Porto Alegre, segunda, 25 de novembro de 2024
img

Caco Belmonte anuncia biografia "não autorizada" de João Carlos Belmonte. Cansado de esperar pelo consentimento do pai, filho anuncia obra pelas redes sociais; por Felipe Vieira

Detalhes Notícia
Caco cansou de esperar o consentimento do pai, João Carlos Belmonte e vai escrever a biografia não autorizada de um dos maiores nomes do jornalismo esportivo brasileiro. Foto: Arquivo pessoal

“Meu pai não quer escrever memórias, não se acha merecedor de atenção, nem me autoriza a fazê-lo em seu nome. Tanto se me dá, o farei à revelia, esteja vivo ou morto. Eu decidi escrever a biografia não autorizada de João Carlos Belmonte.”; foi assim, em sua página do Facebook, que o escritor Caco Belmonte, filho de um dos maiores nomes do rádio gaúcho anunciou que irá biografar o pai João Carlos Belmonte. Ele sabe que o “Velinho” foge desse tipo de homenagens, por isso escreveu em um comentário, “Agora vou levar um esporro aqui, quando ele souber.”.

Como fã de Belmonte, fico contente com a notícia publicada pelo Caco. A preservação da história do grande repórter e comentarista é importante para orientar futuros jornalistas e deliciar admiradores. Espero que com isso biografias e relatos de outros colegas também sejam realizados, para que tenhamos cada vez mais acesso ao legado dessas figuras incríveis. Nesse ponto elogios ao trabalho de Julio Ribeiro, que junto com Antônio Goulart resgatou histórias de Alberto André, Amir Domingues, Cândido Norberto, Cid Pinheiro Cabral,  Flávio Alcaraz Gomes, Justino Martins, João Aveline , Bira Valdez, Celito de Grandi, Clóvis Duarte, Danilo Ucha, Jayme Copstein, Jose Abraham, Paulo Sant’Ana, P.F. Gastal,  Tatata Pimentel e muitos outros em diferentes volumes dos ‘Nomes que Fizeram a Imprensa Gaúcha’

Vamos combinar que é muito pouco o que se sabe sobre a trajetória de  João Carlos Calvano Belmonte. Caco terá que trabalhar bastante para contar a história do homem que nasceu em Itaqui (RS), no dia 30 de maio de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial. Em entrevista ao Vozes do Rádio/Famecos-PUCRS revelou que por volta dos dez anos de idade, em 1953, um ano antes da Copa do Mundo na Suíça, mudou-se para a cidade de Uruguaiana. Já naquela época, o rádio era um grande companheiro. Os ouvidos estavam sempre atentos às emissoras cariocas, paulistas e gaúchas. Gostava de acompanhá-las sempre, de preferência, ao mesmo tempo. Belmonte interessou-se por fazer rádio ainda na escola, quando estudava no Colégio Marista. Nos campeonatos de futebol de botão que participava junto aos amigos, sempre fazia a transmissão dos resultados, mas através do telefone. Os meninos se telefonavam e trocavam informações sobre o andamento dos jogos. A intimidadade com a linguagem esportiva e a vontade de trasmitir uma partida já faziam-se presentes.

A primeira vez, sempre é inesquecível. E a primeira vez que Belmonte entrou em um estúdio não poderia ser diferente. Ao acompanhar um amigo a uma rádio local, a São Miguel, surgiu a primeira participação em um programa. Um dos locutores da emissora não havia aparecido, e Belmonte foi escalado para ler as notícias de esporte. Contudo ele não sabia que sua voz estava sendo transmitida. Acreditou estar realizando um teste. Muitas pessoas vieram até os estúdios da São Miguel para conhecer o novo locutor. Depois do sucesso, a contratação era uma questão de tempo.

A estreia de Belmonte foi como rádio-escuta. Mas na primeira oportunidade, virou apresentador do noticiário esportivo.

Foi a partir daí que a carreira radiofônica do rapaz de Itaqui teve início.

A chegada em Porto Alegre foi atípica. Um dos repórteres esportivos da rádio, Fernando Martins, acreditava que Belmonte tinha condições de trabalhar em qualquer emissora da Capital. Martins era amigo de Amir Domingues,  que trabalhava na Rádio Guaíba. Mas Belmonte não via motivo para a mudança. Porém, uma crise na emissora e alguns funcionários pediram demissão, inclusive Degrazia, que havia conseguido o emprego para Belmonte. Ele, em solidariedade ao amigo, pediu demissão também. Desempregado, não havia mais outro caminho senão o que levava a Porto Alegre..

Ao chegar na Capital, no ano de 1964, procurou Domingues na Guaíba. Mas ao chegar lá, ficou desencorajado. Foi, então, bater às portas da Rádio Difusora, hoje Bandeirantes. Disse quem era, e pediu um teste. Conseguiu o emprego. Meses depois foi convidado a trabalhar na Rádio Guaíba. Um semestre mais tarde, retornou à Difusora, em outra posição e ganhando mais.

A estrela de Belmonte brilhava sempre mais forte do que ele imaginava. E em março de 1966, Ari dos Santos, chefe da equipe esportiva da Rádio Gaúcha, contratou o rapaz de Itaqui.

Naquele ano fez a cobertura do que chamou “loucura da seleção”. Para acompanhar a seleção brasileira, viajava de kombi com outros jornalistas, pelo interior do Rio de Janeiro e São Paulo. Na época, os equipamentos eram verdadeiros “trambolhos”. Logo após esta viagem, o falecido Mendes Ribeiro veio com a notícia mais esperada para Belmonte:

– Prepara teu passaporte porque nós vamos embarcar para Londres, para fazer a cobertura da Copa.

Mas uma mudança no corpo de funcionários da Gaúcha impediu que Belmonte viajasse.

O convite para fazer parte do quadro funcional de esportes da Rádio Gaúcha veio num almoço, num sábado. Foi uma surpresa. Surpresa maior ainda foi quando descobriu, no mesmo dia, no restaurante, que o diretor da Guaíba queria falar-lhe sobre a possibilidade de uma contratação. No outro dia, após o trabalho, foi até a Rádio Guaíba. O convite era para substituir Lauro Quadros na reportagem esportiva, já que Quadros seria transformado em comentarista. Sugeriu o salário (claro que pediu muito mais do que ganhava) e esperou a emissora dar uma resposta. Ligou para a mulher relatando a loucura de pedir um salário três vezes mais alto, mas teria que manter a proposta, que foi aceita. No outro dia, foi contratado.

Mas tinha que pedir demissão na Rádio Gaúcha. Qual não foi a surpresa, o diretor de esportes da Gaúcha não quis aceitar sua demissão, e propôs um salário maior do que seria pago na concorrente. Mas Belmonte já havia dado sua palavra, e saiu da Gaúcha em 1968.

Cobriu muitas Copas do Mundo, campeonatos internacionais e brasileiros, inclusive a Libertadores da América em que o Grêmio venceu. Logo após, seguiu para Tóquio para cobrir a decisão do Mundial, quando o Grêmio trouxe a taça de campeão, em 1983.

Em 84, quando retronou à emissora, acontecia o auge da crise na Caldas Júnior.

A crise da empresa Caldas Júnior deu-se devido a um mau negócio. A empresa resolveu investir no canal de televisão. Houve compra de equipamentos muito caros, em dólares. Um problema no câmbio e a dívida aumentou. O salário dos funcionários não era pago no final do mês. Foi aí que surgiu o convite da RBS.

Durante toda sua carreira de repórter esportivo, Belmonte viajou muito. Conheceu vários países e cobriu os mais importantes eventos esportivos mundiais. Relembra, como a mais significativa, a Copa do México, em 1970, pois foi a primeira a ser transmitida via satélite para o Brasil por emissoras de rádio, e a primeira a ser trasmitida a cores. Para ele, a seleção nunca foi tão extraordinária como nos jogos de 1970. Outro motivo, foi o recebimento do Prêmio ARI de jornalismo, quando retornou do mundial.

Ao longo da vida jornalística de Belmonte, foram cinco prêmios levados para casa. Dois Prêmios ARI, quatro vezes ganhador do Bola de Ouro e inúmeros troféus. Em um determinado momento da carreira, Belmonte viu que era preciso dar espaço para as outras pessoas, outros repórteres esportivos. Já havia viajado pelo globo inteiro, feito coberturas de Copas do Mundo. Resolveu, então, virar comentarista.

Quando surgiu a vaga para comentarista, o repórter mais assediado pelas emissoras de rádio, não deixou escapar.

Em novembro de 1986, retornou à Rádio Guaíba, agora como comentarista. Em 1987, foi convidado para ser o mediador do programa Sala de Redação, pela RBS. Ficou na RBS por 15 anos. Em 1988, durante uma crise na emissora, foi demitido, junto com outros 300 funcionários. Imediatamente, retornou à Guaíba. Primeiro na televisão, e depois, na rádio.

Trabalhou também como repórter esportivo no Correio e depois como colunista. A coluna era chamada Agenda. A família sempre esteve presente na vida de Belmonte. Seu filho, Roberto Villar, quando pequeno, acompanhava o pai no Correio do Povo, quando ele ia, aos sábados, na redação do jornal.

Belmonte não tem ídolos, mas admira muito Ênio Andrade, Rubens Minelli, Zagallo, Falcão e Pelé, pela contribuição que todos deram ao esporte.

É pouco, muito pouco. Mãos à obra, Caco e não te deixar abalar pelos “esporros”do Belmonte. Ele e nós merecemos esse livro. (Felipe Vieira com informações e texto do Vozes do Rádio)