Porto Alegre, segunda, 16 de setembro de 2024
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Artigo: Desabafo de uma noite de domingo; por Elisa Kopplin Ferraretto*

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"Hoje, quando um profissional ou gestor da saúde alerta para o perigo que estamos vivendo, implora para que as pessoas evitem aglomerações e adotem medidas de proteção, não se ouvem aplausos. Muitos substituíram o "herói" por alarmista, comunista, terrorista ou outros adjetivos piores, agressivos à honra."; escreve Elisa Kopplin Ferraretto

 

 

Houve um tempo em que as pessoas iam para suas janelas aplaudir os profissionais de saúde e os chamavam de heróis.

Talvez fosse o “período romântico” da pandemia, quando se acreditava que em algumas semanas tudo teria passado e, na sequência, viria um mundo melhor, no qual todos poderiam se lembrar com orgulho como foram solidários.

Hoje, quando um profissional ou gestor da saúde alerta para o perigo que estamos vivendo, implora para que as pessoas evitem aglomerações e adotem medidas de proteção, não se ouvem aplausos. Muitos substituíram o “herói” por alarmista, comunista, terrorista ou outros adjetivos piores, agressivos à honra.

Honra de pessoas que trabalham uma quantidade inimaginável de horas por dia, em um ambiente duro e estressante. Estão, sim, fazendo sua obrigação, ao exercerem suas profissões. Mas, acreditem, não está sendo fácil.

Se você conhece alguém que trabalha em um hospital, pergunte como é seu dia. Questione o que sente diante do que faz, do que vê, das decisões que precisa tomar. Quais os temores que tem em relação à exposição de sua família. Indague se acha que o colapso nos hospitais está próximo – e provavelmente você ouça uma resposta surpreendente, que não gostaria de escutar.

E pode estar certo, nenhum deles está esperando aplausos nem ser considerado um herói.

Todos só querem poder seguir dando conta do recado, ver a demanda diminuir, conseguir atender todos que precisam de um leito de UTI ou de enfermaria – e não se engane pensando que são “apenas” idosos. Não são.

Se esses profissionais não aplicam o medicamento X ou Y, tenha a certeza de que não se trata de uma posição política. Cada um adoraria ter uma prescrição eficaz, confirmada e sem riscos ao alcance das mãos. Mas eles não têm, e fazem não só tudo o que está ao seu alcance, mas também um pouco mais. Não porque sejam heróis, mas porque são profissionais, responsáveis, e cumprem os juramentos que fizeram quando se tornaram os profissionais que são.

Nenhum deles é alheio ou insensível ao problema econômico e social que se aprofunda cada vez mais. Mas todos têm o compromisso de preservar a vida acima de tudo.

Quando pensar nisso, lembre dos médicos e enfermeiras intensivistas. E também dos médicos e enfermeiras de outras áreas, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas e atendentes de nutrição, psicólogos, farmacêuticos, recepcionistas, seguranças, ascensoristas, pessoal de higienização e de lavanderia, engenharia, manutenção, TI, tecnicos de Radiologia, grupo do laboratório, medicina ocupacional, compradores, administrativos, controle de infecção, gerência de riscos, motoristas, equipe de comunicação…

Não precisa aplaudir, não precisa elogiar. Apenas ficar em casa, cuidar de si e dos outros. Ah, respeitar também vai bem.

 

*Elisa Kopplin Ferraretto, Jornalista

Mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS.