Desde o início das enchentes no Rio Grande do Sul, o Sistema FIERGS, por meio do Serviço Social da Indústria (Sesi-RS), esteve empenhado em oferecer suporte aos atingidos pela tragédia climática, que ocorreu há um ano. Com o objetivo de estruturar uma resposta efetiva à crise, foi criado o projeto Apoio às Populações Afetadas pelas Enchentes no Rio Grande do Sul, viabilizado por meio do aporte de R$ 65 milhões gerenciados pelo Sesi-RS, em parceria com o Conselho Nacional do Sesi (CN-Sesi).
A iniciativa foi dividida em três fases — assistência, restabelecimento e reconstrução — e teve como foco duas áreas fundamentais: saúde e educação. As ações buscaram colaborar com a recuperação das escolas públicas danificadas e levar serviços médicos essenciais às comunidades mais impactadas. O investimento total foi distribuído entre as áreas de saúde (R$ 45 milhões) e educação (R$ 20 milhões).
As iniciativas voltadas à educação abrangeram escolas municipais e estaduais de todos os níveis, da educação infantil ao ensino médio, totalizando mais de 200 instituições impactadas pela enchente. Desse total, 172 escolas públicas receberam doações de equipamentos e materiais, enquanto 146 foram contempladas com ações de apoio psicossocial, alcançando mais de 57 municípios em diferentes regiões gaúchas.
Mais de 42 mil itens foram doados para apoiar a retomada das aulas, conforme mapeamento das necessidades das escolas. Os kits incluíram equipamentos para cozinhas e secretarias, mobiliário escolar, materiais para educação infantil e itens pedagógicos diversos — como livros, computadores, jogos, materiais esportivos, musicais e de robótica —, contribuindo para a reconstrução de ambientes de ensino mais completos e acolhedores.
Segundo a gerente de Educação do Sesi-RS, Sônia Bier, as ações propiciaram o reestabelecimento dos ambientes de ensino. “Pôde-se apoiar as escolas tanto com itens essenciais para a volta às aulas e prioritários no dia a dia para recompor cozinhas, salas de aula e secretarias, quanto com itens que trazem uma nova perspectiva de ambiente de ensino e que ajudam na aprendizagem dos alunos”, explica.
Já no eixo psicossocial, foram realizadas 3.028 ações nas escolas, que somaram mais de 5.300 horas de atendimento técnico direto. As atividades envolveram 136 profissionais das áreas de saúde mental e educação, entre psicólogos, assistentes sociais e instrutores, e mobilizaram mais de 39 mil participações. Além disso, foram distribuídas 136 cartilhas informativas para fortalecer o vínculo com a rede intersetorial de apoio. Para Sônia, “o apoio psicossocial, desempenhou um papel fundamental ofertando momentos de escuta, resgatando a importância das ações de autocuidado e apoiando em relação à articulação com a rede intersetorial”.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Antônio Francisco Lisboa, em Canoas, foi uma das muitas instituições de ensino severamente impactadas pela enchente. Segundo o orientador educacional Maicon Pacheco da Silva, cerca de 70% do prédio foi inundado, o que causou perda de todo primeiro andar, restando apenas a biblioteca e algumas salas.
Por meio do projeto, a escola recebeu desde eletrodomésticos até instrumentos musicais e materiais escolares. “Sem geladeira, fogão e eletrodomésticos não teríamos cozinha, e sem cozinha não poderíamos abrir a escola, tendo em vista que a maioria dos alunos são carentes”, diz Silva.
Também foram realizadas rodas de conversa, oficinas e formações com profissionais da saúde mental. Os encontros abordavam o funcionamento de diferentes órgãos públicos e instituições, orientando sobre suas funções, quando e como encaminhar alunos, além de apresentar os serviços disponíveis à comunidade. Também houve um mapeamento do entorno da escola, identificando áreas de lazer, instituições de apoio e aspectos críticos do território. “As reuniões com o Sesi nos proporcionaram abrir os horizontes, demonstrando o mundo fora da escola”, afirmou o educador.
AÇÕES EM SAÚDE
Na área da saúde, o Sesi também se mobilizou rapidamente, oferecendo uma série de serviços médicos essenciais para a comunidade e a indústria gaúcha atingida pelas enchentes. As ações foram organizadas em fases, buscando, inicialmente, oferecer apoio emergencial à população afetada e, posteriormente, no auxílio à transição da situação de emergência para a rotina, garantindo o necessário para o retorno à normalidade.
Foram criadas 90 unidades de saúde provisórias (79 tendas de campanha e 14 unidades móveis), com o envolvimento de mais de 200 profissionais atuando na linha de frente. Como resultado, foram atendidos 20 municípios e realizados mais de 418 mil atendimentos, de junho de 2024 a janeiro de 2025. Entre os municípios atendidos estão Cachoeira do Sul, Cachoeirinha, Canoas, Dona Francisca, Eldorado do Sul, Guaíba, Lajeado, Nova Palma, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Rio Grande e São Leopoldo, entre outros.
Segundo o gerente de operações do Sesi-RS, Gustavo Hoppen, a atuação do Sistema FIERGS na área da saúde foi decisiva para garantir cuidados essenciais à população e aos trabalhadores da indústria. “Em um momento de grande vulnerabilidade, o Sesi esteve presente de forma rápida e estruturada nos abrigos, nas comunidades e diretamente nas empresas atingidas, oferecendo desde atendimentos básicos de saúde, vacinação e suporte psicossocial, fundamental para lidar com os efeitos emocionais da tragédia”, diz. Ainda, na sua avaliação, “esse cuidado integral, voltado tanto à saúde física quanto ao bem-estar mental, foi essencial para a preservação da força de trabalho e contribuiu diretamente para a retomada segura e gradual das atividades industriais”, reforçou.
Além dos atendimentos em abrigos e comunidades, o Sesi também esteve presente em 73 empresas, alcançando 6.612 trabalhadores com atendimentos médicos e psicológicos.
Paralelamente a essas ações, o Sesi iniciou o apoio ao restabelecimento de mais de 100 unidades de saúde através da doação de materiais e equipamentos para recompor salas de acolhimento e consultórios odontológicos. Somente na unidade de Estrela, foi instalado um Hospital de Campanha do Exército onde mais de 1,6 mil atendimentos de baixa e média complexidade foram realizados, além de servir de ponto de recebimento e distribuição de doações.
CUIDADO INTEGRAL NOS ABRIGOS
Além de disponibilizar dormitórios com colchões, roupas de cama, vestuário, produtos de higiene e refeições, os abrigos do Sesi também ofereceram atendimento em saúde assistencial, com consultas médicas, enfermagem e atendimento odontológico; apoio à saúde mental, incluindo acolhimento psicossocial, avaliação socioeconômica, reinserção em programas sociais e intervenções coletivas e individuais; espaço para pets, garantindo o cuidado dos animais de estimação das famílias acolhidas; e espaço kids, com atividades recreativas supervisionadas por profissionais da educação. Ao todo, mais de 2,6 mil pessoas foram acolhidas nos abrigos, em atuação que perdurou por 66 dias.
CAMPANHA DE VACINAÇÃO
Uma das frentes de atuação também contemplou ações de vacinação em locais estratégicos. Foram aplicadas 316 doses de vacinas (como hepatite A e B, dTpa e tríplice viral) em diversas indústrias, evidenciando a articulação com o setor produtivo para garantir a imunização dos trabalhadores. Adicionalmente, 288 doses foram administradas em cinco abrigos diferentes, reforçando o compromisso com a proteção da população em situação de vulnerabilidade. As imunizações seguiram rigorosamente as normas do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde do RS, assegurando segurança e eficácia.
APOIO ÀS INDÚSTRIAS
Outras frentes de atuação também foram implementadas para apoiar os trabalhadores das indústrias gaúchas, como: Cadastro Indústria Solidária, com a entrega de mais de 72 mil cestas básicas; SOS Psicossocial, com atendimento gratuito em saúde mental; Análise Preliminar de Riscos Pós-Enchentes, com ferramenta de autodiagnóstico para avaliar a segurança das operações; Brigada Solidária, com atuação de brigadistas treinados do Sesi nas áreas industriais afetadas; e Serviço de Telemedicina, com atendimento gratuito de enfermagem aos trabalhadores.
AÇÃO CONTÍNUA
A fase final das ações, prevista para 2025, busca reabilitar as instituições atingidas em um novo patamar. O Sesi-RS continuará implementando ações estruturais de longo prazo, com foco nos eixos de saúde e educação, visando garantir maior resiliência e qualidade nos serviços prestados à população. Mais do que uma resposta emergencial, o projeto estruturado pelo Sesi busca deixar um legado de reconstrução e fortalecimento comunitário para o Rio Grande do Sul.