Brandelli era sócio da vinícola Almaúnica. De acordo com nota divulgada, o velório ocorrerá apenas para a família, sem maiores informações sobre o sepultamento.

 

ENTREVISTA DE MÁRCIO BRANDELLI CONCEDIDA AO JORNAL GAZETA DO SUL

Márcio Brandelli Foto: Emerson Haas

Por que Almaúnica?
Porque cada vinho é elaborado com alma e cada garrafa é única. Em 2008 eu e Magda, minha irmã e sócia, montamos este projeto, pois tínhamos um sonho de fazer o próprio vinho com liberdade. Estamos fincados no Vale dos Vinhedos, onde temos 60% das videiras, mas também 30% em Encruzilhada do Sul e 10% em Quaraí.

Seus vinhos são reconhecidos pela qualidade e fino manejo. Como você agrega estas características aos vinhos que elabora?
Sou muito detalhista em todos os processos, desde o vinhedo até o engarrafamento. Gosto de resultados positivos e penso sempre no consumidor, cada vez mais exigente. É nisso que miro cada um dos 14 rótulos Almaúnica que já elaborei. Para extrair o melhor destas parcelas de vinhas lidamos com manejo no vinhedo, buscando rendimentos baixos, cultivando as variedades corretas e arriscando no ponto de colheita até seu índice de alta maturação.

É possível produzir vinhos de alta qualidade no Brasil?
Sim. O produtor tem que focar em resultados de alto nível, custe o que custar, haja o que houver, e ter muita paciência. É assim no mundo todo. Com profissionalismo e buscando o melhor vinho para cada região, com foco em qualidade e não só em retorno financeiro, o Brasil – e em especial o Rio Grande do Sul – pode melhorar ainda mais os seus vinhos. Acredito neste contexto de região produtiva, que a Campanha Gaúcha tem um potencial enorme a ser explorado.

Você é um enólogo que aposta em variedades não tão usuais no âmbito gaúcho, ao menos quando iniciou a produção, tais como Syrah e Malbec. Fale destas castas produzidas pela Almaúnica e o porquê de cultivá-las.
Duas variedades espetaculares. Amadurecem bem, com grande potencial de cor e taninos, porém macios e aveludados. Na variedade Syrah, fomos pioneiros no Vale dos Vinhedos, tornando-se a casta emblemática da Almaúnica. Tudo isso motivados pela tendência do consumidor, sempre em busca de novidades. E o Reserva Syrah e o Quatro Castas – que leva Syrah – são os meus vinhos mais premiados.

Você é adepto da passagem de seus vinhos por barrica. Fale a respeito.
No meu modo de ver o vinho, acredito muito em duas matérias-primas: uva e barrica. A barrica é o pulmão do vinho, aí ocorre toda a micro-oxigenação em que aporta taninos e complexidade de aromas para o vinho, tanto os brancos como os tintos.

Numa safra ruim, de que forma o enólogo consegue extrair o máximo de qualidade e elaborar bons vinhos?
Tomar a decisão de reduzir ou até não elaborar se for o caso. Somente assim poderá garantir uma constância em produtos de qualidade.

O que você acha dos vinhos orgânicos e biodinâmicos? É uma tendência?
Todo o mundo do vinho busca usar a mínima intervenção no vinhedo e na vinícola. Creio que orgânicos e biodinâmicos com alta qualidade terão o seu espaço.

A tecnologia faz diferença na produção de vinhos?
Faz, e muito. Desde o vinhedo até o engarrafamento. São os detalhes que refletem no produto final.

No Uruguai temos o Tannat, na Argentina o Malbec, no Chile o Cabernet Sauvignon. Qual a casta tinta que você considera que poderá ser o cartão de visitas do Brasil?
O Brasil é um continente, mas falando em Serra Gaúcha, onde é pioneira e está a maior concentração de vinícolas e vinhedos, a casta tinta é a Merlot.

Qual a sua opinião sobre a posição de alguns produtores brasileiros importarem vinhos de outra nacionalidade e distribuir por aqui? Não é um contrassenso?
Cada empresário tem seus objetivos e busca ter um portfólio completo de distribuição. Hoje no Brasil 90% do vinho fino é importado. Futuramente podemos diminuir esta tendência, com mais qualidade e quantidade e preços competitivos do vinho brasileiro.

Por que Argentina e Chile produzem vinhos médios de tão boa qualidade e preço e o que as vinícolas brasileiras podem fazer para alcançarem este patamar?
Tanto Argentina e quanto Chile possuem relevo, solo e clima com custos menores, têm grande escala de produção e muito incentivo do governo, de subsidiar toda a cadeia. O produtor brasileiro deve focar muito em pequenas escalas, mas com muita qualidade. Só assim poderemos, no futuro, mudar o conceito do vinho brasileiro.

Deixe uma dica para quem está começando a se interessar em beber vinhos:
Não ter medo de perguntar e tomar muito vinho. Ter humildade, ouvir muito e, claro, estudar. Só assim poderá usufruir o máximo da bebida dos deuses.

Como você enxerga a viticultura brasileira daqui a dez anos e como a Almaúnica estará neste contexto?
A viticultura irá se difundir por várias regiões do Brasil, teremos muitas surpresas boas e assim vamos criando cultura cada vez maior para o brasileiro. E para a Almaúnica, um desafio diário na busca da excelência sempre com foco na qualidade, cuidando os detalhes, para sermos uma das referências do vinho brasileiro. (Site com informações de O Semanário e Gazeta do Sul)