Morreu o filósofo conservador britânico e antigo conselheiro do atual Governo de Boris Johnson, Sir Roger Scruton. Tinha 75 anos e morreu vítima de câncer, noticia o jornal britânico The Guardian. Numa declaração publicada pela família, Scruton, que em 2016 ganhou o estatuto de Sir pela contribuição que deu ao Reino Unido nas áreas da filosofia, ensino e educação pública, é lembrado como “muito amado marido de Sophie, pai adorado para o Sam e a Lucy e um irmão estimado de Elizabeth e Andrea”. Scruton, nasceu em 27 de fevereiro de 1944 e lutava contra o câncer há seis meses. A sua família está profundamente orgulhosa dele e dos seus feitos”, lia-se na declaração.
Além de filósofo, conselheiro de Governo e defensor de uma corrente conservadora e tradicionalista do pensamento, Scruton foi também escritor e professor, tendo lecionado durante 21 anos (entre 1971 e 1992) no Birkbeck College, da Universidade de Londres, refere ainda o The Guardian. Scruton, esteve em julho no Brasil, onde palestrou no Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre e São Paulo. Intelectual que analisava as grandes correntes do pensamento ocidental, foi autor de obras sobre filosofia, política e estética.
“O conservadorismo parte de um sentimento que todas as pessoas maduras compartilham: de que coisas boas podem ser facilmente destruídas, mas não tão facilmente criadas.” A famosa frase do filósofo britânico Roger Scruton encontrou explicação na sua conferência no Fronteiras do Pensamento 2019. Expoentes do pensamento conservador ao longo da história, como o irlandês Edmund Burke e o francês François-René de Chateaubriand, consolidaram boa parte das suas ideias a partir da apreciação da Beleza.
Durante a conferência, Scruton explicou o porquê desta apreciação, uma necessidade de redenção que iniciou na sua infância. A Beleza surge como resultado da busca pela salvação da família, aprisionada por um legado de falta de significado. Scruton ainda afirmou que a Beleza tem sido eliminada da vida das pessoas pela ação de instituições como escolas de arte moderna e agências de publicidade. “Os cubos dos edifícios modernistas declaram o fim dos ornamentos. Como acontece nos regimes comunistas, o diálogo pessoal é substituído pelo impessoal”.
O filósofo criticou duramente o comunismo que ele conheceu nos anos 1970 em visitas aos países do Leste Europeu. “As relações de poder estavam acima da responsabilidade de cada um”, lembrou. “Havia uma despersonalização, aprendia-se a não confiar nos outros. Em um mundo inumano, a humanidade aparecia apenas nas fendas.” Foi justamente durante a Guerra Fria, que Scruton se empenhou pessoalmente no estabelecimento de instituições de ensino em países da Europa Central, que então pertenciam à URSS. Este trabalho em favor da educação, censurada pelo regime, rendeu inúmeros prêmios internacionais ao filósofo. Sobre os Sentidos da Vida, tema do Fronteiras do Pensamento 2019, Roger Scruton destacou a relevância “da compaixão dos outros por nós, assim como a aceitação”.
Deixa obras como Estética da arquitetura, A alma do mundo, O rosto de Deus e As vantagens do pessimismo. Além de seus livros e produções acadêmicas, produziu para a BBC o documentário Por que a beleza importa?.
Segundo Roger Scruton, a beleza está desaparecendo do mundo porque vivemos como se ela não importasse. Seu livro mais recente é Tolos, fraudes e militantes, lançado no Brasil em 2018 e que investiga o que se tornou a esquerda hoje e como a ideologia evoluiu ao longo do século XX.
Nesta breve e magistral introdução à tradição conservadora, Roger Scruton, um dos maiores intelectuais britânicos da atualidade, oferece aos leitores um convite ao mundo da filosofia política, explicando a história e a evolução do movimento conservador ao longo dos séculos. Em Conservadorismo: Um convite à grande tradição, reúne ensaios sobre a trajetória do pensamento conservador.
Além de famoso pelas suas obras e ensaios de não-ficção e pelo seu apoio aos dissidentes do Partido Comunista da Checoslováquia nos anos 1980, Sir Roger Scruton tornou-se um nome ainda mais conhecido dos britânicos e europeus no último ano e meio, pela posição de relevo que assumiu junto do Governo do Reino Unido e pelo debate que voltou a levantar sobre o sensacionalismo presente em órgãos de comunicação social, devido a uma alegada “caça às bruxas” de que defendeu ter sido alvo.
Tudo começou quando o pensador foi escolhido para presidente de uma comissão independente chamada Building Better, Building Beautiful, cujas funções são “aconselhar o governo sobre como promover e melhorar a utilização de design de alta qualidade para a construção de novas casas e bairros”, como se lê no site oficial da Comissão.
Escolhido como conselheiro na área da habitação pelo Governo britânico em novembro de 2018, Sir Roger Scruton acabou por ser afastado do cargo poucos meses depois, em abril do passado, por ter alegadamente proferido comentários racistas em entrevista a uma revista política e cultural do Reino Unido chamada New Statesman.
Durante a entrevista que motivou a sua saída do cargo de conselheiro do Executivo britânico, Scruton era citado dizendo que os chineses estavam a “criar robôs a partir do seu próprio povo” e fazendo referência a um “império de Soros” [George Soros, famoso investidor, bilionário e filantropista europeu].
O filósofo queixou-se de ter sido mal citado na entrevista – mais especificamente nas publicações da revista nas redes sociais — e acabou por ver a New Statesman assumir as falhas e citação incompleta, conta o The Guardian. Scruton falara em específico do Partido Comunista Chinês, não da população chinesa em geral, e sobre Soros referira que o seu império “não era necessário um império de judeus, porque isso não faz sentido nenhum”, rejeitando assim algumas teorias da conspiração em voga.
Numa época em que o debate sobre um alegado policiamento da linguagem e num tempo em que a desconfiança quanto aos média aumentou (também, embora não só, a partir das redes sociais), o caso do filósofo veio a ser escolhido como exemplo e campo de batalha pelos conservadores e defensores da liberdade de expressão. Em julho, depois das correções da revista britânica relativas à imprecisão com que citou declarações de Sir Roger Scruton, o pensador e especialista em educação e habitação foi readmitido como conselheiro do Governo, algo que era há muito defendido pelo primeiro-ministro do país, Boris Johnson. (Felipe Vieira com informações do The Guardian e Fronteiras do Pensamento)