Porto Alegre, sábado, 07 de setembro de 2024
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"Precisamos entender que essa é uma crise política e não apenas de saúde". Entrevista com Yuval Harari, por Luciano Huck

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Luciano e Harari caminham pelas ruas estreitas da comunidade de Tavares Bastos.Foto: Rafael Haddad

Em novembro, quando a covid-19 ainda não dava sinais de existir, eu e Yuval Noah Harari caminhávamos pelas ruas estreitas da comunidade de Tavares Bastos, no Morro da Nova Cintra, no Rio de Janeiro. Ao saber que Harari vinha ao Brasil para dar palestras bem pagas a empresários da Faria Lima e falar no Congresso, fiz uma provocação: queria que ele conhecesse o Brasil “de verdade”, aquele que vive a desigualdade sobre a qual ele discorre em seus fantásticos best-sellers.

Além da vista deslumbrante da Baía de Guanabara, Tavares Bastos é uma das poucas favelas do Rio fora do domínio do tráfico e das milícias. O motivo é sua localização: ao lado da comunidade foi instalada, em 2000, a sede do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar).

Queria que Harari visse o lugar onde moram alguns dos protagonistas silenciosos de seus livros. O motorista de ônibus que deve perder o emprego com a automatização dos coletivos. A operadora de telemarketing que se tornará dispensável em razão da inteligência artificial. A professora da escola pública que forma as novas gerações, a enfermeira do SUS que prolonga vidas e tantos outros.

Harari – um dos filósofos mais influentes da atualidade, autor de Sapiens, Homo Deus e 21 Lições sobre o Século 21 – topou subir o morro. E foi uma experiência incrível para todos. Nossa relação pessoal nasceu por acaso. Anos antes, havíamos dividido uma mesa de café da manhã, em um evento na Itália. Eu com Angélica; ele com Itzik, seu marido e fiel escudeiro. Cinco meses depois do nosso passeio em Tavares Bastos, o mundo é outro. Uma pandemia está mudando a humanidade e temas que Harari tanto estuda – como evoluímos, nossa relação com tecnologia e ciência, o papel da empatia – nunca estiveram tão presentes.

Para entender melhor essas questões, conversei com Harari na última terça-feira. Eu, isolado em minha casa no Joá, no Rio, e ele, em seu apartamento, em Tel-Aviv.

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