Porto Alegre, sexta, 31 de janeiro de 2025
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Opinião: Brasil vive crise política e resultante é o enfraquecimento da moeda; por André Perfeito*

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© Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo

 

 

 

A moeda é uma das substâncias mais enigmáticas da engenhosidade humana. Sobre ela se equilibram quase a totalidade das interações sociais e apesar das pessoas terem com ela uma relação aparentemente pragmática (afinal não se rasga dinheiro) a moeda é tudo menos objetiva.

A moeda representa e revela todo o complexo da vida social e política e neste sentido preciso que argumento que a crise política irá levar a um enfraquecimento da moeda.

A questão na mesa é relativamente simples de dissecar e muito difícil de resolver. São dois eixos: um fiscal e outro político, sendo que ambos são econômicos.

Do ponto de vista fiscal a questão é que o problema não é necessariamente o resultado primário, mas sim nominal. A elevada dívida contraída durante o período de pandemia exige hoje um nível de disciplina maior que o usual e apesar do déficit primário existente não ser “coisa de outro mundo” é suficientemente elevado para ser exponencial em termos nominais.

A dívida é a verdadeira “granada no bolso do inimigo” como uma vez falou o ex-ministro Paulo Guedes. Com este patamar de endividamento a única solução seria diminuir o Estado.

Haddad tentou resolver o problema fugindo para frente, ou seja, apostando na arrecadação de impostos na esteira da melhoria da economia, contudo a arrecadação não subiu como se esperava no primeiro do governo ano devido em parte das isenções feitas no governo anterior (mais uma granada?) e depois teve que criar uma agenda para tributar quem não pagava ou pagava impostos.

Nem preciso dizer que impostos são o tema político por excelência. Haddad resolveu fazer o mais difícil e a resistência veio. A crise do PIX não se trata do PIX, da mesma forma que a Revolta da Vacina não teve nada a ver com saúde publica.

Chegamos assim ao segundo eixo, que denominei de político, mas o que quero dizer aqui na verdade é orçamentário.

O governo anterior, por motivos que não vou me aprofundar, desorganizou de vez o tão falado Presidencialismo de Coalizão ao dar para o Congresso um controle gigantesco sobre o orçamento. (Mais uma granada?) Isto não seria um problema se o governo tivesse a maioria no parlamento, mas como isso no Brasil é impossível, por isso mesmo surgiu o Presidencialismo de Coalizão, o executivo está de mãos atadas.

O Planalto poderia mesmo a contra gosto cortar gastos e com isso estancar a crise, mas da forma que está não consegue.

André Perfeito / Economista*

Temos assim os elementos políticos para o enfraquecimento da moeda.

Este enfraquecimento pode se dar de maneira mais clássica via inflação, mas também pode ocorrer com a queda dos títulos públicos, ou seja, juros mais altos.

Sobrou para o Banco Central fazer o que tinha que ser feito e ratificar via SELIC o que já havia ocorrido via política.

Keynes no seu livro As Consequências Econômicas da Paz tem uma passagem famosa onde concorda com o líder dos bolcheviques: “Lenin estava certo. Não há meio mais sútil e seguro de derrubar a base existente de uma sociedade do que corromper sua moeda.”

Em tempo: a África do Sul cortou hoje os juros, de 7,50% para 7,25%. Como esperado.