Porto Alegre, sexta, 17 de maio de 2024
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Dezenas de denúncias de assédio no trabalho envolvem CIDH e OEA em escândalo de conotação política; El País

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Mais de 60 ex-funcionários denunciam o comportamento do secretário da Comissão, Paulo Abrão, que Luis Almagro decidiu não reconduzir ao cargo. JUAN MANUEL HERRERA / OEA

 

 

A Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) estão em uma encruzilhada sem precedentes nas organizações multilaterais da América Latina. O freio por parte da OEA à renovação do contrato de trabalho do secretário executivo da CIDH, Paulo Abrão, abriu uma série de questionamentos sobre a independência do organismo que defende os direitos humanos na região e, por sua vez, desvendou uma série de denúncias de assédio no trabalho por funcionários da Comissão.

A estabilidade entre os organismos latino-americanos foi rompida em 15 de agosto, quando o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, avisou a CIDH que não apoiaria Abrão para um mandato de quatro anos à frente da instituição de direitos humanos poucas horas antes do término do contrato do secretário executivo. O anúncio abriu caminho para uma série de críticas à independência da CIDH por parte de países como México e Argentina, bem como de organizações latino-americanas de direitos humanos. A explicação levaria mais de 10 dias a chegar: pelo menos 61 funcionários e ex-funcionários da CIDH haviam apresentado queixas contra Abrão por assédio no trabalho perante a OEA.

Almagro explicou em um comunicado no dia 28 de agosto que as acusações contra Abrão revelavam “uma situação muito grave”. Cerca de 12 denunciantes publicaram uma carta ―em poder do EL PAÍS― em que explicam que as denúncias contra Abrão foram apresentadas a Almagro e à ombudswoman da OEA, Neida Pérez. Os ex-trabalhadores afirmam que, nos últimos anos, Abrão participou de ações que resultaram em “abuso de poder, assédios, retaliações, humilhação pública, subtração injustificada de funções, perda de cargos e discriminação em relação a outras pessoas de cargos similares”, e que essa série de comportamentos os levou a renunciar ao perceber que o ambiente tóxico em seu lugar de trabalho havia afetado sua saúde física e mental.

Boa parte das denúncias foi apresentada antes de janeiro de 2020, quando os sete membros que compõem a CIDH aprovaram por unanimidade a prorrogação do novo mandato de Abrão. Ex-trabalhadores consultados por este jornal confirmaram que as denúncias tinham sido um assunto recorrente tanto na OEA quanto na CIDH, mas que uma investigação formal nunca prosperou e o êxodo começou. Além disso, descreveram um ambiente de trabalho em que a intimidação prevalecia. “Tinha ataques de pânico entre o café da manhã e a saída de casa para o trabalho”, conta uma delas, que falou na condição de anonimato, por temor a represálias. “Estava quebrada psiquiatricamente”, acrescenta. O EL PAÍS questionou Abrão sobre as denúncias, sem obter resposta.

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