A ampliação das restrições às atividades da indústria determinada em decreto pela prefeitura de Porto Alegre, nessa terça-feira (23), traz mais perdas ao setor e desorganiza a economia privada, já bastante afetada pela pandemia provocada pelo coronavírus, avalia a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS). A entidade, desde o início da crise, defende o equilíbrio entre os cuidados com a saúde da população e a economia. “Essas constantes alterações e mudanças de uma semana para outra nos dão muita insegurança. O industrial não pode programar sua produção e o empregado não sabe quando vai trabalhar, se vai trabalhar ou manter seu emprego”, afirma o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry. A justificativa da prefeitura é de que a velocidade do crescimento exponencial da demanda por leitos de UTI na Capital obriga a tomar tal medida, que prevê limitações para a construção civil e as indústrias, com exceção das consideradas essenciais como saúde e segurança, a partir de sexta-feira (26).
Segundo pesquisa divulgada pela FIERGS no início do mês, a atividade da indústria gaúcha caiu mais de 13% em abril, na comparação com março, quando já havia recuado 10%. “Poderia intensificar as medidas de acesso, controle e segurança para a saúde, mas sem decretar o fechamento total de estabelecimentos, como prevê o atual modelo adotado”, sugere o presidente da FIERGS, lembrando que as empresas não recebem recursos a fundo perdido, como ocorre com os governos estaduais e as prefeituras, para compensar a perda de faturamento.
Gilberto Petry ressalta, ainda, que com o comércio fechado a indústria não desova sua produção, não vende o que produz, o Estado não arrecada impostos e a sociedade toda perde.
No último final de semana, o Governo do Estado havia anunciado que as Regiões de Porto Alegre, Capão da Canoa, Novo Hamburgo, Canoas e Palmeira das Missões passariam a adotar a bandeira vermelha, de risco alto, o que determina protocolos mais restritivos às atividades econômicas. Na segunda-feira, o governo revogou a medida apenas para a região de Palmeira das Missões, que retornou à bandeira laranja.
Nota oficial da entidade:
“RESTRIÇÕES AO SETOR INDUSTRIAL SÃO DESNECESSÁRIAS
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS – manifesta sua contrariedade às restrições de operação do setor fabril nas Regiões gaúchas e Porto Alegre com “Bandeira Vermelha” em função da Covid-19.
As fábricas já dispõem, há muito, da cultura do uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs – somando a isso novas práticas de prevenção diante da pandemia. Os sistemas produtivos são organizados mediante planejamento, objetivando a eficiência, o que por si só afasta a aglomeração de trabalhadores. E não há presença de consumidores em suas instalações.
Portanto, não é aconselhável o aumento de restrições ao setor.
Além disso, as estatísticas de ocupação de UTIs nas cidades-polo podem levar a distorções na aplicação dos critérios de contingência. Em Porto Alegre, por exemplo, 65% dos leitos dessas unidades dedicadas à Covid-19 estão sendo utilizados por pacientes de outros municípios, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, e a Capital não pode ser penalizada por este fato.
Essa realidade indica uma política pública urgente de distribuição de investimentos visando equipar e ampliar hospitais regionais, desconcentrando as internações nas cidades de maior porte e que são , por isto, mais atingidas pelas medidas restritivas.
A FIERGS espera que em vez de restrições, sejam feitas ações nesse sentido, além de reconhecer a relevância das indústrias estabelecidas no Rio Grande do Sul que geram empregos e impostos nas mais diversas Regiões, e que por suas características operacionais não podem ser oneradas com decisões de sanfona – abre e fecha – retirando as mínimas condições de previsibilidade que o setor fabril e seus trabalhadores necessitam. A sociedade deseja mais ações e menos restrições
Gilberto Porcello Petry, presidente.
Rio Grande do Sul, 23 de junho de 2020.”