Porto Alegre, segunda, 16 de setembro de 2024
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Porto Alegre: Associação se posiciona contra liquidação da CEITEC

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Representante dos colaboradores apresentou projeções que mostram evolução da empresa (Foto: Leonardo Contursi/CMPA)

 

 

Júlio Leão da Silva Jr., representante da Associação dos Colaboradores da CEITEC (ACCEITEC), esteve presente na sessão virtual desta quinta-feira (27/8) da Câmara Municipal de Porto Alegre, durante o período de comunicações temáticas. Na oportunidade apresentou aos vereadores propostas de soluções que impeçam a liquidação da empresa, conforme previsto no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Federal.

O colaborador apontou que países liberais, como Singapura, conseguiram êxito nos seus projetos pois houve participação de política pública em semicondutores. “Se precisa de muito investimento que, por vezes, a iniciativa privada não tem”, disse Júlio. O orador trouxe dados de pesquisa da Associação da Indústria de Semicondutores dos EUA (SAI), que indica retorno de 16,5 vezes de cada dólar investido em semicondutores. “O Estado é importante para essa indústria se desenvolver. As empresas geram investimento no país e trazem retornos financeiros ao Estado”.

Júlio apontou que a CEITEC, inaugurada em 2009, dobrou seu faturamento entre 2017 e 2019 e exaltou alguns diferenciais da empresa pública. “É a única empresa no hemisfério sul que pode produzir passaporte eletrônico. A empresa tem 43 patentes desenvolvidas no país, além de duas nos EUA e uma na Europa. 57% dos colaboradores tem pós-graduações e pós-doutorados”, afirmou, alertando que a liquidação fará a CEITEC perder certificações.

Fluxo

“O PPI decidiu que deve liquidar a CEITEC pois, em 2024, o fluxo de caixa, em um cenário, será positivo e em outros três cenários será negativo”, falou, destacando que existe um custo aproximado de R$ 300 milhões para se desligar as máquinas da empresa, pois há diversos gases tóxicos, além da necessidade de se contratar uma empresa estrangeira para o desligamento. “Se esses R$ 300 milhões fossem investidos ao decorrer desse anos, a CEITEC seria lucrativa. O dinheiro que vai fechar ela poderia ser investido para positivá-la”, afirmou Júlio.

A apresentação trouxe ainda dados técnicos de como funciona a fábrica, que é dividida em Facilidades industriais, Frontend, Backend, e, segundo Júlio, “a sala dos chips é mais limpa do que qualquer UTI que vocês já entraram”. A associação propõe uma redução de custos, sendo R$ 4 milhões em custos operacionais e R$ 6 milhões em RH. “Hoje temos 180 colaboradores, 170 concursados. A redução de alguns CCs e de um nível hierárquico aumentariam a agilidade da empresa e diminuiria os custos”. Júlio ainda sugeriu modificação do setor de Frontend, desligando e vendendo alguns equipamentos e atuando no nicho de mercado de sensores para saúde e agronegócio.

Segundo o representante, uma projeção baseada em modelo de mercado, quantidades do que se pretende vender e os sensores, que estão em fase de protótipos, podem salvar a empresa. Júlio revelou que está em processo a homologação de um sensor para Covid-19, além de que a fábrica pode chegar a produzir 50 mil sensores por dia, “mais barato do que se há no mercado hoje”.

Sensores

A partir de 2013, a empresa começou a desenvolver, além dos chips, etiquetas eletrônicas e os sensores. A ACCEITEC acredita que, de 2019 para 2021, o faturamento vai dobrar, assim como foi de 2017 para 2019. “Desde 2017 estamos fazendo protótipos na área de sensores e vão entrar no mercado em 2021. Haverá uma inclinação mais íngreme pra cima na curva de faturamento, em função dos sensores”.

“A extinção da CEITEC é onerosa aos cofres públicos”, apontou Júlio, que ainda sugeriu uma parceria público-privada, em 2024, como solução para a empresa. A associação pediu a preservação da capacidade brasileira em semicondutores, retirada da CEITEC do processo de desestatização, adoção do plano de reestruturação elaborado pela ACCEITEC, ampliação da atuação na área de sensores para agronegócio e saúde.

Júlio acredita que, quando se fez o estudo do PPI, “já se tinha a decisão tomada, de liquidar a CEITEC”. O orador afirmou ainda que o estudo é incompleto, mas comemorou o fato de que “órgãos de controle do governo estão apontando essas irregularidades” e desejou que não chegue ao presidente Jair Bolsonaro “um decreto baseado num relatório incompleto, que tem problemas”.

Empresa

A CEITEC (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) é​ uma empresa pública que está vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), do Governo Federal. Atuante no segmento de semicondutores, a empresa projeta, fabrica e comercializa circuitos integrados para diferentes aplicações. Localizada na ​​​​Estrada João de Oliveira Remião, 777, bairro Agronomia, zona leste de Porto Alegre, a CEITEC é responsável pelo desenvolvimento da indústria de microeletrônica do Brasil.​

A empresa também atua nas áreas de projeto de dispositivos, desenvolvimento de produtos, pesquisa e desenvolvimento e microfabricação de dispositivos eletrônicos, sensores, entre outros. A CEITEC tem atuado principalmente em cinco frentes: identificação patrimonial e logística, segurança e identificação pessoal, identificação veicular, identificação animal, e saúde. A fábrica da empresa tem capacidade para produzir cerca de 70 milhões de chips por ano.

Vereadores

Após a manifestação do representante da Associação dos Colaboradores da CEITEC (ACCEITEC), vereadores fizeram os seguintes colocações:

IMPORTÂNCIA – Mauro Zacher (PDT) disse que já tivemos experiências muito frustrantes de tentar colocar a indústria brasileira em nível mundial, e que a CEITEC representa o papel do estado em fomentar aquilo que pode trazer à nossa economia mais complexidade para aquilo que produzimos. “Empresas de alta tecnologia são investimentos de alto nível, fundamentais para uma cadeia que envolve o setor produtivo do país. É uma conquista também do povo gaúcho, por ter uma desse porte aqui”. O vereador também citou a Embrapa, uma empresa pública que fomentou a chegada de outras empresas para investimento em tecnologia. “Entendam que a CEITEC tem um papel estratégico para o presente e futuro do nosso país, com experiências que podem trazer uma grande diferença para a economia.” (LMN)

COMUNIDADE – Marcelo Sgarbossa (PT) trouxe a questão da comunidade da Lomba do Pinheiro, que está muito preocupada com a venda da CEITEC. “Em 25 de junho eles fizeram, junto com lideranças de toda cidade, um abraço simbólico como protesto. A relação da empresa com essa comunidade é muito forte e a abertura dela foi muito festejada por todos. Começaram até a chamar de Lomba do Silício.” Ele disse que a instalação remete a um momento de ousadia, por não quererem mais ficar reféns da alta tecnologia de outros países. “O Brasil ainda precisa se desenvolver muito nessa área.” Para finalizar, o vereador falou ter ficado feliz com o posicionamento de Reginaldo Pujol (DEM), ao apontar a venda como um erro, e disse que a bancada do PT está nessa luta. (LMN)

INVESTIMENTO – Adeli Sell (PT) disse estar mais envolvido no tema desde 2003 e comentou sua participação em um grupo que discutiu a transferência de uma escola estadual para que o CEITEC fosse construído na região. “É uma grande empresa que pode prestar inestimáveis serviços ao povo. Vale muito mais que uma fábrica de automóveis e tem muito investimento. Não só em dinheiro, mas em inteligência.” O vereador falou que, nos últimos 25 anos, houve muito avanço na área das ciências e tecnologias na região metropolitana de Porto Alegre. “Hoje já temos 6.000 CNPJs apenas no Tecnopuc, com várias empresas incubadas e startups.” Elogiou o trabalho do presidente Pujol (DEM) com autoridades a nível nacional e sugeriu a construção de um manifesto, em conjunto com os demais vereadores, para a defesa da CEITEC. (LMN)

CAPACIDADE – Airto Ferronato (PSB) disse que seu partido tem uma história muito próxima da CEITEC e que ele tem acompanho suas atividades com muita atenção. “É uma empresa de alta tecnologia, e sabemos tudo que foi necessário para que ela conquistasse a capacidade que tem. Com seus servidores e todo o conhecimento acumulado construído ao passar do tempo.” Falou que a sua preservação não é importante apenas para a população de Porto Alegre, mas sim para toda a comunidade brasileira. “Estamos todos juntos nessa e apoio a proposta do vereador Adeli Sell (PT) de apresentar um manifesto público a favor da CEITEC.” (LMN)

PARTICIPAÇÃO – Idenir Cechim (MDB) também destacou sobre o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) e indagou se a prefeitura ainda tem participação de 10% dos recursos. “Quero saber sobre isso, pois o Ceitec precisa mostrar muita coisas ainda. Quero saber quanto os 160 funcionários custam por ano. Não aceitamos um cabide de emprego”. (PB)

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