Porto Alegre, terça, 26 de novembro de 2024
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Rio Grande do Sul reconhece modo de fazer Queijo Artesanal Serrano como patrimônio imaterial do Estado. Tradição de mais de dois séculos foi inscrita hoje no Livro de Registro dos Saberes em solenidade

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O Queijo Serrano virou uma das principais fontes de renda para famílias de pequenos produtores pecuaristas. Foto: Epagri

 

 

 

 

 

Com uma história profundamente ligada à cultura gaúcha, associada à pecuária extensiva e aos tropeiros, o modo de fazer queijo artesanal serrano é o terceiro saber reconhecido como patrimônio imaterial do Estado. A produção do queijo artesanal serrano teve início há mais de dois séculos, junto com o estabelecimento das primeiras fazendas na região dos Campos de Cima da Serra. A produção do queijo serrano surgiu concomitantemente à atividade pecuária de corte extensiva na região, empreendida por colonos portugueses.
Apesar das transformações tecnológicas do bem cultural, a rede de significados que o envolve permanece vinculada aos tropeiros e produtores de outrora. Isso porque os produtores atuais se apropriam culturalmente do modo de fazer de maneira a remeter suas técnicas produtivas e comerciais a essas figuras históricas.

O Queijo Artesanal Serrano é um produto de grande importância econômica e ambiental para a região dos Campos de Cima da Serra. Em muitos casos, a produção é a principal renda de pecuaristas familiares, que dependem dessa atividade para a manutenção de suas famílias. Além disso, as peculiaridades de sabor e textura do queijo serrano se devem à técnica de produção artesanal aplicada sobre matérias-primas locais (gado de corte e pastagem) adaptadas ao clima da região, fazendo a produção ser vinculada à preservação da paisagem e seus recursos como forma de manutenção das especificidades do queijo atreladas aos seus insumos.

O trabalho de inventariação do mais novo bem imaterial dos gaúchos foi realizado por representantes da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ascar-Emater/RS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com a assessoria técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). A inscrição no Livro de Registro dos Saberes foi oficializada na tarde desta quarta-feira (30/10), em solenidade no Teatro Oficina Olga Reverbel do Complexo Multipalco do Theatro São Pedro, com a presença da Secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo. Em seu pronunciamento, ela lembrou do trabalho de reconhecimento e cuidado com o patrimônio material e imaterial que vem sendo realizado pelo governo gaúcho. Ao lembrar que os dois primeiros registros de patrimônio imaterial foram realizados em 2023, Bia afirmou que “esse momento foi construído a muitas mãos, durante muitos anos. É um início e agora é preciso preservar esse saber para que ele continue sendo especial e um diferencial para toda a região”. Conforme parecer técnico nº 007/2024, emitido pelo Iphae, a essência e os métodos tradicionais foram preservados, mesmo com as inovações tecnológicas, como a prensa hidráulica e o coalho industrial. A íntegra do documento, aprovado pela Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial em 6 de setembro, está disponível no link.

Segundo o representante dos produtores do Queijo Artesanal Serrano, Alexander de Liz, a produção esteve perto de ser extinta. “De um produto que vivia à margem da legalidade, virou celebridade no Brasil, passou a ser uma importante moeda de troca e se manteve a arte de produzir o Queijo Artesanal Serrano. Isso se deve ao trabalho de várias gerações”, afirmou de Liz. O produtor também agradeceu a Emater pelo trabalho de reconhecimento do valor imaterial registrado na tarde de hoje.

Pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a professora Saionara Wagner falou em nome dos inventariantes e destacou o trabalho dos produtores, lembrando que o produto é o único no Brasil a ter denominação de origem e indicação geográfica. O diretor de Memória é Patrimônio da Sedac, Eduardo Hahn, destacou a importância econômica e cultural do produto para a região. “Estamos reconhecendo um conjunto de saberes e técnicas que atravessam gerações, produzindo alimento para o corpo e para a alma”, destacou.

Representando a Assembleia Legislativa na solenidade desta tarde, o deputado Carlos Búrigo lembrou o trabalho de pesquisa desenvolvido nos últimos 20 anos para consolidar o Queijo Artesanal Serrano. Ele afirmou que “esse é um alimento tradicional e único da região e o reconhecimento é resultado da perseverança, da credibilidade e da articulação que os produtores empreenderam”, afirmou.

O primeiro bem imaterial reconhecido oficialmente foi o Sistema Cultural e Socioambiental da Erva-Mate Tradicional, registrado em junho de 2023 e o modo de fazer artesanato com a palha de butiá, listado em agosto de 2023, foi o segundo inscrito no Livro dos Saberes. A partir do registro, serão desenvolvidas medidas de salvaguarda junto às comunidades. A proteção do bem imaterial se dá nos eixos mobilização social e alcance da política; gestão participativa no processo de salvaguarda; difusão e valorização; produção e reprodução cultural.