Você é um autor conservador. Foi policial. Gosta de ordem. Acredita na tradição. Então, arruma uma editora para publicar seus livros, mas, quando recebe as provas para revisar, não reconhece sua obra ali.
Seus personagens, conservadores como você, ganharam vida própria. De repente amam o PT. Acham que Dilma foi derrubada por uma invenção chamada “pelada [sic] fiscal”, tramoia da mídia golpista. Michel Temer, falam, é um usurpador.
Não estranhe, esta parece uma notícia falsa, uma fabulação de algum ideólogo de direita, para quem há esquerdistas em cada instituição cultural prontos para inocular sua mensagem na corrente sanguínea da sociedade —mas aconteceu mesmo.
O autor é o canadense Grant Patterson. Casado com uma brasileira, ele escolheu dois livros seus para serem traduzidos para o português —“Southern Cross” e “Back in Slowly”, que se passam no país.
Agora, o escritor move um processo contra a Fonte Editorial, casa de obras de teologia com um braço de autopublicação, contratada por ele para o serviço, por alterar sua obra.
Diferentemente do que eram no original, os dois romances voltaram para a mesa de Patterson cheios de mensagens políticas fervendo de indignação. O tradutor se chama Daniel Costa, que tem como maior parte de seu trabalho um histórico de obras teológicas.
Em “Back in Slowly”, um dos personagens, o senador Buscetti, do PMDB, tenta “derrubar Dilma por corrupção”, diz o narrador. Já a versão em português é diferente –Buscetti e seus colegas “estavam tentando derrubar Dilma Rouseff do poder por uma invenção da mídia golpista brasileira”.
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