Um estado em reconstrução”, o painel contou com a participação dos deputados federais Any Ortiz, Marcel Van Hattem, Osmar Terra, Tenente-Coronel Zucco e Covatti Filho. Todos os parlamentares reafirmaram seu compromisso de manter o tema das enchentes em pauta, alertando para os impactos econômicos e sociais que ainda afetam a população e a necessidade urgente de apoio para evitar problemas maiores no futuro.
O presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, em sua tradicional fala de abertura do evento, defendeu uma mobilização pela melhora do ambiente de negócios no RS e no Brasil. Lembrou que a reforma tributária, como está desenhada, tende a aumentar os impostos.
“Nós estamos enxergando um enorme rombo nas contas públicas brasileiras. Se nada for feito, logo mais estaremos discutindo sucessivas tentativas de aumento de impostos sobre as costas da dona de casa, dos trabalhadores, dos empreendedores, sobre toda a sociedade brasileira”, criticou o líder da FEDERASUL. Sobre o RS, Costa defendeu que a reconstrução passa “pelo trabalho, pelo empreendedorismo”. “Este é o único caminho para o estado do Rio Grande do Sul”.
“Os gaúchos estão indo embora”
O deputado tenente-coronel Zucco iniciou sua fala citando a necessidade de manter o tema do auxílio ao RS ainda vivo, “forte e altivo” e uma agenda coesa. “Governo federal foi pra um lado, o estadual para outro e os prefeitos clamando por apoio, os empreendedores batendo cabeça e a sociedade civil organizada ajudando, nos resgates, nos donativos”, afirmou.
Ele destacou que sem ajuda necessária, a perda em competitividade com outros estados, como Santa Catarina, além da emigração de gaúchos, tende a aumentar. “Os gaúchos estão indo embora, os cérebros estão indo embora”, denunciou apresentando dados sobre a perda de talentos do estado. Para ele, é preciso um esforço conjunto entre o estado, a iniciativa privada e a sociedade civil para reverter o cenário.
Esquecimento
Já Any Ortiz foi enfática ao afirmar que o tratamento de Brasília para com o RS foi inadequado e insuficiente. “Hoje somos um estado esquecido. Esquecido pelo governo de estado, esquecido pelas lideranças políticas”. Ela citou como exemplo o veto presidencial à isenção de IPI de produtos da linha branca para famílias atingidas por desastres naturais, segundo a parlamentar. “É inacreditável que o presidente tenha vetado isso. Estamos pedindo esmola como se não fôssemos a quarta maior economia do país”, desabafou.
Ortiz destacou ainda que, se a tragédia tivesse ocorrido em outra região, o tratamento teria sido diferente. A deputada enfatizou a resiliência do povo gaúcho, mencionando o sucesso da Expointer como prova do espírito empreendedor da região, que conseguiu realizar a feira mesmo após a tragédia.
Desânimo
Osmar Terra também fez críticas à resposta do governo federal e ao ministério extraordinário criado para lidar com a situação. “Não vi resultado prático até agora”, declarou. Terra destacou que, embora o estado ainda esteja esperando por medidas efetivas, os bancos continuam a impor burocracias que dificultam o acesso ao crédito para os afetados.
“Gera um sentimento de desânimo quanto a investimentos”, afirmou o parlamentar, temendo pelo futuro do RS. Ele defendeu que uma opção para auxiliar o RS deveria ser as mesmas que o governo anterior adotou durante a pandemia, em 2020, com valores fundo perdido e financiamento de seis folhas salariais para todos os trabalhadores afetados.
União
Covatti Filho apelou pela união de esforços em nível estadual para que o Rio Grande do Sul possa eleger prioridades e avançar na reconstrução. “Precisamos de uma liderança estadual forte para encabeçar esses pleitos”, disse. O deputado defendeu a importância de unir o Sul e o Sudeste para atrair investimentos, argumentando que outras regiões, como o Nordeste, têm conseguido maior coesão em seus blocos regionais. Covatti também destacou a importância de proteger quem empreende no estado, afirmou.
Agilidade
Marcel Van Hattem elogiou a FEDERASUL por liderar as discussões sobre a recuperação do estado. “O resumo da situação é que existe falta de noção da gravidade do assunto e um esquecimento no centro do país”, afirmou. Ele destacou ainda as promessas não cumpridas e a burocracia para acesso a crédito e renegociação de dívidas, especialmente para microempreendedores.
Para Van Hattem, é fundamental sensibilizar o governo federal e assegurar que a tragédia não seja esquecida. O deputado também criticou a demora nas soluções estruturais prometidas, como a construção de pontes que ainda não saíram do papel. Segundo o deputado, “se outra chuva forte cair, não há garantias de que algo tenha sido feito para evitar novas tragédias”. Ele reforçou que o estado precisa agir com mais protagonismo em Brasília e pediu mais liderança do governador Eduardo Leite. “O povo gaúcho é forte, aguerrido e bravo, e vai superar essa situação, mas o governo precisa fazer sua parte”, completou.