Eles se tornaram parte da paisagem sonora durante o isolamento em muitos bairros e ganharam até a função de alarme —se há um tilintar de panelas à noite, muito provavelmente são 20h30, hora de mais um pronunciamento de Jair Bolsonaro na TV ou do início do Jornal Nacional. Os panelaços contra o presidente, que passaram a gerar respostas de apoiadores dele na forma de gritos, caixas de som tocando o hino nacional ou mesmo outros panelaços, estão acirrando emoções em prédios Brasil afora e agravando conflitos políticos entre vizinhos.
Distantes das janelas e sacadas desde os atos em favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, os utensílios de cozinha voltaram a ressoar em manifestações contra a postura de Bolsonaro na pandemia do coronavírus e criaram uma dor de cabeça a mais para síndicos.
Relatos colhidos pela Folha em diferentes cidades incluem enxurrada de reclamações no celular de administradores de condomínios, acusações de censura sobre gestores que pediram moderação e até cusparada de um vizinho no rosto de outra que reclamou da algazarra. Os casos mais graves até agora ocorreram no bairro de Perdizes (zona oeste de São Paulo), onde dois moradores de edifícios diferentes registraram boletins de ocorrência por causa de disparos de armas de pressão na direção de suas janelas. A Polícia Civil investiga.
Os projéteis têm potencial para ferir e até cegar uma pessoa. Um morador de um dos imóveis alvejados disse à Folha que a família, que é contrária ao governo, agora se sente caçada por seguidores do presidente.
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