Estudo inédito realizado por uma equipe internacional com a participação do professor Paulo Ott, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), descobriu onde se reproduzem as baleias-francas-austrais, que se alimentam em torno da ilha subantártica da Geórgia do Sul. Esse entendimento permitirá melhorar os esforços de conservação para a recuperação da espécie, após anos de caça. Os resultados foram publicados recentemente na revista científica internacional Journal of Heredity.
As baleias-francas-austrais foram extremamente caçadas por séculos até serem quase extintas. No estudo, o mais abrangente desse tipo já realizado, 30 pesquisadores de 11 países compararam o DNA de amostras de pele de baleias das ilhas subantárticas Geórgia do Sul com amostras coletadas no Brasil, na Argentina e na África do Sul, que são importantes áreas reprodutivas e berçários da espécie. Usando ferramentas moleculares de alta resolução, a equipe de pesquisadores confirmou que os animais observados na Geórgia do Sul nascem nas águas do sul do Brasil e da Argentina, e não na África do Sul.
Paulo Ott coordenou as coletas das amostras no Brasil e, de acordo com ele, a compreensão da relação entre as diferentes populações de uma espécie altamente migratória como a baleia-franca-austral somente foi possível devido à existência de uma rede internacional de colaboradores. As amostras do Brasil foram coletadas em parceria com pesquisadores do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) e do Instituto Australis.
A região de Torres, no Litoral Norte, foi inserida no estudo por ser privilegiada pela presença dos morros, o que facilita observação das baleias. No Morro do Farol, pesquisadores do Gemars e da Uergs desenvolvem o projeto Farol das Baleias, que monitora a presença da espécie no litoral gaúcho. Neste ano, o primeiro registro da espécie na região foi em 28 de junho, por um dos parceiros do projeto. De acordo com Ott, há uma grande expectativa em relação ao número de baleias que será registrado nesta temporada. As atividades do projeto devem ser intensificadas neste agosto, mas dependem da situação em relação às medidas de enfrentamento à Covid-19.