O embaixador Paulo Roberto de Almeida, de 70 anos, é um contestador nato. Quando discorda da política externa e das orientações do ministro das Relações Exteriores da hora, não costuma fazer segredo de suas divergências. Suas críticas lhe custaram o ostracismo tanto nos governos do PT, por se opor à postura “bolivariana” do Itamaraty, quanto no de Bolsonaro, por suas investidas contra o ministro Ernesto Araújo e as posições “olavistas” adotadas pela diplomacia brasileira na atual gestão.
Em represália à sua conduta, está relegado a uma função protocolar no arquivo, ao lado de estagiários e funcionários terceirizados, perdeu a vaga no estacionamento interno do órgão e teve até o salário descontado por alegadas faltas e atrasos ao trabalho em 2019. Em março, depois de ver indeferidas as suas justificativas de que estava em eventos oficiais e em atividades acadêmicas, entrou com um processo na Justiça contra o Itamaraty por “assédio moral” e pela “perseguição” de que afirma ser alvo.
“Sempre contestei chefes, com base no meu conhecimento técnico, e procurei fazer da autoridade do argumento um instrumento maior do que o argumento da autoridade”, diz. “Não por mero ‘contrarianismo’, por recusar tudo que os outros propõem, mas por acreditar que qualquer política externa deve ser analisada em seus fundamentos, no seu mérito, no custo/benefício e nos resultados efetivos oferecidos ao Brasil. Como eles não podem me punir por expressão de opinião, ficam procurando pequenas coisas para me prejudicar.”
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